Mãe: expressão de escolha consciente e responsável

Qual é o papel da mãe na sociedade? Educar? Transmitir valores? Dar afeto e atenção? Creio que não seja só isso. Todas as indagações acima são papéis de qualquer ser humano agente na sociedade brasileira. Para a mãe é reservado algo ainda maior. A conquista da maternidade presente em cada mulher. A potencialidade de gerar um ser humano. Ser co-autora da vida.

Antes de ser mãe ativa na sociedade, vivenciando responsabilidades externas ao lar, a mulher precisou romper as barreiras da “dominação masculina”. As guerreiras feministas do séc. XIX tiveram papel importante para que muitos paradigmas fossem rompidos. Lembremos que durante muito tempo as mulheres não tinham sequer o direito a um nome. Eram propriedades dos maridos, subjugadas à condição de “escravas do lar” - as donas de casa - que na atualidade conquistaram, por meio de manifestações, organizações e associações, o direito há uma aposentadoria e lutam por um projeto de lei que lhes garantam um salário. Nada mais justo, pois trabalhar em casa não é nada fácil. É trabalho árduo que também foi feito para o homem. Não é privilégio da mulher.

Apesar de a mulher, no passado, ter conquistado seu lugar na história, dentre outras ações importantes, trabalhando nas fábricas e nas indústrias por até 15 horas diárias, fazendo valer o fenômeno da mais valia (trabalhar muito e ganhar pouco), a exploração que ela sofreu no mercado de trabalho ainda se faz presente. Alguns homens “embrutecidos” insistem em culpá-la por acreditarem que os seus próprios atos são motivadores dos preconceitos que sofre. A questão é que a mulher foi educada desde cedo para ser submissa, como nos revela a pesquisadora Eliane Gianini Belotti em seu livro “Educar para a submissão – o descondicionamento da mulher”.

Porém, existiram mulheres que foram pioneiras no descontentamento da crença: “o mundo masculino tudo me daria, o que eu pudesse ter”, como a poetisa Louise Labe, que viveu entre 1522 a 1566 e escreveu em sua única obra, coisas como estas: “as severas leis dos homens não mais impedem as mulheres de se aplicarem as ciências e as disciplinas. (...) aquelas que têm facilidade devem empregar essa honesta liberdade que nosso sexo antigamente tanto desejou para cultivá-las e mostrar aos homens o equívoco em relação a nós quando nos privavam do bem e da honra que delas podiam vir”. Uma mulher a frente do seu tempo.

Mas, espera aí, que história é esta de ser educada para a submissão?

Observemos. Estamos imersos num mar de convenções sociais. Desde cedo o menino recebe de forma simbólica as informações e os atributos de ser forte. Menino não chora. A sensibilidade é desprezível, inferior e negativa. Já a menina pode ser frágil, sensível e pacífica. Nada contra, mas por que a diferença? Biologicamente somos diferentes, mas socialmente isso não se justifica. Atributos, masculinos e femininos, são valores intrínsecos a qualquer ser humano independente do seu gênero. Por que o menino não pode chorar, gostar de rosa, ser sensível? Por que a menina não pode gostar de bola, do azul e ser forte?

Neste contexto, diante da adolescência, a questão do “Qual é o momento mais adequado para ser mãe?” que costuma preocupar tantos pais, deveria ser resultado de uma escolha madura oriunda de diálogo, necessário para que essa menina (e também o menino que será pai) seja feliz e pessoa bem resolvida. Repressões costumam levar a escolhas equivocadas.

___Então, ser mãe é uma escolha? perguntaria uma adolescente.

Sim, uma das escolhas mais responsáveis que existe na vida. Não se trata de brincar de boneca. As meninas precisam conversar abertamente com os seus pais sobre sexo e os cuidados que devem ter com o seu corpo, sobre o respeito que devem ter por si mesmas. Quebremos o “tabu”. Não falar sobre sexo aumenta a desinformação e a falta de consciência. Dialogar sobre sexo, em vez de incentivar a prática sexual, possibilita autoconhecimento e escolhas conscientes, para que antes de serem mães, as meninas se tornem adultas responsáveis. Centenas, para não dizer milhares, de adolescentes, por causa da falta de diálogo, são surpreendidas com a gravidez precoce.

E não se diga que a solução se resume no uso ou não do preservativo. Tenhamos um olhar mais crítico e sensível para os comerciais da televisão. As publicidades “preventivas” do Governo acabam incentivando, de forma subliminar, a promiscuidade e a compulsão sexual. Para evitar as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez basta usar a camisinha? Nossa! É subestimar a nossa racionalidade. Queremos uma educação sexual séria para os nossos jovens.

A Campanha da Fraternidade de 2008 da CNBB, cujo lema é “Escolhe, pois, a vida”, nos chama a atenção para uma das conseqüências sociais mais graves de gravidez precoce: o aborto. O aborto vem sendo praticado de forma velada por várias jovens e até adultas. Os números são alarmantes. Chega a ser um “infanticídio invisível”. Em vez de jogarmos as nossas crianças despenhadeiro abaixo como faziam os romanos, estamos jogando latrina abaixo, o que é pior.

Qual é o valor da Vida? O que estamos fazendo enquanto educadores para que a Vida seja mais valorizada? Costumamos dialogar com as nossas jovens?

Que possamos auxiliar na formação de mães (e também de pais), imbuídos de bons exemplos, na construção desse novo mundo de paz e esperança que almejamos deixar com amor para as nossas futuras gerações.

Rudolf Rotchild, Sociólogo e Animador Cultural.

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