ENSAIO SOBRE A TRANSPARÊNCIA

A D. Margaret Tatcher disse com todas as letras que o estado é um mal.

Seu gigantismo gera lentidão, burocracias que atrapalham nas decisões e descontroles, que por sua vez, geram corrupções em vários níveis. A única arma da sociedade para combater estes males, deve ser a transparência.

A luta pela transparência não deve ser atribuída apenas aos parlamentares e setores mais esclarecidos da sociedade, mas deve ser uma luta de todos sem que seja suja pelos matizes ideológicos. Não devemos nos calar, ou relativizar os fatos negativos, mesmo se as transgressões forem cometidas por aqueles que são ideologicamente identificados com nossas aspirações. Também corrupção não é algo pontual, como se quem a cometesse, não a praticasse nunca mais. Se alguém praticou atos que lesam a nação, certamente poderá já tê-los cometido antes e poderá repeti-los mais tarde, bastando, talvez, ter a oportunidade.

Devemos lembrar que não há pessoas meio honestas. Tenha sempre a honestidade como única linha de julgamento dos valores na política, mesmo que te pareça injusta.

A imprensa tem um papel fundamental na divulgação dos desvios de conduta e na pressão para divulgação dos fatos, mas é a sociedade com seu poder silencioso do voto, é que pode fazer a diferença. Não reelegendo aqueles cuja conduta, quebraram os códigos da moral e da ética. Este julgamento poderá parecer injusto às vezes , repito, mas nestes casos, deve-se seguir os ditames do velho ditado, de que se você ouviu que a mula manca, não a compre, mesmo que seus olhos digam o contrário. Compre outra.

Os poderes estatuídos,sejam eles, oriundos das classes dominantes como sempre foi em nosso país, ou das classes mais humildes, como agora, quando pessoas da classe média, administram a coisa pública, eles sempre tenderão a tomar decisões para beneficiar grupos que os apoiam, em detrimento dos interesses da nação, sempre que se encontram por de traz das cortinas da falta de transparência.

Assim tendem a cometer os mesmos erros do passado que criticavam e jogam o mesmo jogo, de camuflar fatos que não interessam que sejam divulgados. Os deslizes da direita são conhecidos, mas a esquerda também nos brindou com mensalões, gastos abusivos em cartões corporativos, Petrobrão etc..só para falarmos dos acontecimentos mais recentes ou mais contundentes.

O fato é que os políticos deste país e de qualquer país, tem se mostrado serem "Farinha do mesmo saco", quando estão no poder e quando se trata de tirar proveito das situações em benefício próprio ou para favorecer grupos econômicos ou de apaniguados políticos. A política é predominantemente corporativista.

Também nenhum governante tem domínio total sobre a máquina pública em seus diversos escaninhos de poder, daí a frase capilar de D. Margaret, de que o estado é um mal e que a melhor maneira de controlá-lo, deve ser reduzir suas atribuições e deixar a cargo de setores privados, sociais e econômicos muitas das atribuições que são hoje, exercidas por ele, uma vez que estes se auto controlam.

Na America Latina, o estado, fruto de um pensamento historicamente oligarca e controlador, sempre exerceram um papel predominantemente centralizador e distribuidor das benesses públicas, como forma de dominação. Neste mister, sempre exercitaram de forma covarde o descaso aos investimentos em educação e saúde, como forma de não interromper a formação nas massas pobres, que são gritantemente maioria em todos os países latinos, e assim não permitir a capacidade de formar juízos de valores e delimitar o poder de reivindicar com maior discernimento aquilo que é obrigação do estado fornecer. Lamentavelmente a esquerda no Brasil do Fernando Henrique, do Lula, na Venezuela do Chaves ,do Equador, enfim, qualquer outra nação que tenha experimentado um governo de esquerda, tem agido da mesmíssima maneira, que sempre agiram os cânones da direita dita, maldita. Aí está o programa fome zero para não me desmentir, agora alterado para bolsa família, que é uma versão integrada dos programas sociais criados pelo governo FHC. Não fosse isso, de onde viria a popularidade do Sr. Lula? Quanto melhorou a educação neste país nos últimos 50 anos? Francamente, não acredito, que dar ajudas aos pobres possa resolver o problema da pobreza a longo prazo, assim como não acredito que dar cotas aos pobres nas universidades, seja um passo muito largo para resolver nosso brutal déficit educacional. Sâo programas importantes, mas não resolvem a questão e não devem deixar o governo de braços cruzados achando que já resolveu o problema da miséria ou da educação. O que vai resolver é criar um programa educacional amplo, triplicando as verbas para a educação, valorizando nossos professores e desenvolvendo o país para que a classe pobre se integre socialmente através de bons empregos e boa educação. O Brasil sempre ocupou um sofrível lugar no ranking dos países, quando se trata de comparar o montante investido em educação versus o PIB ou quando se mede o nível educacional do país em comparação a outros países. Perdíamos até da Bolívia. Isto mudou?

Todos sabemos como agem os políticos. Com todo oportunismo possível, tudo em nome da chamada inteligência política e manutenção da popularidade. A política virou a arte dos sabidos neste país e não a forma pública de exercitar o poder com transparência e justiça e desenvolvimento para todos . Assim, os deputados em nosso país, foram diminuídos de homens públicos a lobistas de plantão, a serviços de causas pessoais ou de grupos econômicos ou partidários. A política também diminuiu de interesse e importância, porque os homens fazem da política uma coisa menor. Esta última eleição, pela polarização acirrada entre PSDB e PT acabou por despertar, principalmente nos defensores de uma esquerda menos radical e menos populista que era a proposta do PSDB, de uma nova onda de militantes contundentes, nas redes sociais, até então só conhecida nas hostes petistas. Se isto vai continuar não sabemos, mas o fato é que o acirramento da campanha despertou um interesse novo dos jovens pela política, seja para defender os programas sociais do atual governo, seja para atacá-lo naquilo que apresenta de sórdido, que é o aumento exagerado da corrupção, próxima aos muros do poder. Esta cobrança, deve continuar e seria uma pena, que não continuasse, pois força os políticos a terem aquilo que pregamos como essencial na política e que defendemos neste artigo, a volta da transparência, sem o que nenhuma democracia é perfeita e se não é perfeita, dará margens a grupos radicais de mostrar suas garras e dentes contra ela. É precisamente a democracia que devemos defender com unhas e dentes acima até das nossas ambições partidárias. Digo para que me ouçam. Ou temos democracia, ou teremos o esgoto das ideias.

A transparência é assim, a alma da democracia sem o que ela não subsiste. O progresso educacional, econômico e social das pessoas é fator decisivo para se eliminar o voto pelo estômago para o voto pelas ideias. Todas as possibilidades de aperfeiçoamento democrático deve ser perseguidas. O fim da reeleição para presidente, me parece uma destas medidas de caráter saudável, para se evitar que o poder econômico da máquina pública nas mãos do presidente seja usado para reelegê-lo, com desvios das prioridades de gastos, que deveriam, apenas contemplar o que foi previsto no orçamento. Esperamos que a reforma política, implemente esta medida em caráter de urgência.

A nível de congresso, a coisa é ainda bem pior. Não podemos ter complacência nem memória de inseto com estes sujeitos que fazem o poder legislativo. Temos que prestar atenção neles e eleger aqueles que nos parecem mais honestos e probos, daí o avanço da ficha limpa, que deve ser ainda melhorada e desancar o pau em todos aqueles, flagrados pela mídia com a mão na botija, não reelegendo-os em hipótese alguma. Se não temos mecanismos para acompanhar o desempenho legislativo de cada um, o mínimo que estes cidadãos nos devem é a probidade e a decência moral.

A pressão nas instituições democráticas, como congresso e poder executivo é uma afirmação de patriotismo de cada um de nós e dos valores intransferíveis de nossa sociedade, portanto, devem ser cultivados e defendidos não somente no período eleitoral, mas todo o dia, como forma de resgatar nos homens públicos, os valores que cremos, subjugados pelo interesse partidário ou econômico e subtraídos do povo de uma maneira inescrupulosa, sob o manto da falácia que não temos memória nem cérebro.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 28/04/2008
Reeditado em 09/11/2014
Código do texto: T965589
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