POSSE NA ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS

Sinto prazer em escrever sobre a posse de Ana Medina na Cadeira número 16, onde reinou Ofenísia Freire. Duas mulheres professoras, duas sacerdotisas das letras. Friso o artifício da palavra no discurso de Ana, quando, humildemente, diz do seu “apoucado brilho que destoa em meio à luz que emana deste firmamento pontilhado de estrelas que sois vós, os luminares das letras sergipanas”. O que vimos foi o intenso fulgor da palavra do novo astro que ora ilumina o espaço acadêmico.

Não a compararia à própria Ofenísia, nem a Camões e nem a outro qualquer, pois cada um tem o seu estilo de incendiar. O incêndio de Ana, em sua peça literária digna de qualquer cenáculo no mundo, foi o do fogo da palavra extasiada em se encontrar de tal forma cuidada, lavrada, polida, pronunciada. E em fogo sagrado endeusada.

Ricamente vestida e ornada em sua “clâmide inconsútil”, Medina nos deu a mão e nos trouxe da antiguidade clássica até Ofenísia. Em seu caminho pelo mundo e pelo tempo, não esqueceu e nem tratou de forma menor o seu berço amado, Boquim. Em uma ciranda de iguais, a estrela incrustada no firmamento da Academia Sergipana de Letras, trouxe vivíssimos Góes Duarte, Exupero Monteiro, Pedro Calazans, Hermes Fontes, Abelardo Romero. Fez mais, descobriu onde se encontrava Ofenísia e a trouxe, veio com a mestra de braços dados. Mais ainda, trouxe consigo convidados das letras da Alemanha, da França, da Espanha e de tantos outros países. Naquela festa do pensamento e da literatura, a própria Imortalidade se superou. E se encantou.

Ana Medina abraçou carinhosamente a esquecida classe dos professores, e levantou o mais alto que pôde os mestres que ajudaram a construir sua coroa de louros e sua tiara de diamantes. Apresentou-se digna e tratou de forma igual aos Poderes instituídos presentes à sua aclamação e a qualquer um ser mortal ali dominado pelo poder da linguagem. Caminhou de pés descalços. Que pena Carlos Britto não ter visto o que vimos. Por certo faria um belo poema e colocaria borboletras de todos os matizes e pássaros de canto mavioso pairando sobre a ciranda apaixonante das palavras.

Disse Ana não ser poeta e nem eleita pelas musas, não ter o dom da estesia e ser o seu estro opaco e “sem o colorido que encanta os olhos e ressoa em ondas diáfanas pelos recônditos da alma”. Novamente se ajoelhou a Acadêmica porque, verdadeiramente o discurso pronunciado é pura poesia, um texto marco e difícil de ser superado, muito difícil, tanto pela sua estrutura e estética quanto pelo seu conteúdo.

A agora consagrada na Cadeira 16 teve a sua recepção arrematada no discurso ao mesmo tempo histórico, analítico e carinhoso de Dr. Jorge Carvalho do Nascimento. O Imortal recebeu da forma mais politicamente correta, a sua colega Ana Maria N. Fonseca Medina.