Amor Bandido
Duas tristes figuras.
Saudosas dos ímpios parceiros,
angustiadas por terem
jogado fora suposta felicidade.
Vítimas e algozes,
iguais em defeitos,
nenhuma virtude.
Companheiros nos desvios,
percebendo ter pela frente um igual.
Irresponsabilidade ou falsidade.
Predadores que se dissimulavam
com vestes de presa.
Uma tamanha mistificação
que beiravam a hipocrisia.
Pegos em flagrante delito,
ambos culpados.
Duas serpentes
que inocularam seus venenos,
querendo, mas não tendo
autoridade moral
para acusar o outro pelos pecados,
prejudicando-se fraternalmente.
Algo dramático.
Na impossibilidade
de fingir o tempo todo,
o aparecimento da contradição,
o germe do conflito.
Amantes dos interesses e conveniências.
Mas um dia, fim de caso,
numa estratégia agressiva
foram-se, cada um
para um lado diferente
a perturbar o destino
de outros pobres desavisados.
Mas qual nada, ficará o desejo,
afinidades não se escolhem, se tem.
Então uma tortura fazer
o que não desejavam,
estando em outros braços.
Com os corações ocupados
por indesejáveis inquilinos,
como suportar a ausência?
O coração discorda do cérebro.
A razão se aninha na ambição,
mas os sentimentos
só sabem querer, não aceitam clausura.
Mesmo que valorosos combatentes
das hostes da dissimulação.
Mesmo sabendo-se doenças,
eram como benignos remédios,
um para o outro.
Encontraram, por linhas tortas,
uma estranha felicidade
de um‘amor bandido’.