Carro de boi com seu gemido triste
Já não se vê passando no estradão
Já não se ouve o grito do carreiro
Já não se vê porteira no grotão.
Sinto saudade do velho berrante
Que parecia uma triste canção
Hoje está mudo e virou relíquia
Sobre a parede de uma mansão.
Se eu pudesse, estaria carreando
Com o meu carro cantando lá no alto do espigão
Enquanto as rodas duetavam seu gemido
Ouvia um berrante doído ecoando no sertão.
Esse carro logo ali na frente
É uma herança que guardo comigo
Gravou-se tantos anos de rodagem
No eixo fino já quase partido.
Aqueles bois seguiram seu destino
Numa jamanta para o triste fim
O que me resta é o carro velho
Emudecido e triste em meu jardim.
Se eu pudesse, estaria carreando
Com o meu carro cantando lá no alto do espigão
Enquanto as rodas duetavam seu gemido
Ouvia um berrante doído ecoando no sertão.