Apagão! De novo?

 

Apagão! De novo?



O Brasil teve, novamente, uma noite à luz de velas e, infelizmente, nada houve de romântico nisso. O Estado e o povo convivem, há séculos, numa relação mais do que turbulenta porque, entre tapas e beijos, o que reina neste país é a desconfiança.

Acima e além de qualquer questão ligada a sistemas de governo, correntes ideológicas ou paixões político partidárias, esta nossa terra padece de uma crônica deficiência cultural. Desde as Capitanias Hereditárias, quem está no poder busca vantagens para si em detrimento do interesse e do bem comum e, em face de quaisquer problemas que afetem a nação, o que se vê são explicações estapafúrdias, desculpas esfarrapadas e eternas promessas de ampla investigação para enfrentar questões cruciais que invariavelmente são empurradas com a barriga.

Em princípio, no caso do blecaute ocorrido na noite de dez de novembro de 2009, as coisas não são muito diferentes. Correm as autoridades para desvincular os motivos da interrupção generalizada do fornecimento de energia daquelas causas que teriam provocado problema similar nos idos de 2001. Naquela época o governo era outro e a falta de investimentos teria gerado uma insuficiência de geração de energia. Nestes novos tempos, os donos do poder garantem a plena suficiência no sistema de geração e apontam o sistema de transmissão como uma vítima de “questões atmosféricas”, jurando que tudo está perfeito e que a infraestrutura energética no Brasil é robusta e confiável.

Ora! Convenhamos que o Brasil não está sujeito a tufões, furacões e nevascas e, sinceramente, é duro ter de engolir que raios e tempestades não sejam manifestações corriqueiras da natureza que não possam ser assimiladas sem maiores sobressaltos pela tecnologia disponível. Remanesce, assim, a inevitável desconfiança de que tenham ocorrido problemas de manutenção da rede. Aliás, como não pensar assim? O Brasil não cuida de suas fronteiras, de suas matas, de suas estradas, de sua rede ferroviária e, assim, parece lógico que não seja capaz, também, de cuidar de seu sistema de transmissão de energia elétrica.

Fico aqui imaginando que, se fôssemos alvo de algum atentado terrorista ou tentativa de invasão estrangeira, nossos inimigos não teriam de desperdiçar uma bala sequer. Bastaria cortar um fio ou derrubar alguma torre em algum lugar no meio do Brasil que o país ficaria novamente tateando no escuro.

Pode até ser que tudo seja uma fatalidade imprevisível e que a chance de recorrência seja mínima. Porém, não é possível confiar em governantes – sejam eles quais forem e que cores vistam – que sistematicamente mentem para o povo, encobrem suas falhas e varrem a sujeira para debaixo do tapete.

No Brasil, o apagão crônico é o da credibilidade da administração pública e, ao que tudo indica, parece não haver uma luz no fim do túnel.

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