Agonia da Noite

 

Ah! Já sei. Acho que vou deixar esse negócio chato aqui.
Não consigo progredir, não saio da lição
dez
Este método ultrapassado de Violino!
Vou ver Vênus com toda a sua exuberância em
maio
E o seu filhotinho flutuando em torno…

Arrasto o meu telescópio empoeirado para fora.
As lentes estão imundas.
Caço uma flanela úmida para depressa limpar-lhe as vistas…
Posiciono-o e delicio-me com aquela bola enorme
Flutuando no céu de Bangu entre duas montanhas lindas
Que enriquecem a já deslumbrante paisagem do meu Rio de Janeiro…

Canso, logo canso.
Que chatice esse negócio de ficar madrugada adentro
Observando uma coisa que está lá, no céu, desde sempre.
Retorno meio sem rumo.

Mas já é alta madrugada meu Deus, murmuro.
Por que não vou dormir, penso.
Sento-me na cadeira de praia gelada pelo orvalho da noite.
Agarro o violão que está ao lado
E começo a fazer aquelas escalas infindas
Exercitando os meus dedos ligeiros
Que de tão
afoitos logo devolvem o sofrido magrelo
Para a sua forca na parede…


Ele fica lá, balançando como um pobre condenado
Daqueles antigos filmes de cowboy
Que eu assistia na televisão preto-e-branco
Da sala de minha irmã Sara
Já que lá em casa papai não permitia televisão, coisa do demo…

Ai meu bom Deus, estou divagando nesta madrugada desconexa…

Matemática, filosofia, romances, Bíblias…
Muitas delas emparelhadas, da menor para a maior
Como estivessem perfiladas em ordem-unida do quartel
Imagem que assalta sem aviso as minhas lembranças pândegas
Depois que vislumbro a minha espada e quepe presos na parede…


Agora cá estou eu, depois do violão
Olhando aleatoriamente os meus livros arrumados na estante…
Sono, que nada… Nada de dormir… Nada de descansar…
Estou ligado… Estou acordado… Ai que chato…

Não resisto e religo o notebook pra tentar,

Talvez pela última vez
Vê-la linda como sempre…
Estou viciado em sua imagem…
Que se não olhá-la, mesmo que de relance e rapidamente…
não durmo…

Ufa.. Agora vou dormir…