Meu Pai, Meu Herói

Publicado por: Zeni Silveira
Data: 05/10/2012
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Créditos

“Meu Pai, Meu Herói”; Por Zeni Silveira. Com Vozes e Efeitos de Guto Russel. http://www.mikrofomaudios.com/
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Meu Pai, Meu Herói
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 Pai, o que lhe diria se o encontrasse hoje? Talvez nada. Só queria a oportunidade de abraça-lo e pedir perdão, perdão por erros que talvez eu nem tenha cometido.
 Mas você mentiu pra mim pai, mentiu quando fez promessas que não podia cumprir, quando prometeu me apresentar ao mundo e do nada foi embora me deixando sem chão, mentiu quando jurou que ninguém nunca me magoaria, quando optou por ir morar no céu e me deixou sozinha...
Você não teve opção de escolha meu pai, mas eu era muito criança para entender. Acho que ainda me vejo criança quando penso em você, em nós dois.
 Hoje me recordo dos anos que passamos juntos e choro de saudade. Ainda me vejo menina, correndo ao lhe ver chegar na porteira da fazenda... Eu corria ao seu encontro e você  sempre apertava as rédeas do animal para fingir que eu podia com minha debelada carreira alcançá-lo. Nestas ocasiões você me pegava pelo braço e me sentava em sua cela. Cavalgávamos da porteira ate a casa grande, eu vinha toda orgulhosa me sentindo uma princesa.
 Foi tão curto nosso tempo juntos, pai... Mas hoje recordo de cada detalhe dos dez anos que Deus me deu ao seu lado. O pouco que consegui aprender com você, trago como herança ate hoje, a melhor coisa que me deixou foram estes momentos que se eternizam em mim.
 Pai, com você aprendi a sorrir, ser feliz ao seu lado era uma realidade que em minha cabeçinha de criança seria eterno! Lembro das broncas que mamãe lhe dava quando sem o consentimento dela me levava para pescar  em noites claras, lembro até do primeiro peixe que veio em minha vara , do nosso abraço e de toda minha felicidade...
Hoje sei que foi na sua que aquele peixe veio e você com sua agilidade de pai soube trocar e deixar que eu acreditasse que tinha sido eu a pescadora, mas só te tornou ainda mais especial para mim, meu pai. Eu agora pesco com a mesma agilidade que você fazia.
 Sabe pai, não lembro com exatidão a primeira vez que me colocou sobre um cavalo, mas claramente lembro da ultima quando já montava sozinha, hoje recordando aqueles tempos, entendo porque estava sempre ao meu lado com o seu puro sangue, enquanto eu me sentia uma princesa em meu pônei que você trouxe de tão longe para me presentear quando completei 8 aninhos. Você fingia que confiava em mim, mas não saia do meu lado, hoje sei que por medo que eu caísse.
E caçar meu pai? Como foi divertido ver mamãe aos prantos quando chegamos com um pássaro morto e você exibindo como um troféu dizendo que tinha sido eu a atirar! Tudo mentira! Você jamais deixaria eu pegar na espingarda de caça. Enquanto eu contava vantagens a meus irmãos, você tentava explicar a mamãe que tudo era uma brincadeira. Lembro quando me ensinou a nadar ,lembro que brincávamos no rio e você sempre ficava pra traz, me fazendo acreditar que nadava mais rápido. Há meu pai... Como fui feliz nestes 10 anos que passamos juntos!
Sabe, me tiraram todas as oportunidades que eu tive de viver em contato com a natureza, hoje para pescar tenho que ir a um PAGUE E PESQUE, para montar tenho que alugar cavalos em haras. Caçar? Impossível! Me tiraram a alegria de viver meu pai, me tiraram ate o direito de ir e vir...
 Hoje vivo enclausurada em uma cobertura que fica em uma selva de pedras, trocaria cada metro quadrado daquela cobertura pela oportunidade de voltar a viver em nossa fazenda... Mesmo com minhas memórias curtas, e acreditando ser o monstro que me fizeram acreditar que era, foi em você que pensei quando ergui meu canudo no dia de minha formatura! Sim meu pai, foi em você que pensei quando pela primeira vez dirigi sem precisar de um instrutor. Sabe aquelas coisas simples de criança que não me ensinastes? Não aprendi ate hoje, acredita que nunca aprendi a andar de bicicleta?
 Então pai, na fazenda não tinhamos esta necessidade, e quando fui trazida para esta grande selva de pedra, você já não estava mais aqui para me ensinar. 
Há pai, trocaria toda herança que me deixaste pela oportunidade de te ver sorrir , e uma única vez ouvi-lo me chamar de “Minha Princesinha”.
 Foram tantos os anos que me deixarão no escuro, tantos os anos que passei a te odiar... Me fizeram acreditar que você era um mostro pai, conseguirão apagar minhas doces lembranças! Me tirarão o direito de lhe dar um ultimo beijo, enquanto lhe tiravam o direito de um funeral digno.
 Mas minhas lembranças voltaram pai! Hoje lembro de tudo que aconteceu naquela fatídica noite, onde entre trovões e relâmpagos, acordei para ver meu sonho de criança se apagar através de dois tiros, onde foi ceifada a sua vida e a vida de mamãe.
 Por todos estes anos me fizeram crer que naquela noite você era o monstro. Te enterraram sem honras e nem glorias, mas hoje eu me lembro... Você não era o mostro, nunca foi, sempre me ensinou a vencer, sempre foi meu grande herói!
 
Nada acontece por acaso, foram 16 anos no escuro pai, 16 anos te odiando por um crime que não cometeu, mas Deus com sua infinita sabedoria colocou em minha vida uma pessoa bem especial! E com o carinho e compreensão que ele a mim dedicou, conseguir reaver minhas lembranças apagadas, e hoje juro meu pai... Eu juro que estas mesmas pessoas  que apagarão minha memória e cuspirão em seu tumulo, serão obrigadas a erguer um monumento em praça publica em sua homenagem.
Te amo pai, meu pai...
 
Assinado, sua eterna Princesa, Zeni Silveira...


Zeni Silveira
Enviado por Zeni Silveira em 07/08/2012
Reeditado em 20/10/2012
Código do texto: T3817768
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