A Vista para Alem do Muro

A Vista para Alem do Muro

O grito abafado na minha garganta,

Apagou toda a luz, e calou o pássaro que já não canta,

Esqueceu o dia e os milagres da natureza,

Corta os momentos que riscam a folha com a incerteza,

E a Lua que continua acesa, é um pálido recorte no escuro,

O sinal que resta, do pouco que se vê do meu muro.

Esse continua meu confidente,

Esse muro que ora é obstáculo, ora é a companhia presente,

Ouve meu lamento e me escuta sem dizer não,

Não me vira as costas, não me recrimina, nem faz sermão!

As rimas do poema saem desordenadas,

Entre palavras falsas e mal amadas,

No limiar da demência e da loucura,

Fico rendido no fogo que me consome toda a frescura,

Num vai e vem de sons que me assaltam o dia,

E levam-me a razão sadia, lançam-me às feras da solidão,

Onde escondo o amargo nas sílabas do refrão,

O amanhecer volta para o cortar de mais um dígito no calendário,

E o muro anota mais um dia que passa, mais uma Lua que volta,

E mais uma vez meu olhar se perde numa vida torta!

Nenúfar 28/9/2008