NUM LAGO DOURADO - GUILHERMINO DOMINGUES DE OLIVEIRA

Estava à beira de um lago, dourado pela luz do sol, e então percebi no silencio a sinfonia da natureza e as belezas que enxergamos e muitas vezes não vemos.

A tarde caía mansamente como que não querendo se despedir do dia, e as sombras das montanhas verde-escuras já se faziam no sopé, garças em vôos coreográficos buscavam os ninhos nos salgueiros e, nas ramagens entrelaçadas de cipós se podiam ver e ouvir a balbúrdia de outros passarinhos ajeitando-se nos ninhos.

A natureza orquestrada pelos grilos, pelos paturis, pássaros, e o coaxar de sapos e rãs, cantavam em uníssono belíssima canção, qual música de fundo para uma aquarela de cores vibrantes e emoções sem igual.

O marulhar sereno das pequenas ondas, quebrando nas margens no seu ir e vir, dobrando levemente as taboas, balançando os juncais, era matematicamente sincronizado qual apresentação de balé.

Vez ou outra aparecia uma borbulha na mansidão das águas quando peixes passeavam no fechar da tarde, pastando o verde limo do fundo do lago, fazendo quem sabe, uma última refeição.

Nenúfares e igapós navegavam tranquilamente, desfilando as suas cores carmins e violetas, debochando do pouco caso dos olhos que nunca as viram, das lentes que nunca as registraram.

Na lamina de águas claras fez-se raios dourados de sol e as cores do arco-íris materializaram-se nas libélulas multicores que assomavam a orla do lago.

Espetáculo de luzes e cores num lago dourado, num fim de tarde num dia qualquer, em que desprendido de qualquer mácula, indiferente às dores do dia a dia tive a oportunidade rara de enxergar, sem exageros, um pedacinho do paraíso.

Gulhermino Domingues de Oliveira