A DIVINDADE

A DIVINDADE

Do amor tanto amado

nada que lembre restou

Sequer um 3x4

que o novo amor rasgou.

Passaram os anos, lépidos

Para mim, rastejantes

Contigo em meu ventre

No olfato, na procura incessante.

Tua imagem, ícone pleiteando parecença,

Jamais encontrou sorriso igual,

Jeito semelhante, carinho assemelhado.

Eu, carregando a cruz da tua ausência.

As músicas, as horas, a companhia,

Nunca mais foram capazes de sacio.

A cama, sepulcro vivo de coisa viúva

Jamais se conformou com o vazio.

Carrego esta tua esfinge às costas

Como fardo que não sei abandonar.

Onde quer que pouse, pare, descanse

Eis teus olhos a me passarinhar.

Com tanta coisa para viver

Fico embrulhado no passado

Da tua pele; no calor do abraço

Que nunca mais, tão terno, encontrarei.

Carregando e amando esse fardo

Vou safando-me dos dias amargos

Que passam, ferozes, arrancando nacos

De carne passiva que apenas ama no passado.

Talvez, quem sabe, um dia, pode ser

Encontre alguém que não seja você

Que me atraia os olhos de repente

Tornando novamente o objeto gente

Se, acaso, ventura, tal se der

Poderei arriar teu peso de mim

Aliviar-me da carga que carrego

Odeio, desprezo, mas não nego

Que o teu amor, minha heresia,

Provou ser Deus uma mulher.