*BROCOIÓ DE COIPO E AIMA!!!

BROCOIÓ DE COIPO E AIMA!!!

Num nego, sô brocoió,

De procedença matuta!

Vivo na minha labuta

Morando nos cafundó

Donde a vida é marmió

Duquê in quarqué cidade

Pois a roça na verdade

É um taquin do paraíso

Tem de tudo queu priciso

Pra sinti filicidade

Meu vivê cum liberdade

Andano dento do mato

Sem caricê de bom trato

Nem cuidá de vaidade

Aqui eu fico avontade

Pra fazê o queu quizé

Agino de boa-fé

Meus zoios faguia in brios

Conde dô bejo in meus fios

E abraço a minha muié.

Aimo um quixó ou um mondé

Pru mode pegá preá

Como as fruta do juá

As bola de catolé

Pesco cum meu jereré

Ou de mão, peixe na loca.

Broa, beiju, tapioca,

Mungunzá, cuscuz, xerém,

E de tardezinha tem

Café quente cum pipoca.

Farinha de mandioca

Pra misturá cum feijão

Teju e camalião

Eu caço cá soca-soca

Ranjo isca de minhoca

Pesco de anzó no riacho

Banana, tiro do cacho,

Já quaje amaduriceno

Pra merendá tô cumeno

Raspa de queijo no tacho.

Sou matuto “cabra macho”

Aguento munto ripucho

E tando chei o meu bucho

Quaiqué trabai eu dispacho

De noite eu acendo um facho

Pra crariá o terrero

Na paioça um candiero

É quem faz a craridade

Mato a sede de verdade

Cás água do meu barrero.

Quesse meu jeitão grosero

De paia é o meu chapéu

Fico inspiano pro céu

Contemprando o nevuero

Inscuito lá no chiquero

Um poico véio chiando

Vejo a galinha ciscano

Pralimentá a ninhada.

Me acordo de madrugada

Cum os passarim cantano.

Inspio a lua briano

Nasceno por traz do monte

Sem luz o só no horizonte

Já tá quaje se apagano

A papa ceia piscano

Avisa, nuinguém se afoite,

E o vento cum seus açoite

Trazeno a brisa ligera

Tá quá bassora faguera

Barreno a boca da noite,

Sou pueta, e na pré-noite

Decramo um belo puema

Ao som da siriema

Qui canta na entrenoite

Apreciano a sonoite

E as coisa da natureza

Chega a mulé de supresa

Só pra mode mi dizê

Meus amô chegue cumê

Cá janta já tá na mesa.

Eu num cunheço tristeza

E vivo só de aligria

Num mundo de fantasia

Rudiado de beleza

Onde dúvida e incerteza

Aqui num passa, pru certo,

Vivo de peito liberto

De mágua agrura e langô

Pruque o pranto e a dô

Num vai passá nem pru perto.

Assim nesse céu aberto

Tenho a vida prazentera

Inscuitano a cachuera

Oiano o campo diserto

Cumo camponês insperto

Agino cum muita caima

Gradeço a Deus bato paima

Bastante lisongiado

Sinto oiguio in sê chamado

Brocoió de coipo e aima!

Carlos Aires

14/06/2014