Fome

Publicado por: Thiago Zanetti
Data: 23/07/2006
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Créditos

Poesia e voz: Thiago Augusto de Souza Zanetti
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Fome

Criança chora por tudo

Por birra, por manha

Mas nada é mais triste

Que a criança que chora de fome

Não aquela fome de pedir para mamar

Mas aquela fome que dói de verdade

A fome que corrói as paredes do estômago

Que come a si próprio na falta de outra coisa

Nada é mais triste

Que a mãe fraca, esquelética

Anêmica

Com os peitos caídos e murchos

Sem uma gota de leite

Vendo a criança mamar

Em vão

Na pele borrachuda e vazia

Nada é mais triste

Que a criança de dois anos

Ter o mesmo peso de um bebê de dois meses

Branco, ocidental, rico

Que mama nas tetas da mãe

-Tetas fartas, cheias de leite

E que um dia vai mamar nas tetas do Estado

Nada é mais triste que o sorriso

Sim, o sorriso da criança faminta

Que mostra os dentes de cavalo

De uma maneira tão triste, tão sincera

Que quase nos cospe na cara a realidade

-Estou morrendo, sei disso, e só me resta esperar

Esperar

Esperar como Pedro Pedreiro

Esperar

A morte mais dolorosa

Que começa na barriga

Que já é cheia de vermes

E vai se espalhando pelo corpo

Até o suor ralo

Que chama as moscas e os urubus

Para o banquete escasso e duro

Sem carne alguma

E são esses os urubus

Que levam embora os ossos

Junto com a nossa vergonha

Por deixar uma criança morrer de fome

Thiago Zanetti
Enviado por Thiago Zanetti em 16/01/2006
Reeditado em 16/01/2006
Código do texto: T99362
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