Sonhei com um mundo em perfeição
Vivia de sonhar com uma ilusão;
Sem saber quem sou nem o que os outros são
Vivia em vão sem ter posição.
Sonhei que havia uma esperança
Mas também que o mundo era uma desgraça
Que não abrigava o Bem, a bonança;
Só o medo, o mal, o caos, a trapaça;
Então padeci tenaz pesadelo
Quando agi e sofri de remorsos:
Foi num cisco, num dia, num instante singelo
Que errei ciente e inconsciente, movendo os esforços.
Caí num abismo, encontrei-me selvagem,
Num mundo selvagem, sem base nem teto
Sem frente ou paredes, terrível paragem,
Sem fuga ao abstrato, grilhão no concreto.
O mundo é assim, os seres assim,
Qual é pois, a resposta da vida?
Para viver, ao viver dá-se que fim?
Enfim, sem anjos nem santos, nesta Terra sofrida?
Talvez eu não encontre com Deus,
Nem contemple no homem a divindade,
E sim a penosa via do Prometeus,
Que não enxerga o fim de sua idade.
Talvez isso seja, o mundo, a fera
Que anda, caminha, rainha que manda,
Mas é prisioneira, cativa da era,
Castigo por ser o que é onde anda.
Então, diplomata no mundo serei,
Prisioneiro, sento-me calmo na cela,
O meu mal e os dos outros verei
Conformado, quem sabe, da janela.
Enfim, tem causa todo fato,
E todo ser sua razão,
Mas enquanto dorme, num hiato,
Talvez clame por fé invisível na escuridão...