Amarras do ser

Amarras do ser
 
Amarrei-me no seu dizer.
Foi volta simples em torno a mim.
Simples agir com promessas de zelo.
Prendeu-me no seu desejo e fixei-me.
 
O horizonte despontava à minha frente.
Era terra de ninguém a ser descoberta.
Esbocei um voo sutil e senti,
As asas presas no seu querer devorador.
 
Pude compreender a força de um desejo.
Suas marcas e amarras me constituíam.
Não entristeci, nem chorei.
Fiquei ali. Contemplando o que poderia ser eu e meu.
 
Aos poucos me acertei em seu aperto.
Sem bater asas pude ainda voar.
Perguntam-me como pode isso acontecer?
Respondo: “aprendi outro modo de viver”.
 
Mas o horizonte ainda me instigava.
Era devorador o desejo de os nós desfazer.
Mas a plataforma que meus pés pisavam,
Era chão de história. Era vida. Puro prazer.
 
Corpo rígido contra as cordas debatia.
O cansaço inundou as veias do meu ser.
Desfaleci e do alto, enquanto caia
As amarras não mais meu corpo comprimiam.
 
Soltaram-se como se solta um passarinho.
Vento fresco a face veio tocar.
Asas nobres, enferrujadas, mas com vida
Lançaram-me num voo espetacular.
 
E lá fui eu pra longe do seu desejo.
Deus me livre ser escravo do seu querer.
Quero ser pássaro solto em mergulho eterno
Estacionar onde quero; ser todo meu e então morrer.