Bem-vindo, amigo, à festa da despedida

dos nossos corpos.

Aproveite a ferida...

Repense a vida que inda lhe sobra

e tanto lhe cobra...

Mais que a vida

repense a morte.

Há tempo.É tempo.

Bem-vindo, amigo, ao monólogo...

Tente falar com Deus

e purificar as chagas.

Tente sanear-se!

Que fez do seu tempo?

Os pecados foram muitos ou poucos?

Foi maior o ódio ou o amor?

Valeu a pena a caminhada?

Bem-vindo, amigo,

sem sorriso, de olhar triste

e coração partido.

Perdoe se não abraço sua alma,

releve a falta de calor.

Olhe pra mim:

primeiro com os sentidos.

Aceite a ausência da cor,

o cheiro do cravo

o choro, a lágrima...

Agora, olhe com sua alma

e tente me ver.

Lembra do sorriso,

do meu jeito de ser,

das manias,dos defeitos?

Bem-vindo, amigo do peito!

Você trouxe seu corpo

para me ver ou sua alma

para me crer?

Pouco importa, portador de vida!

Você me olha

mas não me vê.

Você capta ou não capta

quase nada

do que revelo.

0 que resta resvala

e apenas lhe colocará

em profunda meditação

pois aponto a vida

e aponto a morte...

Bem-vindo, amigo, mas não exagere o que fiz,

nem repare o que não fiz.

Não me lamente demais.

Os fluxos pararam.

Explodi na dimensão desconhecida...

Já não sou mais eu!

Portanto,amigo,seja bem-vindo

apenas à louvação do mistério.