UM SONHO COM O MEU PASSADO!!!

Eu na ociosidade

Dei um pequeno vacilo

E embarquei num cochilo

Que me encheu de saudade

Deixei aquela mesmice

Em que vivo, e a meninice

Fui visitar bem risonho

Com muita fugacidade

Sem dar conta na verdade

Que era tão somente um sonho.

De repente entrei num bonde

Sem rumo e sem direção

No transporte da ilusão

Lá vou eu não sei pra onde

Enfrentando desafios

Passei por vales e rios

Parei num lugar formoso

Bem pacato e bem singelo

E esse local tão belo

Era o Sítio Frutuoso.

Retornei à minha terra

Na mais intensa alegria

E aportei onde queria

Bem no pezinho da serra

Adentrei no casarão

Senti aquela emoção.

De quem está regressando

Revi meus pais novamente

Abracei cada parente

Depois saí passeando.

Dei um suspiro profundo

Quando cheguei ao terreiro

Tão feliz e prazenteiro

Gritei é esse o meu mundo

Quando estou aqui sou rico!

Visitei o pé de angico

Passei pelo pé de imbu

Bebi água no barreiro

Revi o velho facheiro

E o pé de mandacaru.

Sentei no alpendre e vi

A carreira de aveloz

E até me falhou a voz

Com a cena que revivi

Além da velha porteira

Vi também quixabeira

E senti grande emoção

Porque foi debaixo dela

Que vivi a infância bela

Brincando com meu irmão.

No sofá eu me virei

E prossegui na sequência

Cheguei na adolescência

Aonde continuei

A luta em que trabalhei

Plantando milho e feijão

Cortando palma e ração

Muito alegre e animado,

Porque vaqueirar o gado

Era a minha profissão.

Corri naquelas campinas

Igual a antigamente

Observei novamente

A serra com as neblinas

Desses remotos perfis

Dos meus tempos juvenis

Trago a lembrança guardada,

E não esqueço o momento

Que eu seguia no jumento

Pra casa da namorada.

No Tamanduá passei

Pra visitar a escolinha

Lá naquela fazendinha

Onde um dia eu estudei

Foi ali que encontrei

A namorada querida,

A junção bem sucedida

Orienta nossos planos

E a mais de cinquenta anos

Dividimos nossa vida.

Voltei as missas de Ameixas,

Da Serra, de Cajazeiras,

Subi aquelas ladeiras

Sem me enfadar e sem queixas

Saudade, porque me deixas

Cabisbaixo e desolado?

Se aqui guardo meu legado

Que são singelas heranças

Só em suaves lembranças

De tão remoto passado.

Assim por mais de uma hora

Passei por esse colosso

Logo depois do almoço

Viajei por meu outrora

A decepção agora

Que deixou-me encabulado

Foi quando vi-me acordado

E notei que essa alegria

Não passou de fantasia

De um sono não planejado.

Levantei-me pensativo

Prossegui com meu destino

E o sonho de ser menino

Se dissipou pelo crivo,

Mas, lembrei-me que estou vivo

E da vida não se lamenta,

Usei dessa ferramenta

Para encarar-me de frente

E mostrar que estou somente

A seis meses dos setenta.

Meu sonho de fantasia

De voltar a meninice

Não passou de uma tolice

De uma quimera vazia

Nesse vai dia e vem dia

Lentamente o tempo avança

Diminuindo a esperança

E aumentando e crendice

Que quem alcança a velhice

Jamais volta a ser criança.

Carlos Aires

07/08/2021