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Adentrei sob a névoa da madrugada
naquele parreiral tão verde e perfumado
a paz me silenciava e o medo era paralisante.
Nada podia tocar, era um quê de não macular
aquele lugar com minhas mãos pecadoras.
Numa visão inusitada, um homem sem rosto
declamava poesias que me penetravam os poros e a névoa era densa, e o medo era silêncio.
Meu coração reverberava como fora saltar do peito, enchendo de perfume o momento antes sem olores.
Num átimo pude ver sua face e sem que quisesse, sem procurar, via-me nos olhos dele refletida estarrecida, pois instantemente o amava em desespero.
Trazia nas mãos uma branca, alva e cristalina rosa, o sol transpunha tímido a bruma.
Ali parados nos olhávamos
como se o tempo fosse eternidade,
e os passos não encontrassem
formas nem pernas.
Ficamos assim como se sempre houvéssemos nos esperado.
Dias, meses, anos e eram sete, sete cachos de uvas que olhar humano jamais pudera contemplar.
Eram sete momentos, sete instantes ardentes,
sete infinitamente.
Não, não houve engano, em sete palavras nos magoamos enganamo-nos, me enganei.
Sem o homem inusitado desaprendi a viver.
A névoa do tempo pesou sobre meus olhos, e suspensa insuspeitável, inexorávelmente
(S)igo TUA.