MINHA HISTÓRIA (Um auto-retrato)

A vida sempre me deu muita opção, poeta, artista, mal-feitor ou ladrão.
Vou tentar me explicar e mostrar minha razão.
Desde pequenino, por ser o caçulinha, meu lugar todos queriam tomar, mas que lugar era esse que até eu desconhecia, talvez o colo do irmão mais velho ou da irmã puritana ou mesmo da mãe que eu pouco via por muito trabalhar no decorrer do dia a dia.
Minha vida nunca foi fácil, mas difícil ela não seria, transformaria as mazelas em contos causos e poesias.
Acontecia algo errado e logo todos diziam: “Foi ele aquele moleque danado, não me engano, olhe a cara do safado”. Que culpa tenho eu por já ter nascido engraçado e todos me confundiam com o maldito do safado.
Quando pedradas quebravam vidraças, logo aparecia uma multidão em minha direção, e vinham correndo ao meu encontro, e eu nunca era abraçado, diziam e bradavam em alta voz com seus dedos apontados: “Foi ele, o moleque, olhem a cara do danado”.
Quando fui para a escola, de novo a tentação, lá estava a professora querendo que eu encapasse o caderno com um velho papel de pão e eu, já humilhado por minha condição, rejeitei a sugestão, acreditem, levei castigo, puxão de orelha e até um beliscão, mas teimoso feito um burro o caderno encapei não.
Segui a vida fui crescendo, sempre culpado de alguma coisa, pois quando tive entendimento fui logo avisado que dos dez filhos um único foi culpado por ter a Mãe dos nove, o ventre dilacerado, pois de parto normal os nove nasceram e o décimo, eu, fui o culpado, levei esta mazela até aos trinta e três, quando num almoço em família uma confissão minha irmã mais velha me fez, bradou com minha Mãe e o engano se desfez, disse ela: “Mamãe desfaça o engano e conte logo de uma vez, conte pra ele que a cesárea foi o medico, o doutor que lhe indicou, caso contrario depois dele ainda viriam mais seis”.
E não acaba por ai a minha dor infernal, fui crescendo, namorando e vi que era legal, apaixonei, fiquei abobado com a prazer sexual, mas descobri logo logo , a dor de um animal que tem na cabeça dois adornos pontiagudos, que para os outros é normal, dizem, e é verdade, que quando nascem dói, mas a nós pobres humanos, como não afloram na cabeça somente ao coração corrói.
Desilusão na bagagem e segui minha viagem.
Fui acusado de muitas coisas que não ouça desvendar, das menores fui indagado se maconha eu gostava de fumar.
Sem ser culpa minha, mas dos outros, mesmo assim eu havia de pagar e foi assim que sucedeu. Fiz muitas coisas com os limões que a vida me deu, e um a um todos foram aproveitados, quando criança fiz sucos, quando adulto caipirinha e agora chá pra resfriado.
Sempre fui um gozador, (quem goza até com a dor), um artista, inconformado das mazelas, fiz um conto, ficou até engraçado. Sou assim meio palhaço, lúdico, desiludido, religioso. Poeta herotizado, conto um conto, conto um causo, quase nunca fantasias, nem tão pouco imaginados, vividos com certeza, mas não com tristeza.
Tenho filhos, sou casado, vivo bem, vivo amado.
Sem dinheiro sou quase um herói, da resistência, da teimosia, com o salário tão pequenino que me remota aos trocados que eu recebia do meu Pai quando ainda era eu um menino.
Este verdadeiramente é um auto-retrato, em branco e preto, mas atenção, se for o caso a gente digitaliza e podemos colori, mas os erros e acertos, esses eu não quero corrigir, deixem do jeito que esta, pois se a jornada aqui foi difícil descansarei do lado de lá.