Saudade

Bom dia!

Hoje acordei bem, sinto-me renovado.

Acordei dando abraços em minhas cachorras Mel, Sol e Flor.

Eu as apertei com tanto amor que elas choraram de alegria. Elas pulavam, latiam, davam voltas por toda casa. Amor de cachorro é fiel, honesto e leal. Nunca te deixa na mão.

Escovei meus dentes e percebi que eles estão brancos, que aqueles dentes amarelados de cigarro desapareceram.

Tomei meu banho como se fosse Jesus Cristo sendo batizado.

Meu café com leite tinha algo de alegria. Estava adocicado com algo mais. Meu estômago amargo pela gastrite ficou doce.

Eu não gosto do sol, detesto praia, odeio que o sol “bata” em mim; mas hoje não, o sol bateu suave, deu-me um beijo no rosto.

Fui correndo a casa dos meus avós. Quando cheguei, beijei meu avô na “careca” e disse: “Avô, eu te amo”. Minha avô não, ela é durona, só um abraço diz tudo.

Mas é preciso falar que meus avôs não são aquelas pessoas que você encontra em casas antigas com moveis antigo e com cheiro de velhice. Não são aqueles que você encontra sorrindo, falando “meu netinho querido” e oferecendo 1 milhão de doces da vovó. Eles são “porreta”! Não tem mimo não, parecem italianos do sul. Eles falam: “Pega o que tiver ai, e não enche meu saco”. Mas não é por raiva ou desprezo que eles dizem isso, é por amor a família. Quando um parente seu fala: “Porra meu, vai pra puta que pariu”; pode ter certeza que sua família é tudo pra você, porque o amor está na intimidade, na descontração, na espontaneidade.

Meu pai e minha mãe me amam. Deles eu só tenho a falar isto.

E minha sobrinha de 6 meses, quer coisa melhor do que um sorriso de um bebê? Se você é um nazista da segunda guerra mundial, se você é um serial killer, se você matou seus pais a pauladas, se você matou 132 pessoas, se for um ditador africano, um matador de crianças numa creche, um policial do BOPE, um traficante dono do “morro”, um negociador de diamantes, um produtor de armas mortais, um matador de animais... pode ter certeza que não resistirá a um sorriso de um bebê de seu sangue.

Eu posso estar sendo meloso, talvez quadrado. Para falar a verdade, estou sendo um péssimo escritor por não estar sofrendo. Mas hoje meu amigo... acordei feliz e mandei um foda-se pra tudo.

Minha namorada me deixou. Meu amor me deixou. A vida me deixou. Mas hoje não, não vou sofrer por isso. Não vou retomar o passado e chorar.

Você quer saber o que é chorar para alguém que nunca chora? É a morte de um homem. Pelo menos pra mim, que sou uma rocha.

Chorei que nem criança. As lágrimas escorreram sobre todo meu corpo. Eu hesitava para não chorar. Eu não podia desmanchar minha imagem de homem. Meu “eu”, minha personalidade. Mas quando o amor de sua vida vai embora, você pode ser um nazista da segunda guerra mundial, um serial killer, uma pessoa que matou seus pais a pauladas, alguém que matou 132 pessoas, um ditador africano, matador de crianças numa creche, um policial do BOPE, um traficante dono do “morro”, um negociador de diamantes, um produtor de armas mortais, um matador de animais... mas se o amor de sua vida te deixa, você vai chorar.

Chorar que nem criança. Demonstrar toda sua vulnerabilidade. Você vai esquecer de tudo: poder, dinheiro, família, emprego, dívidas, o bilhete da mega-sena premiado; somente para chorar.

Ter um momento só seu. Uma particularidade que você nunca pediu na vida. Pela primeira vez irá pensar: “Por favor, dei-me só este momento.”.

E você terá. Um momento só seu, como se o tempo e o mundo parassem só para você chorar. Afogar-se em lágrima, angustias, tristeza e desespero.

Não se reprima; chore!

O momento foi meu. Eu chorei como uma criança.

Se eu pudesse falar mais, eu falaria, mas pra mim, todas as tristezas foram embora no choro. Não tenho mais razão nem lógica. O que eu sinto está no sentimento, está no lugar onde não há palavras, não há explicação, está no coração.

Quando se perde o amor, nada mais faz sentido.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 31/12/2008
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