Fragmentos desconexos de uma Autobiografia

Eu apenas tinha oito anos de idade,

Meu pai era alcóotra e espancava minhas irmãs mais velhas,

Ele agredia constantemente minha mãe,

E eu o odiava com todas as minhas forças.

Eu sempre fui o aluno mais inteligente de cara série na escola,

Mas nunca conseguir ter amigos de verdade.

Desde criança eu nunca acreditei nessa palavra que denominam de “amor”.

Minha mãe tentava esconder as marcas no rosto das agressões praticadas por meu pai,

Ele sempre ia à missa todo sábado,

Eu queria vê-lo morto,

E enquanto eu chorava sozinho em meu quarto,

Tentando compreender tantos sofrimentos em minha vida,

Eu podia sentir todos os sofrimentos das crianças assassinadas em guerras,

Em conflitos políticos e por poder econômico,

Crianças estupradas por membros de sua própria família,

Milhares de crianças e adultos com câncer cujas pais e familiares esperam por um milagre que jamais virá,

Milhares de africanos morrendo de fome, de tuberculose, de Aids,

E ainda querem que eu acredite e me ajoelhe perante esse ser que dizem ser divino,

O qual classificam como sendo um “Deus de amor e de Misericórida”?

Tudo bem, vamos ser estúpidos,

Mas isso já é demais!

Eu tinha uma namorada que me amava tanto,

Tínhamos planos,

A gente só queria ser feliz sem machucar ninguém,

Eu havia passado na faculdade,

Mas tudo mudou quando o câncer invadiu meu corpo.

Sei que não sou o único,

E não estou aqui para jogar a culpa em ninguém,

Chega! Não há nada de poético na vida,

Chega de eufemismos e de crenças e fé inúteis e inférteis,

Estamos completamente sozinhos nesse universo absurdo,

E se não querem admitir tal fato é por puro medo.

Estamos sozinhos,

Sentimos-nos sozinhos e isolados,

Contudo persistimos em nos auto-enganar com idéias conformistas.

E a única coisa que todos me dizem é:

_ Tenha esperança,

Seja forte, tudo pode mudar.

Tão gentis, e ao mesmo tempo tão falsos,

Eu não consigo entender a vida,

Eu não consigo entender isso que eu vejo todos os dias.

E todos têm suas próprias explicações para equacionar tudo,

Mas que na realidade não decifram todo esse mistério imperscrutável

Que se chama Existência.

A Árvore da Vida não é a Árvore do Conhecimento.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 10/02/2009
Código do texto: T1432511
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