LIÇÃO DE ÉTICA

Com 18 anos completados em agosto de 1962, Dindinha achou que era tempo de arranjar um novo emprego para mim. Em setembro do mesmo ano, iniciei minha vida profissional nas Lojas Brasileiras – Lobrás, hoje extintas. Minha tarefa era orientar os clientes que pareciam perdidos na loja procurando algo. Uma bela manhã, atendi um senhor já bastante idoso. Ele desejava um presente para alguém especial. Ajudei-o a escolher o tal presente, fiz um belo pacote e recebi mil agradecimentos e um "poeminha" que guardo até hoje, o qual diz:

" Eu em frente a um altar

Olhei pra santa em devoção

Esta santa é uma beleza

De bem rara tentação

E toda delicadeza

Minha santa Conceição."

Alguns dias mais tarde o dito senhor apareceu na loja e me trouxe de presente uma garrafa de licor de menta. Disse que era de fabricação caseira, muito saboroso e era um agradecimento por eu tê-lo atendido com toda gentileza. À noite mostrei o presente para Dindinha, achando que era o máximo! Recebi a maior bronca. Ela disse: é sua obrigação atender bem qualquer cliente que entrar na loja, você é paga para isso, não para receber presentes seja lá de quem for. Mandou jogar o licor no ralo da pia dizendo que na casa dela não entrava bebida. E que aquela fosse a primeira e última vez que eu receberia um presente na loja. Na época achei injusto, mas hoje sei que foi a melhor lição de ética que recebi em toda a minha vida.

CONCEIÇÃO GOMES