Invertebrado

Não precisa pensar muito para se chegar a uma conclusão.

Existe um marco na vida de um homem que é decisiva e marcante. Por mais imaturo que seja a pessoa, um dia você se olha no espelho e vê que o mundo de ontem não é o de hoje.

É um processo de decadência e evolução?

Imagine uma rua que se vai construindo conforme andamos, caímos, paramos e corremos. Essa rua vai se construindo atrás de você. Você se define pelo que se está atrás de você.

E se um dia você acorda, olha para trás e vê o vazio? Toda aquela rua que te definia sumiu. Você olha para frente e para trás e de sobressalto se assusta, não por que a rua se desintegrou, mas por que não há mais nenhuma referência.

Um sentimento de vazio e confusão.

Entretanto, desesperado, você dá um passo e erguesse um pequeno pedaço de rua, não mais aquela rua igual ao que estava atrás. Essa rua parece mais séria, simples e perigosa.

Quando eu me dei conta que virei adulto e sai da juventude, foi essa a sensação que tive, alguns não percebem porque estão muito ocupados para não pensar em si mesmo.

Eu percebi e me assustei. Assustei-me não por que ia recomeçar uma nova vida; mas sim por que eu me transformei em outra pessoa.

Eu me transforme em outra pessoa.

Algo nesse mundo perpassa sem que saibamos o motivo ou o que é.

A vida não é um processo de decadência nem evolução; ela é um processo de transformações.

Conforme o tempo passa, tudo se torna mutável. Nossa convicções, nossas ações, enfim, a maneira que nos postamos a vida sempre é variável.

A questão que se abre é: devo ter certeza de quem sou?

Quando se faz algo imoral, algo que está errado, pois prejudica uma outra pessoa, seja de que maneira for, um dia podemos acordar e pensar: “Que merda eu fiz”.

E isso é irreversível.

A pior das dores é aquelas da consciência. Doía na alma e magoa o coração.

Mas como viver uma vida justa?

Devo acreditar naquilo que define o que é bom ou mau?

Aquilo que vem de fora e se apodera de mim por meio da culpa e coerção é o que devo aceitar?

Kant estava errado quando disse que cada pessoa é uma “pessoa moral”, com todas aquelas idéias de razoabilidade, ponderação; cada pessoa é racional, logo, todos querem o bem comum.

Não, eu não sou uma pessoa moral.

Ele devia estar mais a par do que ocorria no mundo. Deve ser por que ele vivia enfiado numa cidadezinha de merda que não estava ciente do que ocorria. Do que realmente é o ser humano.

Kant, olhais para os armênios mortos.

Kant, olhais pelos nativos americanos mortos.

Kant, olha esse exemplo:

Durante a guerra na Bósnia, as lindas mulheres eslavas foram seqüestradas e levadas a lugares sórdidos para serem violentadas, estupradas, morrerem e sofrerem.

O que se passou lá não é um mero ato de barbaridade, era a crueldade sendo divertida.

Eles cortava as mulheres por prazer e passavam sal nos cortes. Fazia as mãe matarem suas próprias filhas. E continuamente eram estupradas de todas as maneiras traumáticas.

Kant pergunta: “Por quê?”.

Kant, você foi muito ingênuo e as gerações que o seguiram também foram ainda mais ingênuas.

A única pessoa sensata foi Maquiavel. Ele não era pessimista nem frustrado, ela apenas resumiu as pessoas da seguinte forma: “O homem é mal por natureza”.

Kant, não há “pessoas morais”, mas “pessoas imorais” nesse mundo.

Os sérvios violentavam meninas e garotas que até hoje estão vivas ou preferiram estar mortas.

Onde esta o erro nisto tudo?

Volta o texto: “... bom ou mau?”

Os soldados da OTAN e da ONU tomaram controle da situação na região... mas continuaram a violentar as mulheres.

Quem é o bom?

Não sei e ninguém sabe. Por quê?

Agora sou homem e agora sou adulto!

Agora sou Bósnio e agora Maquiavel está sobre mim.

Bem-vindo a tragédia!

Bem-vindo a maldade!

Que meu coração lamente e minha cabeça pense!

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 15/05/2009
Código do texto: T1596682