21 de fevereiro de 1971

Puxa vida, desde o ano passado não te escrevo, parece mentira.

Bem, mais uma vez, estou numa fossa que dá gosto. Sinceramente, não aguento mais.

Estamos no segundo dia de carnaval. Carnaval, meu diário, palavra que exprime alegria, quatro dias que a gente tem, por obrigação, esquecer de tudo, as tristezas, decepções e até que a gente existe, mas eu aqui desfrutando amarguras e tristezas nessa sublime fossa.

Nem na banda de Ipanema, que eu sempre gostei de sair, eu estou com vontade.

Não precisa perguntar por que estou assim, você já sabe, né? A razão é sempre a mesma, eu e Júnior. Brigamos mais uma vez. Meu Deus, por que, por que, por que tudo isso? Me diga por que? Por que sofro por alguém que não merece o meu amor. Por que insisto em querê-lo junto à mim, se sei que não vale a pena? Como seria bom se eu pudesse mandar no meu coração, mas nele não se manda, ele só faz sentir e nos fazer sofrer.

Hoje ele não me ligou. Puxa vida, meu diário, se você soubesse a vontade que estou de telefonar pra ele, acho que você faria todo mundo dizer pra eu telefonar, palavra de honra. Sei que não devo, chega de ficar correndo atrás dele.

Estou triste.

Tchau.