Valderina Coimbra Costa - VIVI

a mulher do século.



Antes dela não houve, nem depois dela haverá alguém com determinação tama-nha,  e corajosa, Vivi sem dúvida pode 8ser considerada a mulher deste século, na história dos correntinense.

Em um breve apanhado de sua atuação em nossa história, pude  testemunhar, como seu neto,  que a pequena e notável mulher, foi como um 
meteoro brilhante que cruzou os céus, da história de Correntina, desafiando os preconceitos  que limitava as mulheres de então, o seu tamanho se mede por seus atos e a sua inteligencia.

 

A história de Vivi, ou Valderina Coimbra Costa certamente há de si prolongar, enquanto dela existir um decendente.

 

Parte de sua história eu conheci de ouvi falar e outra de ter convivido no velho HOTEL de VIVI, onde hoje reside o Mano Weden di Sordi. 

 

Adorava filar o pirão do almoço e jantar, por vezes  o café da tarde,  mas,  para isso  esmerava no servir os hospedes, nas refeições, ou seja pelos poleiros da cidade, cmprando ovos, para o estoque da dispensa e depois, óbvio, o justo merecimento de sentar-me à  mesa farta de iguarias, com era servido nas refeições.

 

O nome da empresa era Hotel Correntina, estamos verificando a data de sua criação, porém o nome afetivo dado pelos populares foi mesmo o que ficou para posteridade.

             Hotel de Vivi

e assim permanece até os dias de hoje, mesmo após seu fechamento, definitivo,  na década de 90.

Valderina Coimbra Costa, filha do capitao  Miguel Soares Coimbra, ou seu Miguelzinho.

 

Nasceu em Correntina–BA., no dia 12 de outubro de 1916 (dia dedicado as crianças) e como uma criança feliz e de coração puro; viveu intensamente sua vida de dedicação e amor ao próximo, fosse ele menos ou mais favorecido.

Não importa quem, mas ou alguém que por algum motivo, batia a sua porta a procura de abrigo, conselhos, ajuda. Certamente sua caracteristica despachada, alegre e sua estatura pequenina e esperta, lhe rendera o apelido de Vivi e assim também ficou por toda nossa eternidade. Ela foi vereadora por cinco mandatos seguidos, ou seja uma década, quando o mandato era pelo período de dois anos e não remunerado.

Foi uma mulher inovadora e empreendedora, autêntica. Tinha visão e altivez e teve opinião decisiva, quando convenceu o esposo, Rafael Martins a fechar as portas do comercio, diante de uma grande crise que atingiu o comercio naquela ocasião. Antes que a crise fechasse a Casa Combate, Vivi a Transformara no primeiro hotel da cidade, fazendo surgir o primeiro hotel de Correntina. Antes era uma casa comercial, que vendia e comprava de tudo. A Casa Combate;  o comercio, fundado no inicio do século passado, pelo comerciante Rafael Martins da Costa, que viuvo e pai de dois filhos, Raimundo e Júblia, casa-se com Valderina Coimbra Costa, a filha do Capitão Miguel Coimbra, como veremos mais adiante. O comercio porém fechou suas portas na década de 40, quando então surge o hotel, que funcionou por quase 50 anos; tendo suas portas sido fechas um ano e meio, (presumidamente) antes do seu falecimento de Vivi, ocorrido em 2001.

Além de desempenhar voluntariamente o papel de 1a. dama, na assistência social e na divulgação das potencialidades turísticas do município. Vivi cumpriu seu papel de mulher destemida e após sua viuvez, ocorrida em 1949, ela romper as barreiras do preconceito, numa época em que a mulher era considerada figura de adorno, profissional do lar e do fogão, objeto de parição. Vivi mostrou a que veio ao mundo; mostrou que as funções da mulher iam além de tudo isso; que Vivi, a mulher, em tempo algum fora a personagem frágil e manipulada pelo Ser superior, que se fazia ser o Homem.

CASA COMBATE DE CORRENTINA ou HOTEL DE VIVI


Foi o cenário onde tudo começou e teve fim. Atualmente é a mais antiga casa comercial da cidade em atuação, até os dias de hoje, com a mesma arquitetura de então. Uma casa centenária que seu novo proprietário, Dr. Weden di Sordi de Araujo Costa, filho de Raimundo Martins da Costa, logo, seu neto; hoje lá mantém uma casa para eventos comemorativos, que acolhe a nata da sociedade correntinense. A casa não é aberta no dia a dia, mas em ocasiões especial, quando o espaço é alugado para eventos ou quando há interesse dos proprietários Weden e Ismênia, sua esposa, em abrir o estabelecimento para atender os poucos amigos, dignos de tal honra.

Bem aparelhado em som e móveis. Uma aparelhada cozinha e serviço de bar, com atendimento não visto na cidade; um pequeno salão interno e um quintal transformado em espaço para bailes, com palco para orquestras ou apresentações de saraus de poesias. É um espaço ideal para lançamento de livros, aniversários e festas com lotação limitada. É o local preferido pelas pessoas que tem fino gosto musical e queira assistir um bom filme ou musicais em telões de LCD.

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Quando Rafael ficou viúvo, teve interesse por uma das filhas do capitão Miguel Coimbra, conhecida como Teté e lá foi um belo dia, todo engravatado, pedir das mãos até os pés de Dona Teté, em casamento e depois de todo floreio da “pedição”, que não é petição, Seo Miguelzinho e esposa adentram para o interior da casa para buscar a noiva e apresentá-lo ao pedinte Rafael e o vexame então estava feito. Não teve santo que convencesse a moça Teté a aceitar o pedido de casamento, do moço que a esperava na sala; nem bronca ou ameaça dos país que a levasse a isso. Teté, pelo visto, não era moldada para o casamento, pelo menos foi assim que viveu, solteirona até o fim. Mas como explicar aquele fino comerciante de que seu pedido, aceito pelos pais, fora recusado pela noiva... O que não diriam na cidade do pobre homem, recusado pela pretendente noiva?

Rafael na sala começou achar que o tempo já passava do limite, pois depois de tanto falatório e prosa para pedir a mão da moça, ela ainda não estava arrumada para vir saudar o futuro marido! E lá naquele “interetete” no interior da grande casa de seo Miguelzinho, alguém entra em cena com determinação; era Vivi.

- Se Teté não quer eu quero! Diz ao homem que eu aceito o pedido de casamento.

Seo Miguelzinho ainda desconcertado não achava ser aquele o final que ele e o noivo, esperando na sala, queriam, mas convenhamos, o noivo não tinha lá muito opção, pois pesava muito a opinião pública naquela ocasião e um homem bem sucedido ter seu pedido de noivado recusado pela noiva, era coisa séria, tinha-se muito o que falar; casos assim quando acontecia levava o noivo ou noiva a uma vida de reclusão ou renuncia a vida amorosa. Dizem que foi por causa de um amor perdido que a moça Sinhá,  nunca mais quis saber de amar ninguém e até hoje, aos 90 anos de idade, não aceita que o assunto vem átona, por isso fica aqui o ponto.

Mas e lá na casa de Seo Miguelzinho! Pois é, o capitão chegou a sala com a filha de 16/17 anos de idade, pelo braço e jogou a batata quente nas mãos do noivo. O que faria Rafael diante da noticia que receberia dentro em pouco, recusar a filha oferecida em lugar da pretendida? O velho capitão apelou para a passagem bíblica quando Labão enganou a Moisés, lhe dando uma outra das filhas, em lugar da pretendida.

        Rafael Matins da Costa


Recusar a filha do Capitão era uma situação mais constrangedora ainda para o noivo, a filha e o próprio capitão. Mas o noivo fora prudente em sua sabia decisão, sair daquela casa noivo. O Capitão informou a Rafael, com algumas desculpas obvias, de que a pretendida não tinha pretensões de casar-se, mas que Vivi havia aceito o seu pedido. Rafael pensou... mas não pensou muito, pois sair dalí de mãos abanando não seria nada conveniente e assim aceitou casar-se com Valderina ou Vivi.

Ao casar-se com o viúvo Rafael Marins da Costa, Vivi torna-se madrasta de seus dois filhos do primeiro casamento: Júblia (13) e Raimundo. (9)

Vivi, Valderina teve dois filhos Iracy e Lázaro mas somente Raimundo, ou Iôzinho, ficou em Correntina, os outros logo que chegou o tempo certo partiram para fazer suas próprias vidas. Júblia a adotiva, logo ganhou o mundo, partira para Juazeiro - BA, de lá foi para o Mato Grosso depois Rio de Janeiro e por fim Goiânia; Iracy mudou-se para o Rio de Janeiro e Lázaro para São Paulo, casaram, formaram famílias e onde por lá faleceu Júblia e Lázaro, Iozinho falecera em Correntina, em 1992 e Iracy hoje viúva, ainda mora no Rio de Janeiro, ao lado dos dois filhos de Agnaldo, seu marido, que são Cidinha e Agnaldo Junior, por certo gozando a da alegria dos netos.

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Correntina, que no século IX havia se tornado rota dos bandeirantes, com suas tropas de mulas e cavalos, desbravando o interior do País, rumo ao centro-oeste, foi passagem do grande Anhanguera, o caçador de esmeraldas, Bartolomeu Bueno, que desbravou o Goiás. No século seguinte, anos 50, passa a ser rota dos caminhoneiros, caixeiros viajantes, vendedores de eletrodomésticos e produtos industrializados. O município então exportava muita matéria prima como peles e couros, farinha, polvilho, açúcar mascavo, rapadura, feijão, banha de porco. Somente na década de 70 é que a beleza natural de seu rio, começa a ser explorado como ponto turístico, no Governo de Teófilo Guerra esta riqueza natural começa ser explorada pela prefeitura municipal e aos poucos ia sendo propagada de boca a boca. Na década de 60, porém, o Hotel de Vivi atinge seu apso, torna-se ponto de referência de partida e chegada dos velhos paus-de-arara; anos mais as velhas jardineira, um tipo de ônibus, alguns adaptados e por fim os ônibus da pioneiras Viações Brandão e Badeco, esta ultima comandada pelo velho polonês Badeco Solarevisk, cujos filhos, Zezinho, Carlito e Murilo fizeram história na sociedade e na economia local, transportando tudo que fosse solicitado de um estado para o outro. A construção de Brasília influenciou no aspecto cultural e agrícola da cidade, que transportava sua produção agrícola e trabalhadores para a nova capital.

A cidade se reunia em frente ao Hotel nos dias de partida e chegada dos caminhões e ônibus, dos pioneiros Vavá de Santa Maria, Zé Moreno de Anápolis, os irmãos Bandão e Badecos... Acenos de mãos e lágrimas dos que partiam e dos que ficavam, esperança que ia e sonhos que ficavam... eram as mesmas emoções dos que assistiam uma partida, que se repetiam na chegada dos paus-de-arara, adentrando a cidade numa buzinação sem fim, como se a chamar a todos, para receberem seus queridos que estavam chegando ou partindo.


Vivi e sua filha Iracy Costa com os netos Diana - Javan - Flamarion - Weden e os bisnetos Lanusia, Dante e Tales no ao fundo.

Vivi ficou conhecida no município como “mãe dos pobres”. Ela e Dr. Lauro se popularizaram pelos relevantes serviços que prestavam, voluntariamente as comunidades mais carentes; aplicando recursos próprios ou recorrendo a um e outro político, estadual ou federal, a caça de recursos para ajudar socorrer os pobres, com material de construção, roupa, remédios. O portão dos fundos do hotel, depois dos horários das refeições, sempre tinha algumas mães de família, esperando a sobra das refeições, para alimentar seus filhos, o que não lhes era negado.

Correntina havia se tornado porta de entrada e saída, para o Centro Oeste do País, divisa entre os estados de Minas e Goiás. Um dos maiores município em extensão que mais tarde é rateado, com a emancipação do Jaborandi, que passa ser sede do novo município.
Vencer 700 km até Goiânia era uma verdadeiro rali dos sertão. Brasília e Goiânia haviam se tornado a grande esperança dos baianos, do além São Francisco, que tinham melhores condições de acesso, em relação a capital do estado, Salvador, há mais de 1000km distante. Mesmo na época das tropas de burros e cavalos; o Goiás era a grande esperança do povo correntinense, embora a saída fosse fluvial, via rio Corrente até o São Francisco e dele, o mundo; semanas de viagem para se chegar ao Rio de Janeiro ou São Paulo.

Com abertura da primeira estrada, que era mais uma picada, os caminhões e ônibus se aventuravam em autênticos ralis cortando campinas e cerrados. Na década de 90 o tão sonhado e prometido asfalto chegou na gestão do Prefeito José Maria e Correntina ficou mais perto da Capital da República, Brasília, há 5/6 horas de viagem.

Assim se passaram quase três décadas em que os caminhoneiros levavam e traziam sonhos; como principal carga, em seus caminhões. Os gigantes irmãos Brandão, de Santana dos Brejos e os irmãos Badeco: Miro, Waldrick, Zezinho; José Moreno de Anápolis – Go, Vavá e Emílio de Santa Maria, os motoristas Cordeiro Vieira, Olegário, Olimpio, de Seo Te e outros.

Em todo este contexto, foi primordial a atuação de Vivi e seu Hotel; Ela foi o nosso maior patrimônio, depois do Revdo Pa. André, não houve e tenho minhas dúvidas, se um dia surgirá outra que assuma tais lugares, com tanto empenho, ação e amor, pelos correntinenses.

Vivi tornou-se a herdeira política do velho capitão Miguel Coimbra se fez notoriedade, como tantas outras mulheres, pelo universo. Ela era referencial, feminino, onde quer que estivesse e fizesse ouvir suas opiniões; fosse no aspecto político ou social; Vivi foi uma dessas heroína, como Chiquinha Gonzaga, a frente de seu tempo. Ajudou abrir caminho para as conquistas de que hoje se orgulha toda mulher que se digne de ser mulher; Vivi foi vereadora de 1948 a 1958, quando os mandatos eram de dois anos e não se havia remuneração para o exercício do cargo. Em 1962 fora aclamada para dirigir o executivo municipal, mas nem o mundo, nem Correntina, estavam preparados para aceitar a autoridade e a eficiência da mulher, o que até hoje, nos colocamos em duvidas, quando ao conhecimento político de nossos eleitores, em perceber a visível superioridade da mulher, em todo o contexto da vida; temos um eleitorado de mentalidade limitada a ineficiência de homens interioranos, medíocres para o exercício do cargo.

Em agosto 1975, aos sessenta anos de idade, Vivi rompe mais uma barreira do preconceito e contrai matrimônio com um jovem de trinta e alguns anos de idade, que logo ficou conhecido na cidade pelo nome de Vivão. Para evitar o buchichos inconformados dos amigos, parentes e da sociedade, Ela muda-se para Santa Maria da Vitória, onde inaugurou a mais moderna e equipada casa produtos veterinários, até então. Foram alguns de plena felicidade para a velha guerreira, não sei precisar quantos, não chegou a dez e ela sofreu o tão anunciado golpe, de que todos falavam. Vivão foge numa madrugada, levando dois carros lotados de produtos veterinários, as economias e uma conta-conjunta, limpa, deixando para Vivi, uma enorme lista de credores.

Vivi não se entrega, mas sofre um AVC, derrame cerebral, que lhe marca o rosto, deixando a boca torta, por alguns anos. Ele consegue pagar até o último centavo das dividas deixada pelo gatuno Vivão e retorna ao velho Hotel em Correntina que passou esse período arrendado. Aparentemente as coisas pareciam normalizadas, porém cansada e fragilizada, com tudo que havia passado, já lhe pesava nos ombros mais de 80 anos de idade Vó Vivi recebe o apoio da filha, que nunca lhe faltou nos momentos que foi invocada, Iracy, que passa a vir com mais freqüência, do Rio de Janeiro para Correntina, assistir a velha companheira, mãe, e ajudar a organizar o velho hotel, onde ela não mais contava com a fiel gerente de quase trinta anos de serviço,


Iracy Costa - ultima herdeira direta da grande heroina Vivi.


Maria de Vivi, que deixara o Hotel quando o mesmo fora arredado, casou-se e mudou-se para o Goiás e nunca mais dela tivemos notícia e Dona Neném, uma fiel cozinheira de pele preta e alma pura, faleceu de velhice.

Os últimos momentos de vida de Vivi, foi ao lado dos parentes, com total apoio de sua única filha, Iracy, que não media sacrifícios para deixar a família no Rio de Janeiro e passar temporadas com a mãe, em Correntina. Entre os parentes mais próximos estavam algumas irmãs e os filhos de Iôzinho, seu enteado; que sempre lhe tivera por vó. No ano de 2001, aos 85 anos de idade, ela retorna para o céu, de onde com certeza veio. Voltou ao seu lar o anjo de bondade viveu em Correntina, servindo a todos que se aproximaram dela. Valderina Coimbra Costa, VIVI deixa seu nome na história e anais do legislativo municipal, sobretudo, no coração dos que eternamente hão de amá-la,  como gesto de gratidão ao carinho recebido dela.

Vivi foi a primeira e ainda única, mulher, a quebrar a couraça do marxismo e da intolerância, assim como fizera tantas outras bravas e fortes mulheres, na história da humanidade e os correntinenses tiveram em Vivi, o exemplo da força e determinação da mulher.
 
O poeta Teófilo Guerra, um de seus aliados político,  eleito vereador em sua campanha a prefeita, companheiros de chapa, assim a descreveu em seus versos

 


VALDERINA COIMBRA COSTA
                                               Teófilo Guerra

Ninguém viveu intensamente
Ninguém a vida amou com tanta compulsão
Ninguém teve o sorriso que Vivi sorria
Ninguém se deu no amor com mais sofreguidão.
Pequena, feminina
transpirava afeto na voz rouca e suave
um toque de doçura.
No olhar sempre a alegria a dissipar tristezas
Em cada gesto, um jeito de insinuar ternura.

Na Câmara a primeira mulher a ser eleita
Primeira candidata a se propor prefeita
Com nome nos anais perenes da memória.

Dinâmica inquieta, autêntica e despojada
presença singular, brilhante, despachada
não só marcou seu tempo como fez história.
Valderina Coimbra Costa

Vivi !



AGUARDEM!  ESTÁ SURGINDO UMA NOVA VALDERINA EM CORRENTINA...
 
Texto do livro: Conto mais um Ponto
De Flamarion Antonio de Araujo Costa

 

Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 15/06/2009
Reeditado em 30/09/2022
Código do texto: T1649571
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