MATEUS VASCONCELOS. O inspirado idealizador da Academia Brasileira de Médicos Escritores - ABRAMES

                                                         Sérgio Martins Pandolfo*

"Escrever equivale a viver, e viver, de certa forma, escreve a minha existência".
             Moacyr Scliar, médico e escritor. Da ABL

      Vamos tentar, em rápidas e incompletas pinceladas, tracejar um escorço biográfico de Mateus Vasconcelos, o visionário idealizador deste colendo silogeu já bidecenário, a Academia Brasileira de Médicos Escritores – ABRAMES, na qual honrosamente ocupamos a cadeira de nº 1, patronímica desse grande Médico e Escritor. É que manter-nos-emos fiel à sabedoria romana: “Esto brevis et placebis”. Ou, à nossa maneira: é apanágio dos chatos o querer tudo dizer.
      “Somos profissionais da medicina, que em certo momento da existência, após tanto escrever, cientificamente, aviando receitas, descrevendo prontuários, muitos contendo verdadeiras histórias anônimas e construindo laudos, um dia resolvemos dedicar algum tempo de nossas vidas enternecidas, em muitos anos oferecidas às Ciências Médicas, a escrever literariamente”, a replicar o dinâmico doublé de médico e escritor sobramista LAF Soares.
      Era paulista de São Sebastião da Grama o entusiasta idealizador da Abrames, que, fato curioso, porque houvera nascido em águas territoriais portuguesas fora registrado na Embaixada brasileira, em Lisboa, tendo seu assento de nascimento sido efetuado naquela interioridade do chão bandeirante.
      Foram seus pais Agenor Amador Vasconcelos e Aurora Pinto de Vasconcelos. De sua união com Noêmia de Lima Vasconcelos nasceu Roberto de Lima Vasconcelos.
      Cursou o primário e o secundário na Escola Acadêmica de Lisboa. Vindo para o Brasil fez o curso médico na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, graduando-se em 1936. Desde cedo demonstrou grande avidez pela arte hipocrática, assim que foi assistente voluntário da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (1941); endocrinologista do Sanatório São Lucas, São Paulo (1943); assistente da 2ª Enfermaria de Clínica Médica de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (1945). No ano anterior, 1944, conquistara o título de Livre-Docente pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, defendendo tese sobre Andropausa.
      Empreendedor, polifacético e dotado de espírito associativo ímpar foi membro da Associação Brasileira de Propaganda; da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia; da Associação Brasileira de Imprensa e correspondente das associações médicas do Paraná, da Bahia e do Rio Grande do Sul, bem como do Instituto de História da Medicina e da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia. Integrou o conselho científico da revista Folha Médica, de grande prestígio e evidência à época.
      Foi Membro Fundador da Academia Brasileira de Administração Hospitalar; da Associação Médica de Língua Portuguesa; da Sociedade Franco-Brasileira de Medicina (vice-presidente de 1976 a 1979); da Associação Brasileira de Médicos Assessores da Indústria Farmacêutica. Foi, igualmente, Membro Honorário da Academia Brasileira de Medicina Militar.
      Na Academia Nacional de Farmácia exerceu a vice-presidência por seis mandatos, entre 1965 e 1981, tendo atuado como coordenador do Prêmio “Jean Claude Roussel”, temática “Arteriosclerose”, em 1979. Organizou e fundou o Clube dos Girafas, que reúne diretores de propaganda, de vendas, de departamentos científicos e relações públicas da Indústria Farmacêutica, sendo, por três vezes, presidente.
      Exerceu diversas funções nos laboratórios Silva Araújo Roussel, tais quais: médico de propaganda; responsável por relações sociais e experimentação clínica; chefe do departamento de propaganda; chefe do departamento científico e, ao final, diretor da instituição. No desencargo de tais funções fez estágio de aperfeiçoamento em Paris e Londres, nos Laboratórios Roussel/Uclaf (1966) e estágio no notório Instituto Pasteur (1967).
      Por inegáveis méritos recebeu distintas condecorações, a ver: Ordem Soberana e Militar de Malta; medalha “Mérito Militar” da Academia Brasileira de Medicina Militar; medalha “Clementino Fraga” do Governo do Estado da Guanabara; medalha “Estado da Guanabara”; “Medaille d’Honneur Du Travail” conferida pela República Francesa; “Cidadão do Estado do Rio de Janeiro” deferida pela Assembléia Legislativa; “Ordem do Mérito São Lucas”; medalha da SBEM; “Comendador” da Academia Gentium Pro-Pace e medalha Cívico-Cultural “Regente Feijó” do Instituto Internacional da Heráldica e Genealogia.
      Nosso patrono foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES, regional da Guanabara, tendo ocupado por duas vezes a presidência. Na Sobrames Nacional foi vogal na gestão Carlos da Silva Lacaz; vice-presidente; presidente e organizador do VI Congresso Brasileiro de Médicos Escritores, no Rio de Janeiro, 1976 e, alfim, presidente da Nacional (1980-82). Pugnou tenazmente pela mudança do nome da entidade de Sociedade Brasileira de Escritores Médicos - SBEM para Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SBME e depois SOBRAMES, consumada em 1979 na gestão Olivar Dias da Silva que, como nós, era paraense. Em sua gestão, e sob sua presidência, realizou-se, de 28 a 30 de novembro de 1980, o VIII Congresso Nacional da sociedade, sob o tema “Vida Literária de João Guimarães Rosa”
      Mateus Vasconcelos, já o dissemos, foi o grande idealizador da Abrames, para cuja consecução trabalhou com dedicação e afinco, juntamente com Miguel Calile Jr. e Marco Aurélio Caldas Barbosa. A fundação oficial em 17 de novembro de 1987 e instalação solene no Rio de Janeiro, em 26 de maio de 1989, tanto ele, quanto Calile Jr., falecidos anteriormente, não tiveram a glória e a ventura de presenciar.  Entretanto, por reconhecimento e justiça, seus nomes foram consagrados ao patronato das cadeiras de nos. 1 e 4, para as quais foram eleitos titulares-fundadores, respectivamente, o brilhante, multilaureado e multipremiado Luiz Gondim de Araújo Lins, mestre consagrado do verbo e do verso que vem de ser guindado, com mérito, à dignidade de Membro Emérito e André Petrarca de Mesquita.
      Essas as facetas mais relevantes que julgamos apontar na grande obra que construiu em vida nosso cultuado Patrono na ABRAMES.

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(*) Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES. Ocupantes da cadeira de nº 1, patronímica de Mateus Vasconcelos, na Academia Brasileira de Médicos Escritores.
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 15/07/2009
Reeditado em 14/06/2012
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