Uma História de Amor
Evandro Filardi e Iracy Carsoso Alves



Eles,  se conheceram na cidade de Santana dos Brejos - BA, no ano da graça de nosso Senhor Jesus Cristo, de um mil novecentos e cinquenta e um. 

O cenário de mais uma bela história de amor foi o  Educandário Diocesano de Santana dos Brejos, quando estudantes.  A rígida disciplina do Educandário Católico, sob a batuta do Monsenhor Felix, não conseguira vencer a chama ardente do amor de alguns jovens apaixonados. 

Nossos personagens é o jovem Evandro Filardi e Iracý Cardoso, mais conhecida como Sissi, ou melhor, Professa Sissi. Os enamorados jovens mantiveram segredo absoluto do amor que os incendiara. Evandro era estudante externo e ela estudante interna. Ele morava na cidade e Iracy, vindo do municipio de Correntina, era uma estudante em regime interno, que tinha sobre sí, o peso absoluto do regime, por 24 horas. Tudo com tempo de acontecer e fazer. e como viviam um periodo sem as facilidades da comunicação que hoje facilita a vida de toda humanidade. Sissi e Evandro trocavam cartas, nem sempre utilizando os serviços de correioa e telegrafos, mas portadores amigos, que passavam as cartas de amor de uma mão a outra, até que, enfim, chegasse as mãos do endereçado. Enquanto isso, se limitavam a troca de olhares sutis, comprimentos vigiados,  olhares sutis e candidos;  encontros que mais aparentavam o encontro de dois amigos ou irmãos, que descontraídos conversavam no pátio da escola,  nos momentos de intervalos ou recreio. 

Assim foi sobrevivendo aquele amor platonico e colossal, onde os cuidados para não serem descobertos era totalmente era seguidos religiosamente. O sucesso deste romance deve-se e em muito, aos verdadeiros e sincerios amigos e amigos, confidentes, que a sete chaves guardavam o secredo das cartas de amor que passavam por suas mãos.  . A amiga ou  amigo, eleito confidentes era pessoa de absoluta e extrema confiança,  eles não apenas faziam chegar as cartas dos jovens apaixonados, mas também, transmitiam os recadinhos de amor, cujos olhares não fosse capaz de traduzir.  

Era comum os padres e freiras colocarem alunos espiões no meio dos grupos e assim alguns romances eram decobertos e não era punidos apenas o jovens apaixonados, mas toda a corrente do bem, que mantinham  seus segredos de amor. Os espiõs trasitavam pelo pátio com liberdade de acesso, e se fingiam amigos. Geralmente eram pessoas descontraídas, falantes, que se passavam por conselheiros e instigavam situações para descobrirem o que desejam, quando desconfiavam da aproximação de um casal de jovens.  

Evandro e Sisi eram protegidos de Venus, a Deusa do amor e nunca foram  flagrados por ninguém e assim se passaram os anos... até que cada um teve que tomar seu caminho. Iraci por certo retornaria a Correntina, onde exerceria a honrosa profissão de professora e Evandro, o estudante que adora matemática, iria para alguma capital, geralmente São Paulo, onde arrumaria emprego de contador.

Antes porém de ser professora era necessário passar pela experiência de educadora, uma prática obrigatória passar por uma experiência prática no municipio para onde era nomeada e não incluia nesta experiência a sede do mesmo. Por esta razão os pretendentes ao título de professor(a); somente depois de uma experiência comprovada em sala de aula, como educador(a), por dois anos no mínimo e depois disso submetidos a uma bateria de provas teoricas, concluídas com  uma sabatina de arrepiar os cabelos, para então ser aprovado ou não, ao exercício do cargo, com o título de Professor (a). 

Iracy Cardoso se inscreve, na cidade de Juazeiro – BA, para habilitar-se ao título de professora. Por muita insistência de uma velha amiga, Mabel Veloso, irmã do cantor Caetano, Sisi  muda o local de provas, de Juazeiro vai  para Salvador; embora tivesse por desvantagem o numero de concorrentes, a jovem Sisi achava-se preparada para o concurso e não queria perder a oportunidade de passar alguns dias na companhia de uma velha amigo.  Eram mais de 5.700 candidatos ao título, que depois de aprovados seriam nomeados  por portaria do Ministério da Educação. Sisi conquista a 4a. colocação entre todos os concorrentes ao título  e retorna à Correntina já nomeada professora.  Não tinha vaga na sede dp municipio e ela fora transferida para o Mocambo, o que não fora nenhuma surpresa, visto que todas suas antecessoras percoreram o mesmo caminho, iniciando suas careiras de professoras no interior do municipio. Em 1960 ele consegue vaga para lecionar na sede, Correntina,  assumindo uma cadeira permanente no Educandário São José.

Raros eram os casos de professores do sexo masculino,  em sua maioria o cargo era ocupado profissionais do sexo feminino e em Correntina temos uma lista de nobres e dedicados professores que seguiram a carreira de sucesso, trilhada pela professora Iracy Cardoso, ou Professora Sisi. como: Maria da Cruz Rocha  - Alail da Silva Guerra, (Ilzinha) Zélia Guerra, Julia Guerra (Julita), Ena Rocha,  Cleonice Moreira, Dozinha de Seo Austrogildo - Dilza Soares - Irmã Zelia, Conceição, Pascásia, Renata, Cristina e muitas outras santas mulheres.

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Professora Sisi  tornou-se Diretora em todos os colégios, municipais e estaduais em que lecionou, até aposentar-se em 1980.
 
Enquanto estudante no Educandário Diocesano, Sisi e Evandro, os jovens enamorados, antes de se separarem para seguir seus caminhos, fazem um pacto em nome do amor e trocaram alianças em profundo segredo; prometem um ao outro segredo e fidelidade, até o dia em que estivessem  casados. Estranho o fato de mantetem o segredo, pois já haviam se formado; seria talvez estivesse se precavendo quanto a posição social que as familias as vezes impunham, para dar uma filha em casamento. Sisi fora criada por uma familia de alto poder aqusitivo, fazendeiros da região, Seo Pedro e Dona Miquinha eram respeitados pela posição se tinham diante da sociedade correntinense, a posse de muitas terras, muitas cabeças de gado e uma boa produção rural e a familia de Evandro Filard ? Não sei ao certo o poder aqusitivo de sua familia, sei que a familia Filardi era e ainda continua sendo um forte nome na sociedade santanense. Mas esta fato não foi indagado, portanto não respondido, quando fiz uma visita ao casal para inteirar de alguns detalhes para contar esta história de amor.

Evandro foi para São Paulo, onde sonhava avançar nos estudos, conquistar um bom emprego e assim voltar para buscar sua amada em Correntina.
 
A difícil comunicação da época torna-se mais um obstáculo aos jovens enamorados.  Sem telefone, sem internet e um correio que levava semanas ou meses para fazer chegar uma carta... Somente o coração alimentava os sonhos e planos daquele amor. Na esperança e na agonia da espera, os dias passavam como eternidades; uma semana pareciam meses, os meses pareciam anos sem fim.

Em São Paulo Evandro fez o curso técnico em contabilidade e tão logo termina o curso, recebe um convite para retornar a Santana dos Brejos. Edson Alkimim um empresário agricultor e político no município, convinda-o para ser contador, em uma sociedade empresarial que o mesmo estava acordando, em Correntina,  com o Prefeito Elias de França Barbosa. Seria a Deusa Vênus trazendo o amor aos braços de Sisi!  Evandro flutua com o convite e imediatamente parte de encontro a Edson Alkimin para conhecer melhor a proposta. Alkimin impôs uma condição para selar a sociedade com Elias França, de que  fosse de sua indicação o contador que controlaria o movimento financeiro da sociedade e para Alkimin este homem era Evandro Filardi. 

O jovem casal continuava guardando suas alianças; usá-las era expor o grande segredo de uma jura de amor eterno e ter que dar explicações do inexplicável, quando somente ao coração justificava a plenitude do sonho. 

Era o ano de 1962, Evandro se desloca de São Paulo para Santana dos Brejos,  onde trataria dos acertos com Edson Alkimim, para assumir a contabilidade da sociedade feita entre Elias França e Edson Alkimin,  em uma usina de beneficiamento de algodão; Enquanto isso,  Sisi também vai a São Paulo com o propósito de fazer compras domésticas; mas no pensamento da jovem Sisi, estava a  possibilidade de um encontro, "sem querer querendo" com o seu amado que ali morava. 

O encontro por pouco não acontecera, mas o amor sempre supera as expectativas e Sisi mas Evandro finalmente se encontram. Ele participa as boas noticias de seu possível retorno a Bahia e pelo que tudo indicava,  iria trabalhar em Correntina. Sisi retorna da viagem a São Paulo, alegres por ter encontrado seu amado. Traçam novos planos e a senha para ela revelar todo segredo aos pais, era uma carta que ele lhe enviaria, com todos os detalhes da reta final do grande sonho.  Esta carta foi lhe entregue por um ex-namorado, Antonio Neiva de Araújo, ou Queno de Major Felix, que um dia se digia a sua casa com uma carta na mão e ao vê-la passar grita seu nome e anuncia que tem uma carta de Evandro para ela e dentro do envelope uma carta endereçada a Seo Pedro Moreira e Dona Miriquinha, na qual pedia a mão de Sisi em casamento. Sisi se vislumbra com a notícia e conhecendo os detalhes da missiva, espera a chegada de Evandro  que não passa muitos dias e finalmente chega a cidade o príncipe encantado.

Ela conta os dias e as horas para a chegada do amado para então oficializar o noivado com uma festa na Fazenda Baraúnas. Novamente a distância e a dificuldade da comunicação deixa a jovem professora ansiosa, mas enfim a espera acabou. A carta finalmente chega aos pais de Sisi, que respondem aceitando o pedido de casamento, quando então Sisi pede aos Pais a autorização para usar a sua aliança de noivado, revelando apenas naquele dia, estar de posse da mesma desde sua saída do Educandário Diocesano.

Em 1963 se casavam, em Correntina, abençoados pelo Reverendo Pa. André Berénós, depois longos e longos anos de sonhos e espera. Evandro, já contador da algodoeira de Edson Alkimim e Elias França, passa a residir em Correntina. O salário porém não era o suficiente para uma vida tranqüila, como sonhava o jovem contador, que em tempo algum quis se valer das condições privilegiadas do sogro, o agricultor Pedro Moreira. O verdadeiro homem tinha orgulho em ser o provedor do seu lar e jamais depender de ajuda continua de sogro ou sogra. Acreditava lá, esporadicamente uma ou outra gentileza, disfarçada em presente, mas com um bom argumento da esposa. Evandro passa a usar o velho jeep 62 que trouxera de São Paulo, como fruto de suas economias de trabalhador. Passa a realizar  pequenas viagens de aluguel, pelo município e cidades vizinhas. O Jeep de Evandro era ambulância, carro de política, carro oficial da justiça e toda espécie de socorro e transporte. Não lhe faltava viagens, principalmente para Santa Maria da Vitória, onde tinha o banco mais próximo; na Inglaterra tinha-se o trem pagador, em Correntina o  jeep de Evandro desempenhou com sucesso absoluto esse papel, sem sofrer um assalto que fosse. O Jeep 62 de Evandro era pau pra toda obra e isso lhe rendia uns bons trocados. Hoje,  reformado, o velho jeep desfila pela cidade como relíquia da família. 

O Educandário São José amplia suas vagas e o Revdo André Bérènos convida o contador Evandro para ministrar a disciplina de Contabilidade e Prática de Escritório e assim, nos 70 Evandro  é nomeado pelo próprio Reverendo, como Professor do Educandário São José.
 
Finalmente o casal estabelece suas finanças, quando surge um concurso para uma vaga de oficial do registro de imóveis, no cartório da cidade. O prefeito Elias França de imediato nomeia sua sobrinha Júlia Neves para o cargo, mas a vaga tinha que ser ocupada por concurso e somente em caso de não havendo candidatos à concorrer, é que a vaga poderia ser preenchida por indicação do prefeito. Após inscrever-se Evandro é chamado ao gabinete do prefeito, que lhe oferece emprego no secretariado da prefeitura; alertado pelo promotor Dr. Osmar, quanto a falta de estabilidade em emprego de prefeitura e as manobras políticas;  Evandro não aceita o emprego oferecido pelo prefeito e  acreditando em seu potencial e seu conhecimento contábil, mostra-se decidido em arriscar na disputa do cargo, mesmo tendo a sobrinha do prefeito como sua principal concorrente, aquilo dava a certa impressão de um concurso de cartas marcadas, porém sabendo que as provas vinham da Capital, tinha-se uma esperança, baseada no histórico da concorrente que não tinha o preparo nem a sua experiência tanto na área contábil como no conhecimento da legislação dos cartórios, pois tinha por professores, Helvécio Rocha e o Promotor Osmar.

O concurso é realizado e Evandro alcança nota máxima em todas as etapas, eliminando a sobrinha do prefeito.  Assume então o Cartório de Registro de Imóveis; que dali em diante o levou a assumir todos os cartórios da cidade, em substituição de seus titulares em eventuais afastamentos e licenças. 

 



O casal teve  quatro filhos; dois homens e duas mulheres:

Cássio Antônio Cardoso Alves, engenheiro agrônomo, que mora nos Estados Unidos e tem participação ativa em todas as decisões da família. Há mais de 20  anos fez sua opção por aquele país e atualmente trabalha com a escritora Daniell Still;

Elvio Cardoso Alves, estabelecido em Correntina é advogado e gerente da fazenda Baraúnas, propriedade da família; além das atividades de plantio e criação de bovinos, a fazenda destaca-se na piscicultura. Casado com a odontóloga Minelídia A Carvalho Alves, têm dois filhos João Vitor e Lara. É militante político, tendo sido por duas vezes candidato a prefeito do município, não tendo êxito em decorrência do desgaste em suas coligações. Recentemente passou por um sério problema de saúde que quase nos privou de sua agradável presença, seu papo descontraído e de sua alegria espontânea. Recuperado, vem sendo um nome em evidências para o poder Executivo do município e olhe que água mole em pedra dura, bate bate até que fura; dizia a velha canção dos velhos comícios do MDB. 

Ionara Cardoso Alves, bióloga e acadêmica em direito, casada com o Engo Elétrico Carlos Alberto Marquetti, passou a Ionara Alves Marquetti, residem em Goiânia, da união veio dois filhos, Hugo e Igor Alves Marquetti;

Iane Cardoso Alves, engenheira civil, casada com o Engo Antônio Luciano Fonseca, passou a Iane Alves Fonseca, residem em Goiânia, do união veio apenas um filho, Lucas Alves Fonseca.

(Prometo conseguir fotos dos três outros filhos para enriquecer este texto.)

Professores Evandro e Sisi, nesta pequena homenagem ficam o reconhecimento e a gratidão das
r de todos os bens; o conhecimento. 

* FOTO: Lançamento do livro CONTO MAIS UM PONTO, em  1ª. Edição em janeiro de 2008  Profa. Iracy – Evandro – Flamarion – Élvio 
 
Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 25/07/2009
Reeditado em 30/01/2017
Código do texto: T1717949
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