Ira

Após toda a dor e toda a luta, tudo perdeu o sentido. Ele vencera. Destruíra seu inimigo e com isso obtivera o prazer da Vingança, mas não o Grande Prazer. Não conquistara o Verdadeiro Objetivo. O coração dela estava, por mais que ela negasse, ferido, além disso, ele revelara, no calor da batalha, a frieza, a crueza de seu lado mais sombrio, aquilo que não era ele, mas que fazia parte de si. E, por esses ou outros motivos, ela se fechara. Ele perdera. Apesar da vitória, ele perdera.

Buscando no fundo da própria alma ele trouxe à tona o pouco de si que ainda podia despertar diante da inegabilidade da perda. Ele abraçou, talvez pela última vez, o anjo dourado. E se odiou por ter sido responsável por tanta dor e por ter-lhe maculado o brilho.

Ele não poderia permitir que aquilo um dia se repetisse. Não podia se permitir lhe causar dor novamente. Então se afastou.

De longe não podia ferí-la. Mais importante, longe dela ele tinha mais controle de si mesmo e, especialmente, longe dela ele podia trazer seus demônios à tona. Afastou-se, mas, a despeito das aparências, nunca a abandonou. Um anjo pálido a zelar por um raio de sol.

(E que ninguém nunca mais ousasse contra ela, ou sua ira viria, tão rápida e implacável como uma vingança divina).