CHACAL
A vida é curta para ser pequena

   Dos vários livros lançados em sua trajetória como poeta, iniciada em 1971, aquele cujo título define de forma mais precisa a atitude de Ricardo de Carvalho Duarte, o popular Chacal, perante o mundo seja “A vida é curta para ser pequena”, que comemorou seus trinta anos de atividade em 2001. Nascido no Rio de Janeiro em 24 de maio de 1951, ele é considerado um dos expoentes da chamada “poesia marginal” ou “geração do mimeógrafo”, e continua fazendo poesia e produção cultural de qualidade atualmente. 
   Chacal já causava furor no início dos anos 1970, com seus livros e performances, que aconteciam na rua, em bares, onde houvesse espaço, quando foi “descoberto” por Heloísa Buarque de Hollanda na coletânea “26 poetas hoje”, ao lado de Cacaso, Ana C., Eudoro Augusto e Francisco Alvim, entre outros. Sua poesia, que Paulo Leminski definiu como “lúdica”, sempre esteve próxima do coloquial, com jogos de palavras, pronta para ser falada.  Publicou vários livros de poesia, como “Muito Prazer, Ricardo” (1971), o livro/envelope “Preço da passagem” (1972) e “Nariz Aniz, Boca Roxa e Olhos Vermelhos” (1979).
   Chacal conta que a produção poética da sua geração estava, de fato, ligada ao contexto da época, especialmente à ditadura – que ocorria em paralelo ao movimento hippie, auge da contracultura e da psicodelia. "Um grupo de jovens achou que para conversar com o mundo era bom através da poesia", disse o poeta, em 2017, ao programa Super Libris. O mimeógrafo foi usado como forma de produção do livro à parte do sistema oficial, das editoras. Assim era possível publicar “tudo o que estava engasgado”.
   Cria da típica classe média carioca, Chacal chegou a ser atleta, jogando futebol de salão, no Fluminense, e vôlei. Fez seus estudos em plena efervescência do movimento estudantil, durante a Ditadura Militar, nos Colégios Mallet Soares e André Maurois. Em 1972 e 1973 fez uma viagem pela Europa. Na volta, cursou Comunicação Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), graduando-se em 1977. No mesmo ano, integrou o grupo Nuvem Cigana, com Bernardo Vilhena, Charles Peixoto, Guilherme Mandaro, Ronaldo Bastos e Ronaldo Santos.
   Pode-se dizer que, nos últimos cinquenta anos, Chacal esteve sempre no olho do furacão cultural do Rio de Janeiro – estando presente em quase tudo que realmente inovava. Foi coautor de peças de teatro do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone (embrião do grupo musical Blitz), editou os jornais do Circo Voador e do Museu de Arte Moderna, foi parceiro musical de Jards Macalé, Lulu Santos, Mimi Lessa e Moraes Moreira, entre outros. Além disso, foi cronista do Correio Braziliense e da Folha de S. Paulo.
   Falar seus poemas em público é uma extensão do talento de Chacal, algo que, ao longo de sua carreira, tem agregado colegas e sacodido o público. A partir 1990, Chacal conseguiu, de certa forma, reviver o clima cultural de seu início na poesia, como produtor do Centro de Experimentação Poética - CEP 20000, da Rioarte que vem reunindo a vanguarda cultural carioca, revelando novos poetas, com microfones abertos a quem quiser falar poesia.

(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)