A LUTA PELA SUA CIDADANIA (2)

I - NOEMIA

O movimento pela luta de obter a Certidão de Nascimento era incessante, analfabeta brasileira, Noemia sem documento, esse era o seu dilema. Não só dela, mas de milhares, incluindo seus irmãos e de sua mãe. No ano de 1972 fizeram um pequeno manifesto em um vilarejo Município de Catanduva Paraná, pelo direito de cidadania. Onde reivindicavam que a Certidão de Nascimento fosse gratuita, pois em questão de, o não aceso a este beneficio, muitas crianças ficavam fora das salas de aulas. Não tinha acesso a Educação, pois como que se estudava! Se estas Crianças para o país não existiam. Foi neste ambiente tumultuado cercado pela desigualdade Social, que estas pessoas viviam atrelados a uma batalha atrás dos políticos, que todos os anos eleitorais faziam todo um levantamento de papeladas, com promessas falsas, de que todos teriam seus documentos gratuitos se casos se elegessem, então a mãe de Noemia estava lá em uma busca constante.

Em 1974, Noemia havia reprovado três anos consecutivos na primeira série do primário. O ensino ali funcionava assim: Quando chegava ao final do ano letivo, se deslocava um profissional na área da Educação da Cidade de Catanduva, Estado do Paraná, para aplicar o exame final.

O vilarejo, Ibiracema Município de Catanduva/PR. Contava com, uma Farmácia, uma Escola Municipal, que funcionava dentro da Igreja Católica, contava também com quatro botecos, duas lojas de cecos e molhados, um açougue, um armazém de compras e vendas de seriais, uma madeireira, um salão de baile, uma cancha de bocha, três Igrejas Evangélicas e Católica.

O vilarejo contava aproximadamente com umas 2000, (dois mil habitantes), como já se relatou a Escola funcionava em uma Capela; Capela Nossa Senhora Aparecida, pelo pouco poder aquisitivo da região o ensino, era de péssima qualidade.

Nos dias contemporâneos a solidariedade esta cada dia mais influente nos currículos escolares do mundo inteiro, que desde 1998 tem sido publicado pelo Ministério Público da Educação e Cultura (MEC), nos parâmetros curriculares Nacionais (PCNS).

Muitos trabalhos voluntários vêm sendo desenvolvidos no país, sabendo que não é fácil, e que vem muita luta pela frente, mas os resultados já são visíveis, o público que recebe essas ações vê suas realidades se transformarem. Com isso passam a ver positivamente os meios que desenvolvem essas ações. Com ela podem dar melhorias em suas qualidades vidas. A Sociedade vê a ação solidaria como um caminho de extrema importância, não somente para quem recebe, mas também para quem exerce, contribuindo para o desenvolvimento mutuo e pessoal de cada um de nós.

Graças a esta nova geração que existe mais oportunidade de cidadania, pois a barreira de que só quem tinha melhor condições financeiras é que podia registrar seus filhos aos cartórios de registros civis caiu por terra vencendo assim uma parte da desigualdade social.

Como no começo tenho relatado sobre a busca constante da mãe de Noemia pelos direitos de Cidadania, vou parar por hora com este assunto e descrever a historia de como Noemia consegue sair da primeira seria do primário depois de ter repetido três anos consecutivo...

Noemia fazia parte dos sem nome, sim. Sem nome, pois tanto a sua família quanto outras mais não tinham a Certidão de Nascimento. O único

papel que comprovava sua existência era o seu batistério. Era com ele que era realizada a sua matricula Escolar.

Descrevi no inicio do texto os dias atuais para que possa ter uma melhor compreensão sobre a vida deste povo, sem nome. Depois de tantas repetições de ano, finalmente Noemia, passa para a segunda séria do primário. A menina franzina mal trajada, de cabelos longos e castanho claro dizendo melhor, sapecado pelo sol, e pela higiene do sabão de soda, olhos meio esverdeados, pele clara queimada do sol, mãos grosas de calo do cabo da enxada. No dia do exame final estremeceu-se, ouvindo o chamado da pessoa que solicitava o seu nome para a leitura. A mesa onde estava sendo realizados os testes ficava bem aos pés de uma imagem de nossa Senhora Aparecida, pois como já relatei, a Escola funcionava em uma Capela.

Noêmia recebe o livro e junto uma tempestade de humilhação da sua professora, que diz:_ Vamos vê se hoje sai da repetência, sua burra. Não sei como pode não entra nada nessa cabeça oca! _Também com o país que tem, nunca aparecem na escola! Depois do desacato, Noemia trata de fazer a leitura, com as mãos tremulas, soando frio, o coração disparado, os olho lagrimejando a leitura começa:_O corvo e a Raposa...