A LUTA PELA SUA CIDADANIA (3)

Noemia respeita pontos e vírgulas, a leitura foi nota dez, engoliu palavra por palavras. Por um instante restitui a paz ao seu espírito. A diretora recolheu o livro e lançou a nota dez; e diz:_Vai guria, você esta aprovada.

Durante alguns minutos não se ouvia mais nada que o barulho das suas pisadas no cascalho em direção de casa. Na noite deste dia ela havia combinado um pequeno roubo, um creme dental. Havia bem próximo da sua casa um armazém de ceco molhado, era assim que chamava um superado onde se vendia de tudo. O roubo foi combinado quando o lampião a gás do estabelecimento se apagasse era para ela se colocar no pé da janela do quarto da guria, que trabalhava como baba da guriazinha filha dos donos. Tudo aconteceu como o combinado. Apaga o lampião e lá estava a Normia no pé da janela. Não demorou muito a janela se abre o suficiente para que a mão da guria possa recolocar o objeto em suas mãos. Não deixou para o dia seguinte, pois poderia escovar os dentes só à noite, com muito segredo, pois se seus pais descobrissem o furto o laço ia cortar dobrado. Ela entra pé, por pé que quase nem respirava em rumo ao balde de água, tudo no escuro, ela estava com sorte que pegou a água com um copo de alumínio, o balde também de alumínio. Sai sem ser vista, na ânsia de escovar os dentes pela primeira vez pensa, _ vou colocar bastante creme na escova que é para amanhecer com os meus dentes bem branquinhos. Foi a maior besteira, quando começa a escovação, o creme espumou de tal maneira que a água que leva não deu nem para o começo, foi difícil para retirar o gosto horrível que o creme deixa na boca, obriga-se a ir dormir com a boca espumando, pois na segunda vez que foi pegar mais água, ela esbarra com o copo no balde que faz um barulho um pouco alarmante, deu no fundo do balde. O seu pai deu uma tossida, então melhor dormir com o paladar gosmento do que levar uma bela surra por cima, pois assim era uma amargura só. Quando pela manhã, muito cedo, não tendo dormido mais que duas ou três horas. Começa a se questionar do desastre daquele dia anterior, o exame final da decoreba, pois ela havia decorado quase toda a cartilha durante os três anos de repetência. Ainda com a boca meio sapecada pelo creme, ela sai disfarçadamente pelo fundo da casa enquanto sua mãe esta a arrumar as marmitas de feijão e querelinha de milho e mandioca, para o almoço na roça. Noemia já com cabelos preso e um chapéu na cabeça pronta para o trabalho vai saindo de mansinho para devolver o creme, pois preferia que os dentes caísse todos, mais não ia usar aquela porcaria. Quando ela com cara chateada conta o acontecido. A amiga não se conteve, rindo por um bom tempo, ela que já estava se ardendo de nervosa com toda aquela situação, diz: _ ri por quê? A amiga se conteve e diz: _ este não é creme dental, eu peguei errado! Minha nossa é creme de barbear! A conversa não durou muito foi só o tempo de esclarecer os fatos, pois Noemia tinha que pegar logo o caminho da roça, então à noite como o combinado o creme dental estaria lá na janela, tudo do mesmo jeito só que com mais cuidado parra não errar novamente. O de barbear foi para a privada. Na noite tudo correu perfeitamente sem erro, agora sim Noemia prova o frescor do creme dental. Durante o dia a guria mediu quantas passadas ela dava para chegar até a prateleira do creme dental. E sai tudo perfeito.

De volta a historia de como Noemia Havia passado de ano sem saber ler.

Desesperada pela sua aprovação, sem saber ler, coube lhe a sorte de ter caído um texto que ela havia decorado. No momento não se sabia se havia sido uma sorte ou um azar, com muita preocupação, volta-se a Deus, ajoelha-se, a rezar. Enquanto rezava a pobre alma infantil, para que sua aprovação pudesse se transformar em certeza de que não fosse só uma decoreba.

Ela precisava aprender a ler, mas como? As férias não eram tempo suficiente para aprender a ler, pois se em três anos não consegui, não era agora que iria aprender. Ainda mais sozinha! Deus tinha que salva-la. Depois da oração abriu os olhos e ficou olhando para o céu com suas mãos postas uma a outra, ainda preocupada continua ajoelhada, quando ouve vozes masculinas, logo se levanta e sai curiosa para ver quem era; quando ela se aproxima da porta do quarto que saia para a porta da cozinha. La estava em pé, seu pai na porta da cozinha saída para a rua, e dois moços do lado de fora de frente com seu pai, onde, tentava vender um livro e evangelizá-lo, o pai de Noemia interrompe a pregação e diz: _ olha meu jovem, se nos formos discutir esta questão vai dia e noites adentram, e eu não tenho tempo. Então ele pergunta aos jovens: _ Quanto custa este livro? Os Jovens ainda tentam dar maior explicação sobre o assunto; mas eles foram cortados pelo pai de Noemia, pois ele tinha pressa em despedir-lhes, a mesa de baralho lhe espera; rapidamente passa o dinheiro e pega o livro dando as costas aos jovens e coloca o livro sobre a única mesa da casa, mesa da cozinha. Saindo apressadamente. Ele era viciado em jogo de baralho.

Noemia pega o livro que passa ser venerado por ela, que diz: Oh, que belo livro! O livro era um livro de capa dura, cor vermelha. Na capa estava escrito com letras douradas Deus é Jeová. Ela não tarda e começa explorar, folheando as páginas e admirando as leras. Diz em pensamento: _Oh, quando eu souber a ler! Logo ela monta um cenário atrás da velha casa, apoiando-se em uma cadeira de acento e encosto de palha. Apoiando nos dois pés traseiro da cadeira, inclinado-a e encostando-se à velha parede da casa.

Esta cena todos os dias se repetiam, na verdade o seu coração ia horas tristes e horas alegres, triste por não saber a ler, alegre por agora ter um livro em casa só para ela, pois foi só ela que se interessou pela obra; triste também por que as férias já estavam se acabando e nada de saber ler.

Noemia bem lá no fundo da sua consciência dizia: _ Preciso aprender a ler, esta voz não se aparta um instante se quer, a não ser quando dormia e ainda tinha pesadelo, sonhando com a professora sargentona, brigando e colocando-a de castigo. Em continuo pensamento, se pergunta: e agora, o que vou fazer? Para a Escola ela precisava voltar.......