CLODOMIR  SANTOS DE MORAIS nasceu em Santa Maria da Vitória, em 30 de setembro de 1928, para muitos era simplesmente Morais  e nesta mesma amada cidade do oeste baiano, veio a falecer 87 anos e seis meses depois,. N dia 26 de março de 2016, morreu vitima de parada cardíaca.

Quem foi Clodomir?  Seria preciso muito mais que este simples resumo para expor  toda grandeza e genialidade deste grande homem publico Foi Ele o grande  organizador e um dos principais dirigentes das Ligas Camponesas, movimento agrário iniciado em 1955 no Estado do Pernambuco, extinto em 1964 pelo regime militar.  Amigo do mais célebre educador brasileiro, Paulo Freire, (1921-1997). Juntos tinham um semelhante ideal, que consistia em ensinar o menino "ler o mundo", na certeza de criar assim, um homem consciente e  capaz de suprir suas necessidades e sobre tudo, consciente de suas próprias escolhas.  

Autor de mais de dezenas de  livros sobre reforma agrária e geração de emprego e renda. Sua principal obra, aquele que o projetara para o mundo, sem dúvida, foi a cartilha da  Teoria da Organização, que teve até agora mais de 300 edições em 43 países e no Brasil deu origem, deu sustentação para   a formação do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra).

Foi jornalista atuante por onde quer que tenha passado. Na agencia de noticias  dos Diários Associados permaneceu por  treze anos. Formou-se em Direito pela  Universidade Federal de Pernambuco onde também foi deputado estadual e fez nascer ali as ligas  Camponesas, que mais tarde se tornaria a forte razão de ser perseguido político pelo regime militar, no golpe de 1964 e esse foi realmente um golpe.

Teve por dez anos caçados seus direitos políticos o que não surtia nenhum efeito,  se  ao ser preso pela ditadura, tivesse poupada sua vida, mas amargou  um  longo exílio, ao ser expulso de seu país.  

A sua experiência, surgida da criação e do  desenvolvimento de métodos de capacitação massiva,  na  organização das Ligas Camponesas . Tal experiência  o levou a Organização Internacional do Trabalho (OIT), depois a ONU - Organização das Nações Unidas;   especificamente a FAO - Organização das Nações Unidas voltada para  Agricultura,  que consistir no desenvolvimento de Programas de orientação técnica, voltados para  agricultura  familiar nas comunidades carentes. Desempenhou, também a função de  Conselheiro e gestor,  na capacitação e organização dos camponeses, nos processos de reforma agrárial. Posteriormente,  passou a dirigir projetos da ONU, em Honduras, Panamá, México, Portugal, Nicarágua Sandinista e a assessorar reformas agrárias no Peru,  Costa Rica,  Angola, Moçambique e Guiné Bissau.

Os Movimentos de classes e as Associações cooperativas surgiam com força em todo solo nacional. Segundo João Pedro Stédile (1996), o pensamento e a ação do MST quanto às formas de cooperação agrícola, faz parte de um processo que vem se desenvolvendo desde  as primeiras ocupações até a presente data. No livro “Brava Gente  autoria de João Pedro Stedile e Bernardo Mançano Fernandes, fica mais clara a teoria e os objetivos do movimento; mesmo que hoje nos pareça ter se distanciado dos objetivos de sua criação, em consequência da exploração dos intereses políticos e suas conveniências.

A politica de esquerda se valeu da força e da importancia do homem do campo (MST) e nas grandes cidades, de diversas categoria de trabalhadores, organzido-os em sindicatos e surgindo assim a grande Central Unica dos Trabalhadors - CUT. Ambos os mobimentos são hoje a força politica do Partido dos Trabalhadores, que tem nessa significativa massa popular, sua representativ iadade. 

Não tivemos a oportunidade de saber de Clodomir, o seu pensamento quanto aos rumos seguidos pelo MST e a CUT. Qual a sua visão nesse aspecto, já que se tem nele um dos grandes idealizadores e motivadores dos movimentos de massa e isso ele deixou numa mensagem, quase que profética, no encontro com a Presidente Dilma, como mencionamos adiante.  

Segundo Clodomir a trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil,  divide-se   em quatro fases (até a publicação do livro, em 1996). A primeira etapa deu-se de 1979 à 1985; a segunda, de 1986 à 1990; a terceira de 1990 à 1993; e a quarta de 1995 à 1999. Atualmente o MST vive uma nova fase de reflexão sobre a importância do cooperativismo.  A organização do trabalho camponês é contextualizada na influência das idéias de Clodomir Santos de Morais. Entretanto, o distanciamento declarado no silêncio dos idealizadores das Ligas Componeses, para mim, deixa clara a conclusão de que a influência partidária, mais especificamente no MST e CUT,  perderam o idealismo de seus criadores e não contavam mais com o aval de luta de Clodomir, ultimo sobrevivente deste periodo marcante luta operaria, no campo e nos grandes centros.  

Clodomir fez especialização em Antropologia Cultural na Faculdade de Direito do Chile e especialização em Reforma Agrária, no ICIRA de Santiago; doutorado em Sociologia na Universidade de Rostock, Alemanha e por  4 anos foi professor residente nesta universidade.  Também foi professor por um curto período de dois anos na Universidade de Brasília; quando enfim deixei de conhece-lo de  ouvir falar, para com ele conviver durante este período. O prazer de longas conversas certamente  aguçou minha admiração e o meu interesse em conhecer mais de perto  a obra deste grande idealizador. A seu convite foi colaborador voluntario, ministrado cursos profissionalizantes de  capacitação em informática para  jovens de comunidades carentes. Cursos técnico de Montagem  Instalação e Manutenção de Computadores; também, Operadores de Sistemas Operacionais e aplicativos como planilhas eletrônicas,  editoração eletrônica  e  edição de textos no curso de Operadores de Microcomputadores.

Também foi professor por três na Universidade Autônoma de Chapingo no México e na Universidade Federal de Rondônia, UNIR. Conferencista em grande numero de universidades e instituições publica;   enfatizamos as Universidades de Manchester (Inglaterra), Berlim (Alemanha), Wisconsin (Estados Unidos) e em grande número das universidades públicas hispano-americanas. Além de ser um dos criadores do  Dicionário da Reforma Agrária.

Clodomir Santos de Morais tem mais de vinte livros publicados; alguns textos biográficos dizem ser quarenta, o que pra mim não vem ao caso, já que o importante é a qualidade de sua vasta obra literária. Existem por aí muitos gênios de uma obra só.  A maioria das suas obras  estão  escritas em espanhol e português,   entre essas destaca-se a sua famosa cartilha Teoria da Organização, com mais de trezentas edições publicadas em 43 países,  e óbvio, em seus idiomas e até dialetos. Esta corresponde ao Caderno de número Onze do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra -  MST. É o clássico, para muitos,  Laboratório  da origem organizacional para a capacitação massiva, na geração de emprego e renda. Esta cartilha atingiu o apso  na América Latina, Europa e na África, atingindo mais de um milhão de exemplares vendidos; não contabilizando as edições patrocinadas e distribuídas pelo Estado, como  a Câmara de Deputados do México, que chegou fazer  uma grande edição especial para o Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda naquele pais. No Brasil  foi implementada em todos os Estados,  mediante parceria  com o Instituto IATTERMUNDO e o Ministério de Integração Nacional. (www.cecac.org.br/Coluna/Clodomir.htm).

Sua história continua, apesar da sua ausência física, ocorrida no dia 26 de março de 2016...Ele partiu deixando em nós a certeza do dever cumprido. O exemplo do mestre não é apenas um privilégio do povo santamariense, mas pelo que se vê,  diretamente e indiretamente de todos aqueles que conviveram de perto com o professor, sociólogo, jornalista, de natureza comum, simplória e comunista por convicção.  
Além de diversas obras literárias, duas significativas biblioteca;  a Campesina, em Santa Maria da Vitória e sua biblioteca particular em  Rodonia,  onde  mantinha outra residência e nessa a esposa, servidora publica federal que se prepara para aposentadoria e mudança definitiva para Santa Maria da Vitoria, como nos disse em nosso ultimo encontro em 2014. Ao tomar conhecimento da morte deste grande mestre, tratei de rever o texto bibliográfico escrito em 2010, como uma pequena homenagem, no proposito de que muitos outros  santamariense, soubessem  o mínimo, do pouco que sei, deste grande e insubstituível homem. 

Sua  vida e sua obra começaram em Sta. Ma. Da Vitória,  onde já se revelara um menino inquieta e participativo, em busca do conhecimento. Sua história é única e por tantos anos de trabalhos dedicados a militância, na busca de uma sociedade igualitária, socialista. A  medida  em que conhecia os problemas que afligiam e afetavam a vida do homem, independente de sua nacionalidade, credo ou cor.

Algumas biografias enfatizam a saída de Clodomir de Sta. Maria da Vitória aos 14 anos de idade, dando uma impressão que o mesmo partira sozinho, ou mesmo empreendera uma fuga de sua cidade, em 1941. Deixar uma cidade do interior, naquele  época  desprovida de transporte, comunicação, estradas,  apoio, logístico, ainda mais com 14 anos de idade... Convenhamos,  seria algo quase impossível para um homem, imagine um menino. Em nosso encontro na Casa de Cultura Oscasr Neyemayer, em Brasilia, quando lecionava cursos de informatica para jovens carentes, para Fundação Iettermundi, o questionei, por curiosidade, o fato e o esclarecimento foi exatamente este: Seu pai, inconformado com a falta de oportunidade,  a carência de escola publica de qualidade, e essas eram  particulares e a seu ver, as escolas publicas  deixavam os alunos exposto  a ociosidade; Levou Clodomir para morar com um tio na Capital Paulista, em 1941 e daí por diante, partiu do menino Clodomir, a curiosidade de conhecer o mundo, aproveitar a oportunidade e foi o que fez e passou a fazer, como incentivo, aos jovens, pelo mundo.  
Apartir dos anos 60 esta situação melhorou com a abertura de escolas pela Igreja Católica, mais tarde as escolas batista.  Antes disso a situação era mesmo desfavorável quanto ao porvir. O futuro era mesmo incerto,   até porque o forte da região era a lavoura e a plantação de cana se destacava;  incontáveis alambique  se multiplicava das pequenas chácaras as grandes fazendas. A produção de derivados da cana incentivavam a exportação de açúcar mascavo, rapaduras, doces; grãos, peles e , principalmente a “marvada da cana”,  cachaça.

Ir ao um engenho e beber cachaça de graça era uma excursão divertida para adolescente, jovens  e homens, que depois de experimentado a brejeirinha,  não lhes faltava quem oferecesse um gole e outro e outro... Na minha geração conheci de perto esta fato, que Clodomir expõe numa entrevista a TV Canal Livre. Vi muitos amigos parar no tempo, se dá a bebida a ponto de perder seus valores e deixar de sonhar. Não é diferente até os dias hoje. Clodomir nos revelou que a visão privilegiada de seu pai que lhe assegurou o caminho do sucesso ao longo de sua trajetória de vida.

Se por um lado as cidades interioranas levam os jovens a se afogarem no ócio, por outro lado, aqueles cuja determinação e sonhos não são abalados nem contaminados  pelos vícios do álcool e das drogas naturais ou sintéticas. As nulidades da vida têm no interior grandes aliados, inimigos naturais dos jovens, mas tem também a  paz e farto tempo, para os que desejam se dedicar a um futuro prospero. A musica, a dança,  as milhares de opções hoje disponíveis nas redes dos computadores, não mais obrigam aos jovens sair cedo da comodidade de seus lares, onde melhor se preparam para um  bom emprego e um futuro certo.   

Os grupos de jazz  eram a febre que contaminavam os jovens nas décdas de 40 a 60,  quando outro movimento, a jovem guarda, surge com os Conjuntos musicais. Na época de Clodomir os grupos de jazz se destacavam na história dos municípios brasileiros. De Santana dos Brejos, Serra Dourado, Santa Maria da Vitória, Bom Jesus da Lapa a  Correntina, vários grupos de jazz de homens compostos por adolescentes, jovens, homens, até mesmo grupos mesclados de homens e mulheres; promoviam bailes caseiros,  em clubes. As serestas concluíam o clima romântico da época. A musica era ao vivoo e foi também este envolvimento com a musica que ajudou Clodomir a estreitar seu relacionamento social em São Paulo. Ao longo de nossa  história muitos foram os jovens que levaram em sua bagagem a musica, como opção de sobrevivência e inúmeros foram os músicos que registraram seus nomes nas histórias dos municípios, não queremos ser injustos, mas alguns são dignos de ser citados, referenciados, pela dedicação:  Os maestros Aldegundes Joaquim de Araujo, Honorato Ribeiro, Nemézio, João Guara em Correntina;  outros tantos de músicos, como Altamiro e seus filhos Miranda e Tonho Mora; Carvalho;  maestros Antonio Gusmão, Antonio Soares;  Jaime e Napu do Sax, Flavio Bonfm, Gaguinho; ainda em Correntina Alberto e Américo Nascimento, Aldegundes e Sergio Joaquim, Claudemiro Rocha – Dinda, Badu Araujo, Henrique Soares, Vavá Cunha... 

Em entrevista a TV Cidade Livre, no programa Letras e livros, ancorado pelo  jornalista Pedro Batista, Clodomir faz  um tur interessante, digno de ser ouvida, onde enfatiza diversos momentos de sua vitoriosa trajetória de vida. https://www.youtube.com /watch?v=pomnda4820U).

Quando muitos supõe que sua vida em São Paulo foi ser menor empregado  em quitandas, botecos;  seu tio deu todo apoio para seu desejo de estudar fosse adiante. Clodomir passou pela escola dos Salesianos e  depois Adventistas, onde estudava a nata da sociedade paulista. Passou lá maus pedaços, por ser baiano; quando todo migrante em São Paulo era considerado baiano. Vai saber de fato as razões! Sofriam preconceito, principalmente se fosse ou tivesse traços de negro. O colégio salesiano tinha maioria considerável de estudantes bancos de olhos azuis. Clodomir não se deva por vencido, nem menos ouvidos as aves agoureiras que punha seus ovos da descriminação em qualquer lugar. Na cabeça do Clodomir, não teve lugar para isso.

Veio o emprego na Ford Company , onde Clodomir começa de fato exercer seu espírito de liderança. Com 3.500 operários e produção diária de 71 automóveis. O emprego na Ford foi sem duvida a mola propulsora que apresentou ao mundo, o menino homem, que saindo dos longínquos rincões do oeste baiano, começava ali sua caminhada para o mundo.

É nesse momento  que inicia a pratica de suas teorias e aprendizado, quanto  a organização e a produtividade no trabalho. O Taylorismo e sua Teoria da Administração, (1911) que enfatizou o chão da fábrica, no  inicio do século XX, certamente não passou despercebido pelo doutor em sociologia, Claudomir, que põe em pratica todos seu conhecimento, seja por estudo ou  pratica. Clodomir busca então racionalizar a forma de produção, ou seja, organizar o trabalho em função do tempo que ele dispõe para exercer suas tarefas. Entre os camponeses, por exemplo, a unidade de tempo é indefinida,  ou seja, o período para se colher resultados são mais longos, quando  comparados com a rotina de uma fábrica, onde  este conceito caia por terra. Os resultados numa fábrica são imediatos e a rotina é cronologicamente seguida, para obtenção de resultados imediatos. Os ingleses já tinham uma máxima que dizia  “tempo é dinheiro”. Ninguém quer perder tempo porque perder tempo significa, até hoje,  perder dinheiro.   

A partir desse momento, Morais classifica o que chama de “víciosou desvios ideológicos” das diversas formas artesanais de trabalho, que acabam por prejudicar qualquer tipo de empresa, seja rural, seja industrial.

Clodomir descrever os tipos de indivíduos, com tal exatidão, que nos achamos por demais interessante que achamos importante descrever essa classificação, sem desvirtuar suas palavras na definição dos indivíduos:

O            PERSONALISTA:  quase sempre põe sua personalidade acima da empresa. Sua palavra ou sua atitude impensada, ele julga mais importante que as decisões ou normas da empresa.

O ESPONTANEISTA: é resistente ao planejamento dos trabalhos ou de ações e muito menos age conforme um plano de trabalho. Ele prefere realizar as tarefas que lhe são agradáveis ou mais convenientes como também as realiza no momento que mais lhe agrada ou que mais lhe convém. Não planeja nada, vive sempre o momento imediato conforme seus interesses pessoais, pois se ele se submete a um plano de trabalho não poderá atender a seus assuntos pessoais pendentes.

O ANARQUISTA: reage à organização das coisas ou das ações. Não controla nem contabiliza recursos. É um homem desorganizado. Dirige uma empresa como se dirigisse uma bodega; dinheiro entra, dinheiro sai e ele não anota nada. O anarquista se irrita quando vê as coisas muito organizadas. Desorganizar para reinar, enquanto reina, o anarquista salva seus interesses pessoais, deixando para trás os interesses da empresa. Por isso ele nunca reclama quando vê as coisas desorganizadas pois é da desorganização, da confusão, que o indivíduo: o  anarquista consegue satisfazer seus interesses pessoais.

O IMOBILISTA: deliberadamente não se mexe para nada. Seu lema é não fazer onda não afundar sua canoa de interesses pessoais.  Segundo Clodomir Teoria da Organização,  ago.1986 pp 29-36)

“O IMOBILISTA - quanto mais calado e quieto permanecer, menos trabalho lhe toca.

O COMODISTA : é o tipo de oportunista que procura sempre se acomodar ou estar bem com todo mundo quando surgem situações conflitivas. É feito um animal invertebrado,  sem ossos, que pode encolher-se, ajeitar-se para caber em qualquer situação limitada. É uma pessoa deliberadamente tímida; evita afirmar ou negar alguma coisa. Ele já tirou de seu vocabulário as palavras SIM ou Não, a fim de não prejudicar nenhum interesse. Sempre está de acordo com todos aqueles que podem lhe beneficiar.

O SECTARISTA ou RADICAL -  é aquele tipo de oportunista que se sente torturado pela aparente lentidão com que amadurecem as condições necessárias, para a realização das ações fundamentais e decisivas de uma empresa; entretanto o sectário ou radical, se irrita por 9.

 O LIQUIDACIONISTA -  é aquele tipo de oportunista que habilmente busca liquidar ou suprimir uma ação que posa prejudicar seu interesse pessoal e nos dá o exemplo: no dia em que uma reunião ou uma ação qualquer da empresa coincide com um encontro amoroso do liquidacionista, rapidamente  suprime ou liquida a reunião considerando-a sem maior importância ou adiando-a para qualquer outro dia.

O AVENTUREIRO - como todos os demais subjetivistas, nunca consulta a realidade na qual vai se basear a ação. Tampouco mede as consequências ou os resultados De sua ação. O aventureiro pensa e age dentro de um marco idealista.  Jamais planeja com base na realidade e sim baseado no que pensa, ou supõe que é factível realizar. Geralmente o indivíduo com tendências ao aventureirismo atua isoladamente e facilmente rompe a unidade da empresa, dividindo-a. Quando o aventureiro não encontra resistência dos associados, acaba por conduzir a todos à aventura de consequências imprevisíveis.

O AUTOSUFICIENTE – É o indivíduo que tem resposta para tudo;  não ignora nada, não pergunta nada nem pede nenhuma explicação, nunca tem  dúvidas. Estando perdido em uma grande cidade, o indivíduo autosuficiente não reconhece que não sabe onde está e tenta, às cegas, encontrar sozinho a rua aonde vai. Quando discute não ouve ninguém. Quando participa de uma reunião não anota nada. Os autosuficientes são mais frequentes entre os artesãos intelectuais e entre os camponeses. Há camponeses que contraem dívidas (empréstimos) para que sua empresa, plante duzentos canteiros de melão, simplesmente por imaginar que nos Estados Unidos se consome muito esta fruta. Não consultam os mecanismos de mercado, não consultam os meios e os custos de transporte. Para os autosuficientes, basta saber que vão fazer um grande negócio plantando melão para vender aos Estados Unidos. (Morais, 1986, pp. 29-36). “

Por ocasião da minha Pós-Graduação em Gestão de Pessoas fiz diversos trabalhos citando as obras do mestre e este texto foi a base para analise da compreensão do comportamento humano e compôs o meu trabalho de conclusão do curso. (TCC)

É uma definição realista e sempre real,  no contexto presente e em se tratando do mestre Clodomir, é interesse transmitir ao máximo possível, seu pensamento, sua obra que segue inacabada dentro de cada criatura, na busca da utópica perfeição.  Meu deslumbramento com a sua obra iniciara quando o conheci, em sua passagem pela Universidade de Brasilia e em 2010 fiz um ensaio biográfico que foi publicado no espaço  do Recanto das Letras. Com sua morte em 2016, atualizei a homenagem em vida, para uma homenagem póstuma, alterando o tempo da reflexão escrita.

Voltemos a  1956,  aos 17 anos do Professor Sociologo e advogado, época em que por consequência de sua irreverencia cultural, fora convidado a se retirar do colégio Salesiano, para não ser de fato  expulso. Não tive tal sorte.  Em 1972, eleito presidente do Gremio Cultural do Colegio Popular Oliveira Magalhães, minha irreverência levou-me a expulsão do colégio com um anuncio fixado no poste da calçada, esquina da seretaria do colégio que dizia assim: “ O aluno Flamarion Antonio de Araujo Costa está expulso deste estabelecimento de ensino, por ser um individuo nocivo ao bom funcionamento deste entidade”. Isso é outra história a se contar, mas o rapazinho Clodomir foi parar em outro colégio de dura disciplina, a Escola Adventista do Sétimo dia, influenciado por alí estudar vários contemporâneos santamarienses, como cita na entrevista:  Otoniel Brandão – Advogado, Enoque da Rodha Medrado – poeta que morou na rua dos doidos em Santa Maria. Nesta ocasião publicara seu primeiro livro, O Amor e a Sociedade, cujo tema se resumia nas lutas de classe. Foi um estardalhaço, que acabou lhe gerando o convite para tornar-se membro da Academia de Letras da cidade de São Paulo, aos 18 anos de idade.

Clodomir se queixava do curriculum escolar tanto do Salesciano quanto da Escola Adventista, queria mais e por isso fez economia  e pagou um ano de escola ...   e ali encontrou como colegas de classe nomes importantes da cultura e politica nacional, como Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da republica  ...

Clodomir sempre fora atendo aos movimentos sociais e  as tendências políticas. Era um defensor das classes menos favorecidas o que ficou provado em todas suas ações, disse certa feita, razão de procurar estar sempre inteirado dos fatos políticos e social. Costuma dizer :

“quando não se tem a visão do que acontece no mundo, é como se vivesse no limbo, numa visão do nada, em um céu sem nuvens.”

Conheceu o movimento da juventude Mussulini e o movimento das galinhas verdes, ambas se vestiam de preto e se manifestavam nas ruas, em devesa de seus objetivos, por uma sociedade mais justa, com menos discriminação e com maior igualdade de oportunidades para ricos e pobres. Alegava que este é um dos problemas crônicos dos países em desenvolvimento. A falta de oportunidades atinge em cheio a juventude, que na falta de oportunidade se perde, desistindo da escola antes de uma formação específica.

Entendemos que não se tem hoje, brasileiros de tal  envergadura  moral e ética. Pelo que hoje assistimos nos noticiários, estamos falidos de  lideranças éticas e morais, tal qual o Pais. Não tivemos renovação de valores, nas ultimas décadas e hoje sofremos o resultado desta falta de valores referenciais. Nossas autoridades jurídicas, legislativas e executivas,  se distanciam a largos passos, do tempo em que os homens honravam suas palavras, e essas, valiam mais que assinaturas protocoladas e reconhecidas em cartórios.  O resultado de tudo isso está na mídia, na ruas, uma  crise ética e moral, imoral; originada exatamente pela perda dos valores referenciais, que afetam o mais sacragado principio  social. A familia. Os jovens de então carecem desacreditado de suas autoridades e longe dos valores patrióticos, que se aprendia na escola, os conceitos básicos de moral e cívica.

Clodomir continuara sendo uma dessas reserva morais, que  sempre teve lugar de honra na história do povo santamariense, do povo brasileiro e do mundo, do qual se fez um cidadão, nos deixando um legado capaz de transformar aquele que crê em seus princípios de sociedade. 

Clodomir foi e é, o que podemos rotular além de um símbolo de honra de um lider. Um pai, um irmão, alguém que viveu para servir o próximo, por mais distante que se fizesse dele. Por  décadas,  nos serviu de parâmetro, principalmente nessa era vazia de valores patrióticos.  Sua vida fora pautada pela luta em favor das comunidades carentes e excluídas sociais. Sem a demagogia, sem exploração, sem  conveniências; como se vê no cenário políticos das ultimas décadas. Clodomir tinha por anseio a defesa dos direitos do cidadão, diante das obrigações do Estado, para isso formou-se em Direito e depois Sociologia, fez mestrado, doutorado chegou ao topo como se não tivesse topo, pois a arte de aprender não tem um parâmetro conclusivo.

Uma sociedade  justa se pauta pela consciência de homens justos, íntegros, que agem pelo coração, independente de cor, credo ou classe social. Todos temos os mesmos direitos e privilégios, sem que seja necessário destacar situações étnicas. Rótulos são padrões, convenções estabelecidos para marcas e não seres humanos. Esta é a grande lição que apendi, no breve tempo de convívio, na Casa Oscar Niemeyer, em Brasília, ao ser  voluntário da IATTEMUNDO,  na ministração de cursos de informática, para comunidades carentes, nos anos 90.

Reconhecemos no Professor Clodomir, militante comunista, brasileiro santamariense, que deu di si o que tinha de mais nobre. O conhecimento.  Lutou contra a ditadura, não apenas com palavras, mas ação. Foi além das ruas, entregou-se de corpo e alma; tornou-se  testemunha ocular dos fatos a ponto de tornar-se vítima da brutal ditadura.  Em São Paulo pôs em prática os poucos, mais dedicados, dons aprendidos em Santa Maria da Vitória, como: . Alfaiate e Músico, pilares em que firmou sua sobrevivência. Trabalhou como músico de instrumento de sopro, mais especificamente clarinete e saxofone; sem deixar de dedicar-se a profissão de alfaiate. Por muito tempo foi essa sua principal atividade de sustento. Naquela época um jovem não deixava sua cidade natal, no interior do País, sem uma profissão.  Datilografo, Carpinteiro, Pedreiro, Alfaiate, Pedreiro, Servente, em alguma coisa o homem  tem ser bom,  no que faz e Clodomir acumulava dons que foram se revelando na vida, a medida em que se desenvolvia como homem.  O espírito aventureiro, a sede pelo conhecimento, a vida em grandes centro, os sonho de sua independência, gritavam mais alto na alma do menino que crescia rompendo barreiras. Lançou-se ao mar, apegado a tábua da determinação. Ir e vencer, voltar, certamente não era parte de seus planos, sem antes ter uma história pra contar.

 Muitos, como   Clodomir, se lançaram neste oceano indefinido da vida,  alguns não venceram as tempestades, outros chegaram a praia. . Deixar o convívio  familiar e o sossego de uma vida pacata interiorana,  era de fato um ato de bravura. Não era coisa para qualquer um.  Deixar amizades seguras, pai, mãe, irmão, sua segurança de casa, pela aventura desconhecida, sem ter telefone celular, apenas, quando possível, uma mensagem de rádio que poderia ser ouvida por alguém na cidade... era como lançar um garrafa com mensagem de socorro ao mar... Quando será que vista?   Não se pode deixar de enfatizar  que a comunicação naquela época limitava-se as ondas do rádio, os correios, um encontro casual com um conterrâneo,  as velhas cartas ou telegramas. Jornais e revistas  no interior sempre chegavam com validades vencidas;  serviam apenas para as autoridades e os homens cultos conferirem com imagens fotográficas, as noticias do rádio da semana passada ou da quinzena passada; quando não o mês. Quanto mais novo, ou próximo da noticia do radio, a revista ou o jornal, tornava-se objeto de desejo e era repassado de mãos em mãos.

Clodomir teve uma vida agitada e produtiva, agitada do ponto de vista do empreendedorismo cultural; um homem sempre a frente do seu tempo. Nunca deixou de pensar em sua terra, Santa Maria da Vitoria,  por mais longo que fosse o período de afastamento. Sua trajetória não se limitou ao Brasil, mas ao mundo. Foi contemporâneo de meu Pai na escola de Profa. Rosa Magalhães; meninos inquietos em suas ansiedades de sair das mesmices. Encenaram peças teatrais, movimentaram a vida cultural da cidade; tornam-se músicos e alfaiates, mas Clodomir foi mais além.  

Em 1951 já estava em Salvador, onde liderou a oposição contra o governo de Regis Pacheco, na ocasião atuava como repórter. Escrevia e imprimia um jornal de vanguarda, onde era o editor chefe, com alguns colaboradores. O Jornal mexeu com peixes graúdos, que mandaram a polícia atear fogo na sede do jornal. Isso era um sinal de que Clodomir estava no rumo certo, do lado certo. Passou a ser perseguido político e logo logo  era o 12º.  na lista dos militares. Além de deputado pelo PDdoB, era também um deputado do partido.
Entre 1950 a 1960 viveu a década da inquietação politica e  já residindo em Pernambuco, onde foi eleito deputado e fez parte do grupo do celebre Luis Carlos Prestres.

Em Pernambuco formou-se em Direito pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Tornou-se repórter dos jornais Diário de Pernambuco, Jornal do Comercio e , O Diário da Noite; colaborou com diversos periódicos de menos porte, como Folha da Manhã, Folha Vespertina e Correio do Povo. A mídia era o rádio, eu não era mídia. No radio  manteve vários programas de boa audiência; tratava de diversos assuntos, todos de interesse comunitário. Atuou  na Rádio Clube e Radio Olinda. Clodomir não tinha mais tempo para ser musico, sua batuta se transformara num microfone e numa caneta. 

Era um estudioso incessante, sempre teve fome do saber.  Já formado em direito, iniciava neste período a se interessar pela Sociologia, ciências humanas que estuda o comportamento humano em função do meio e dos processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições, na tentativa de explicá-los em suas relações de interdependência. Clodomir se preparou para uma próspera carreira política, no estudo da compressão das diferentes sociais e culturais,  ainda no  período de estudante na Escola Salesciana,  onde conta que aprendera a montar  radio e junto com os colegas montara o radio que ligavam todas as noites, quando o frade responsável pela disciplina se recolhia certos que todos estavam na cama. Clodomir e seu grupo levantavam, ligavam o radinho para ouvir musicas “mundanas” e as noticas do que acontecia fora do internato.

Foi na fabrica da Ford que  se associou ao movimento da juventude comunista e mais arde, em Pernambuco, as Ligas Camponesas, que mais tarde o elegera  deputado. Teve pela frente o golpe de 64 e a instalação da ditadura militar.

As  organizações de camponeses formadas pelo Partido Comunista Brasileiro - PCB a partir de 1945, foi um dos movimentos mais importantes em prol da reforma agrária e da melhoria das condições de vida do homem do campo. Longe do que é hoje a anarquia do MST. O MST foi abafado no fim do governo de Getúlio Vargas, retornado suas ações e movimento em 1954, no estado de Pernambuco, onde recebeu apoio Clodomir Morais e posteriormente cresceu em outros estados. A partir daí, as Ligas Camponesas exerceram intensa atividade até a queda de João Goulart, em 1964. O mais conhecido líder do primeiro período foi Gregório Lourenço BezerraFrancisco Julião Arruda de Paula.

O nome de Clodomir Morais também se estampa na história do movimento das Ligas Camponesas, que se fundiu no MST, com o surgimento do Partido dos Trabalhadores, na década de 80.  Clodomir viveu uma vida politica atuante, na era Vargas sobreviveu a era da ditadura militar, quando foi preso e exilado em 1962.

A história Clodomir  é para mim um fascínio, um filme de ação, patriotismo. Sempre que tive oportunidade, a divulguei,  na esperança de  servir de parâmetro, para os jovens de hoje, que tendo todas as facilidades de um mundo moderno, tecnologicamente viável,  que põe ao alcance de todos, a informação, o conhecimento e torna igual as oportunidades, como sonhava Clodomir. Basta ao  jovens de hoje querer e o conhecimento que está disponível em qualquer lugar, nas redes sócias, nas s bibliotecas se multiplicam  por todos lugares. Em Brasilia as muitas paradas de ônibus, se tornaram  bibliotecas publicas onde você pode levar um livro e sem necessariamente a obrigatoriedade de deixar outro. As redes de computadores estão dentro de casa e nas ruas, o que falta ao jovem senão querer?!.

Para vencer na vida, primeiro precisamos vencer a nós mesmos; vencer nossos preconceitos, nossa vaidade, não permitindo que sobreviva em nós, o espírito de comodidade humana, conhecido como preguiça.                            (fanacos)

Clodomir tinha origem modesta; sua mãe era cortadora de cana e seu pai Alfaiate,  obvio, não era ticos, nem remediados, eram pobres,  sem miséria. Talvez fosse ele o mais sonhador de cindo filhos! Sonhava, como lá se dizia "ser alguém na vida" e foi, foi o grande, foi mestre. Se voltar era uma consequência natural, para Clodomir tinha que haver uma razão para voltar, e não simplesmente voltar. Tinha-se que ter uma historia vitoriosa, um resultado plausível, não só em razão do seu ego, mas também, presumo,  para presentear  sua terra, seus amigos, sua família e o, forte brasão dos Morais de Santa Maria da Vitória.

 Se sobreviver em São Paulo hoje já é uma tarefa árdua, naquele tempo não era nada mais ameno; talvez se contasse com maior afeto por parte das pessoas, mas a qualquer tempo a determinação, a responsabilidade, o desejo de prosperar, são parcelas fundamentais para atingir o sucesso. 

 Morais, como era conhecido pelos mais íntimos, criou e dirigiu uma ampla delegação parlamentar de Pernambuco e Paraíba aos países do Leste europeu e outros países do ocidente europeu, a fim de forçar o estabelecimento de relações culturais e comerciais com a União Soviética, Tchecoeslováquia, Alemanha Oriental, Alemanha Federal, no curto governo de Jânio Quadros; Conseguiu aprovar por unanimidade, na Assembleia Legislativa de Pernambuco, seu projeto de criação do Banco de Desenvolvimento de Pernambuco (BANDEPE). Costumava dizer:

“Eu sou um lascado em matéria de dinheiro, porém fundei um dos grandes bancos do país.”  Se vê porque Clodomir de Morais é um referencial para cultura e polica nacional.

Atuou por décadas na ONU onde promovera diversas frentes de trabalhos, voltados para a educação. O conhecia de ouvir falar, mas no inicio dos anos 90 o conheci, ao retornar do exílio e assumir uma cadeira no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. Criou a IATTERMUNDO (Instituto de Apoio Técnico aos Países de Terceiro Mundo) com sede na casa Oscar Niemeyer/UnB, onde promovia cursos profissionalizantes para comunidades carentes. Atuei nesse período como professor de informática, formando de técnicos de manutenção e operadores de diversos aplicativos para um mercado em plena expansão. 

No golpe militar deflagrado em 1964, seu nome já era figurinha marcada pelas  lideranças militares, como uma das lideranças a ser eliminada;   afinal, era um militante do PCdoB e uma liderança no cenário nacional. Não demorou e Clodomir foi preso e excilado. Paulo Freire era o seu companheiro de cela e juntos essas duas celebridades traçavam planos para mudar a cultura social e política do País. Paulo Freire é o referencial maior da cultura nacional, o grande responsável pela modernização do ensino brasileiro. Quem nos assegura de que não haja, na inovação do Ensino aplicada do Paulo Freire, não tenha uns “pitacos” do Professor e Sociólogo Clodoir?!   O período de cárcere serviu para estreitar a amizade, o patriotismo entre esses dois idealistas e esse encontro no cárcere está registrado no livro "Aprendendo com a própria história”, autor Paulo Freire, (Editora Paz e Terra)".

Ainda menino, entre os 11 aos 12 anos, quando residi no Rio de Janeiro com uma tia (Jublia Costa); chamou-me no quarto para vê a noticia sobre um prisioneiro da ditadura. Ela assustada com o que poderia acontecer com o prisioneiro que conhecia dos tempos de Escola,  disse-me que se tratava de um terrorista, segundo o governo, chamado Clodomir de Moraes e que ele era de Santa Maria da Vitória.  Depois disso nunca mais ouvimos nada sobre o prisioneiro, que acabou sendo expulso do seu País. Suas orações e as orações de muitas velhinhas de Santa Maria, principalmente sua mãe,  foram ouvidas.  Morais fora expulso do país e não assassinado.

No meu livro, "Conto mais um ponto" narro um episódio ocorrido em Correntina, quando os militares mandavam e desmandavam, sob a proteção do Partido da Revolução Nacional, diga-se ARENA, onde se alojavam todos os políticos de direita e a oposição, impedida em sua liberdade de manifestar ou criar outros partidos de oposição, tiveram que se contentar com a legenda da ARENA-2, numa ação política vigiada. Nesse período, representava Santa Maria e a região do oeste baiano um deputado  santamariense, Deputado estadual Adão de Souza, ligado a Arena 1, logo, um aliado dos militares. Certo dia corri, como todo menino corria,  atrás de um avião que girava no céu buscando a rota de pouso, (conto Correndo atrás do avião) e ao pousar, ví sair da aeronave um cidadão elegante, num terno fino e sapatos reluzentes, que era esperado pela comitiva do Prefeito Elias França Barbosa. A filarmônica tocava um dobrado de autoria do maestro João Guara, (Dois corações)... fogos e mais fogos... viva o deputado Adão! Viva o Prefeito Elias... A comitiva desceu a rua da fusaca, como assim era chamada a rua Gois Calmon,  como uma procissão de gente feliz!

Iam  a frente as autoridades, cumprimentadas por acenos das janelas e portas tomadas por curiosos. Fogos de artifícios chamavam atenção, propositadamente. A procissão política tinha que ser vista e correspondida pelo povo, era uma prova de prestígio popular do Prefeito, principalmente em razão daqueles que saiam e se juntavam a procissão política.  Não restam duvidas que o Deputado e o Prefeito eram aliados dos militares, que protegiam seus agraciados sob o manto do Partido da Renovação Nacional - diga-se ARENA 1, certamente éramos a oposição era os cristãos que ao menor vacilo, a política descia o porrete de borracha, quando não os enjaulavam sob acusação de perturbar a ordem pública. 

Lembrei-me de um certo Deputado, baiano, de mandato pernambucano, filho de Santa Maria da Vitória... Aquele que minha dia mostrara na televisão preto e branco, preso no Rio de Janeiro... Pensei com meus botões: - Qual deles é o verdadeiro herói do povo? O que aceitou servir as conveniências militares, através da ARENA 1 ou aquele que foi preso por não aceitar  trair seus ideais e os interesses do seu povo ? A resposta é sua.!

 Quando disse no inicio que os brasileiros teriam que se orgulhar e procurar  conhecer a história de Clodomir Santos de Morais, não foi exagerado. Isso que escrevi é apenas uma breve introdução do pouco que sei do grande mestre Clodomir.

Após a anistia e abertura política pelo General Figueiredo em 1979, Clodomir Morais retornou ao Brasil, visitou sua terra natal e é obvio que não poderia ali se estabelecer naquele momento. Tinha muita coisa por fazer, pouco tempo, quem sabe, para recuperar todo tempo perdido no Brasil, pois suas ações não pararam em nenhum momento enquanto esteve exilado. Sua nave pousou na Universidade de Brasilia, onde criou o Instituto IATTERMUNDO, trazendo com ele o fiel escudeiro, Joaquim Lisboa, meu amigo contemporâneo, que tornou-se um guardião da obra do mestre e hoje é o responsável pela biblioteca Campesina, fundada por Clodomir quando esse concluíra idealizado em Brasilia, que nos deixou por legado a IATTERMUNDO,    uma ONG de Apoio Técnico aos Países do Terceiro Mundo. A seu convite passo  ser um membro da diretoria naquele período e passo então  a contribuir com trabalhos voluntários.
O Instituto implementou o projeto dos dez Sistemas de Participação Social na identificação de Projetos geradores de Emprego e Renda, que atualmente funcionam nas cidades de São Paulo, Cuiabá, Vitória, São Paulo, Mato Grosso e Espírito Santos, Alagoas, Tocantins e Rondônia. Sua passagem organizacional passa também pelo movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST); em todos os seus projetos de luta, está clara a busca de soluções e oportunidade para todos os povos, promovendo ações na geração de postos de trabalho e disparando o processos de organização das massas;, visando dar soluções a problemas crônicos, como a distribuição de renda e de terras, na tão sonhada e nunca concluída Reforma Agrária.

.Mas foi no dia 31 de dezembro 1979, mesmo ano da abertura política e fim do período de muitos exilados, que Clodomir retorna a Santa Maria da Vitória, depois de longas décadas, afastado. Sentia necessidade urgente de rever sua terra, seus amigos, seus parentes, que por vezes não acreditavam nunca, que um dia poderia revê-los, vivo ou morto. Naquele dia foi recebido com um justo reconhecimento e homenagens. Centenas de santamarienses, na praça principal o saudavam, alguns até com aclamação e admiração. Era o retorno do filho querido, importante,  que deixou sua terra aos 14 anos de idade, para se tornar um cidadão do mundo.

Saciada a saudade, Clodomir retorna a sua trajetória publica de cidadão do mundo; viaja o mundo pela Organização das Nações Unidas, com missões bem sucedidas em Costa Rica, Honduras, Portugal, Suíça, México, Chile, Nicarágua e Alemanha. Suas ditas missões objetivavam a criação de emprego e renda para as populações carentes, no meio rural e urbano em todos os continentes onde havia representação da ONU.  Clodomir era o responsável, pela Organização Internacional do Trabalho e Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, Organização do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e outras missões por ele comandadas, todas, lograram êxitos.

 Clodomir aposentou-se algumas atividades, mas nunca se aposentou de seus ideias, na saúde, na alegria, na tristeza, na doença, fosse o tempo que fosse, ele estava ali, firme. Viajando menos, porém mais incomodado em  vê o ritmo dos projetos como ele queria. No seu ritmo. De quando em vez recebia um recado e um convite, para retornar a fundação IATTERMUNDO,  quem dera eu tivesse o ritmo do velho mestre. Entre Santa Maria e Rodonia, onde sua esposa era servidora do Estado, ele transitava, com algumas paradas rápidas por Brasilia, onde por vezes nos víamos. 

Clodomir Santos de Morais um supre acadêmico. Professor residente nas Universidades de Rostock (Alemanha); Universidad de Chile, institución de educación superior estatal y pública;  na Universidade de Brasília (Brasil). Na universidade alemã cursou seu doutorado de direito. 

O desemprego, segundo Clodomir de Morais:  "é o responsável pela camuflada Guerra Civil do desemprego, na qual milhares e milhares de indivíduos se matam violentamente, seja roubando, assaltando ou traficando drogas. O desemprego põe os indivíduos uns contra os outros e também empurra povos contra povos, nações contra nações à luz dos choques surgidos pelo fechamento de fronteiras, contra os migrantes e por políticas de discriminação racial. A capacitação Massiva para a criação de postos de trabalho nos espaços econômicos deixados pelo empresário capitalista da tecnologia de ponta, constitui a forma correta de enfrentar o fenômeno massivo do desemprego."

Clodomir de Morais foi conferencista nas Universidades de Berlim (Alemanha), de Wisconsin (EUA), e em varias universidades da América Latina e África. Foi professor de sociologia na Universidade Federal de Rondônia desde 1996. Mais de 20 livros publicados, alguns dos quais em vários idiomas. Seu pequeno manual Elementos de teoria da Organização, feito para operários, assalariados agrícolas, estudantes secundaristas e universitário, já alcançou 133 edições em 14 diferentes países e em vários idiomas e dialetos.

Um fato interessante e até mesmo profético, aconteceu em outubro de 2015 quando Clodomir esteve no I Congresso do MPA, participando das atividades do evento onde fora homenageado, recebendo o reconhecimento dos camponeses brasileiros.

Esteve presente no evento a Presidente Dilma, que ao adentrar o recindo do Congresso, parou e o escutou por um ou dois alguns minutos os aplausos de 4 mil camponeses a aguardava e o mestre discretamente lhe disse:
“Dilma, aí está o seu pré-sal, acredite nas massas, as massas são quem fazem as revoluções, e ela poderá assegurar e reconduzir o seu governo rumo a justiça social, apõe-se nas massas”.  

Está aí o momento político, onde as massas se dividem em opiniões. Os verdes e amarelos  pedem  a sua saída do governos, enquanto os vermelhos  gritam: Não vai ter golpe.  Este fato nos reporta ao movimento das galinhas verdes  Nos lembrou Clodomir que a Ação Integralista Brasileira (AIB – 1932)  que acabou por ser  uma extensão do movimento constitucionalista. Vestiam camisas verdes, para diferencia-los dos opositores. (Tal qual hoje, os verdes e amarelos e o vermelhos).  Nos contou Clodomir em 2013 em nosso ultimo encontro, quando falamos do momento político: - Plinio Salgado marcou uma  marcha afim de celebrar o segundo aniversário do Manifesto Integralista. Compareceram a praça da Sé, quase 10 mil seguidores.  O fato gerou um conflito de oponentes, que interpretaram a iniciativa como uma demonstração de força inspirada na Marcha sobre Roma - manifestação fascista de 1922, que impulsionou Mussolini ao poder; então fora mobilizarada a força policiam e o pau quebrou. (definição minha)

"Toda a esquerda se uniu contra a manifestação integralista que seria realizada naquele dia. O objetivo dos integralistas era atacar a organização da classe operária, a sede da Federação Sindical de São Paulo e os sindicatos que tinham sede no edifício Santa Helena, na frente do qual haviam planejado o desfile. A conclusão é que os seguidores da AIB entraram para a história com a  denominação da  "Revoada dos galinhas-verdes, com o desfecho e a debandada dos integralistas, que  corriam se livrando das camisas verdes.

Clodomir era uma enciclopédia viva, sua memória buscava fatos distantes, como se ocorridos no dia anterior. Este é o perfil de um homem que lutou contra a ditadura militar e que depois da anistia, continuou sua luta, por uma questão de idealismo. Não se aproveitou de ter sido um guerreiro da democracia, para assaltar a nação, com projetos imorais, como os atuais homens e mulheres que se valem das comunitárias, para se “dar bem”. O menino fecha o seu ciclo na historia numa pequena cidade do oeste baiano,  as margens do Rio Corrente; retorna as origens, o pó.
 
  
Os heróis podem cometer equívocos, mas nunca erram, se não desiste da sua luta, não decepcionam nunca.  Clodomir estará sempre presente em espirito, nas paginas de seus livros, manuais,  artigos e mídias. Estará presente enquanto vida houver em um que seja de seus discípulos. Ao professor minha eterna gratidão, minha admiração e meu pesar por esta separação apenas física, mas dolorida.  Obrigado professor Clodomir de Morais, obrigado Santa Maria da Vitória, por tão honrado filho, tão tão dignificante história, aqui resumida por um admirador incontestável do menino, do homem, do ancião.

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FONTE: Livraria Campesina.
Este texto será publico no formado de livreto, com ilustrações e os comentários postados, desde sua primeira versão, em 2010. Convidados para o prefácio o amigo santamariense, Professor João Nogueira da Cruz 
Flamarion Costa
Enviado por Flamarion Costa em 30/06/2010
Reeditado em 24/05/2017
Código do texto: T2350832
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