Eu presenciei um milagre. Parte da história de minha avó.

Sempre acreditei em coisas que muitas pessoas não acreditam. Coisas fantásticas, num mundo que escapa à nossa compreensão. Sempre busquei lutar por uma verdade, por alcançar uma consciência maior, por perceber em todas as razões dos vários processos que nos cercam, algo em comum, uma essência que pudesse estar em tudo. Creio que ainda seja impossível para qualquer um alcançar esse entendimento em sua totalidade, contudo, hoje, me sinto inundado nessa busca.

Pois, então. Hoje entendo a importância de se revelar a superioridade da energia feminina no universo, da importância da sensibilidade. E creio com certeza que aceitar essa parcela do entendimento é entende que existe de fato um Deus, uma energia responsável por tudo, um coração que rege o universo.

Na minha batalha, como mais um guerreiro de tantos, que entendem a necessidade do culto à sensibilidade num mundo que insiste em se tornar insensível, essa semana enfrentei uma etapa difícil. Domingo, enquanto minha menina querida, essa garota especial que está na minha vida, retornava de viagem e eu ansiava para tê-la em meus braços, aconteceu algo que eu nunca pude esperar, apesar de tudo.

Uma “outra menina” da minha vida, uma das mais importantes mulheres, que mais me amou, e que eu amo com muita força, nos deu um grande susto. Essa “outra menina”, já tem 76 aninhos de idade, e se chama Hilda, um nome lindo, e é minha avó. Foi com ela que eu aprendi a adorar as mulheres, e com meu avô, Francisco, conhecido como Chiquito, a servir todas as mulheres, porque elas são deusas, possuidoras da grande energia da vida.

Nesse domingo, minha avó ligou para minha casa por volta de meio dia, com sua habitual preocupação de não nos causar incomodo, nos disse que estava passando um pouco mal, e pediu que fôssemos à sua casa. Eu e minha mãe fomos já por volta de umas 17hs esperando que fôssemos fazer um pouco massagem nos seus pés, preparar um chá, coisas do tipo. Mas quando chegamos lá, encontramos nossa vozinha com um olhar fundo. A energia saía do seu corpo e era fácil perceber que ela estava muito pior do que tinha falado. Um grande amigo e inquilino dela, guerreiro chamado Espedito, junto ao meu avô lhe davam suporte.

Quando chegamos para abraçá-la, depois de dizer que tinha algo importante, e tentar ficar inventando um monte de coisas do tipo: “Eu queria dizer que o seu irmão viajou e você está sentindo falta dele”. Ela acabou dizendo: “Queridos, acho que vou morrer”.

Uma parte de mim morreu ali. Porque ela, a grande guerreira da luz e uma flor muito especial para toda família parecia estar se despedindo. Eu fechei os olhos dei um abraço e um beijo nos seus cabelos brancos, e em pensamento eu disse: “Isso não vai acontecer. Não agora.”

Saímos apressadamente, com um pesado sentimento de culpa pelo nosso atraso, a um posto de saúde. Ao chegarmos lá o médico diagnosticou crise de pressão alta. Mas logo suas pernas foram ficando fracas e suas mãos perdendo o movimento, assim com sua fala. Eu não queria acreditar no que estava acontecendo. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo, não com ela. Não com minha menina (de 76 anos) que está sempre sorrindo com um bom humor e defendendo minha mãe de tudo. Mas ali estava ela, percebendo que perdia controle sobre a própria coordenação. Meu coração não aceitava o que acontecia.

Dali, fomos a outro hospital. Quando chegamos neste, ela sequer conseguia ficar em pé. Pediu para ir ao banheiro e a dificuldade que tivemos para auxiliá-la parecia fazer com que a gente desejasse que tudo aquilo não passasse de um pesadelo. Foi quando eu percebi que quando estamos com alguém em dificuldades não devemos passar a dificuldade para ela. E daí que com o sorriso mais sincero que consegui colocar no rosto disse para ela: “Que aventura hein vó! Logo vai passar, você vai ver”. A partir daí, se eu saía de perto dela, eu chorava, e meu coração urrava, como um leão, este que passou a me acompanhar desde este dia. Mas perto dela, eu apenas sorria e era fácil fazer um monte de piadas com tudo que me ocorresse vendo que ela ria de tudo que eu dizia. Seguimos assim até o momento de sua internação (e a gente só tinha saído para controlar a pressão dela). De posse da tomografia, a médica nos informou que ela tinha tido um AVC, nos mostrando o raio-x do seu cérebro, nos avisou que ela já vinha de uma série de isquemias cerebrais menores, e que aquela era uma mais aguda. Mas nos informou que com fisioterapia e fonoaudiologia, com o tempo (ao longo dos anos) ela iria recuperar bastante os movimentos.

Eu não aceitava aquelas palavras, e sabia que com ela, tudo seria diferente. Na primeira noite no hospital foi minha mãe que ficou com ela. Eu e meu avô fomos para casa, nos deitamos por volta de umas 3hs da manhã e nos levantamos à 5hs para voltarmos ao hospital. Deixei o meu avô lá, que passou o dia com ela, fui para aula, que não teve, e depois fui para o carro, rodei pela cidade, achei uma árvore onde estacionei embaixo, e ali tentei dormir. Chorei como uma criança, e pensei na minha batalha e na da minha avó, e disse a mim mesmo que se ela não retornasse como ela estava antes que eu abandonaria tudo: o livro, a busca pela verdade, tudo, que se eu não fosse um guerreiro de Deus que pudesse receber aquele “pão” do qual precisávamos tanto, nada valeria a pena. O “pão”, que precisávamos era um milagre.

Naquele dia fora aniversário do meu irmão caçula, fazia 17 anos (finalmente! Que cheguem logo os 18, ninguém aguenta). Entretanto, comemoramos com tristeza, e eu com um desespero mudo dentro do peito. Mas nunca deixei de acreditar. A imagem da minha avó sem movimento, sem fala, era simplesmente inaceitável. Duas amigas da minha mãe foram até o hospital e argumentaram com o médico o fato de estarem praticando dieta zero (não estava recebendo comida), já que minha vó conseguia engolir, mexer as mãos. Foi liberada a refeição para ela, que comeu com satisfação e fome. Ela sempre está com fome. Naquela mesma noite passei com ela no hospital. E foi uma das noites mais felizes da minha vida. A voz dela tinha melhorado bastante, assim como sua fisionomia, estava com os olhos alegres. A gente conversou bastante, eu li para ela, fizemos muitas orações. Brincamos e fizemos piada com a situação. Em determinada hora ela me disse: “Não conte ao seu irmão o que aconteceu comigo”. E eu lhe respondi, com confiança: “Quando ele voltar a senhora já vai estar boa”. Não sabia efetivamente se seria assim que aconteceria, mas era o que eu desejava, e tinha a certeza de que a convicção das minhas palavras lhe davam forças para lutar internamente. Expliquei para ela a importância que ela tinha para todos nós, e o fato de que com Deus, tudo era possível.

Na manhã seguinte ela acordou bem melhor, e eu, apesar de ter dormido em uma cadeira com a cabeça encostada na maca em que estava deitada, também me sentia muito bem. Naquela manhã acordamos com uma bela prece que ela tinha preparado para nós. Eu percebia a energia retornando para o seu corpo. Eu li um capítulo de um livro para ela, e depois ela leu para mim, e sem óculos, coisa rara. Leu com desenvoltura e fluidez. Eu pensei, “obrigado meu bom pai, e minha boa mãe” Fiz um pai nosso e uma ave Maria, em voz baixa agradeci a Deus e a Mãe de Deus. Na noite em que passei com ela quando precisou ir ao banheiro pedi ajuda a uma mulher que estava acompanhando sua mãe. O nome dela era Shirley, tinha um rosto lindo, e uma pele morena, parecia indiana. Ela me ajudou, e foi sempre muito simpática. Minha vó me disse que talvez as pessoas do hospital estivessem estranhando tamanha dedicação de um neto para com a vó. E eu pensei “escapam-lhe a consciência e o entendimento”. Todos ali eram extremamente solidários uns com os outros, “então é possível”, pensei.

Na manhã que acordei com ela, minha vó estava ótima. Mexia as mãos, as pernas, falava com facilidade, seus olhos brilhavam. Tentamos andar um pouco pelo hospital, ela conseguiu ficar em pé. Eu nem acreditava. Deu alguns passos para um lado, para outro, cansou-se e deitou. Meu peito era só alegria. Eu ainda não sei como retribuir esse favor a Deus, mas eu ainda vou descobrir. Neste mesmo dia ela recebeu alta, em menos de 72hs! Voltava para casa. Ontem, com uma bengala andou pela casa, e está mais linda do que nunca.

É preciso sempre acreditar, mesmo que no impossível. Eu acreditei no impossível e pedi, e implorei. Minha avó retornou do AVC sem praticamente nenhuma sequela, apenas precisa de uma bengala, mas acho que vai ser por pouco tempo. Está falando, comendo, andando. Essa semana sem medo de dizer, eu presenciei um milagre, um milagre da vida. A medicina errou quando disse que ela ia se recuperar em alguns anos, ela se recuperou em alguns dias.

Parabéns vó! A senhora é um exemplo de um milagre. Obrigado por esse presente, obrigado por me mostrar que tudo é possível quando lutamos pela verdade, e por me consagrar um guerreiro nessa batalha. Te amo muito dona Hilda!

Do seu querido neto, Gregório.

Gregório Borges
Enviado por Gregório Borges em 22/07/2010
Reeditado em 22/07/2010
Código do texto: T2392935
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