Getúlio Vargas, estadista brasileiro

Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja, RS, a 19 de abril de 1882, filho de Manuel do Nascimento Vargas e de Cândida Dornelles Vargas. 

Na sua terra natal, fez o curso primário. Depois de concluí-lo foi, em 1897, para Ouro Preto, naquela época capital de Minas Gerais, onde já se encontravam seus irmãos Viriato e Protásio. No entanto, por causa de uma briga de estudantes, os três tiveram que voltar para seu Estado de origem.
 
Em 1898, ingressou como soldado no 6º Batalhão de Infantaria, que ficava em São Borja e, em 1900, matriculou-se na Escola Preparatória e de Tática, sediada na histórica cidade de Rio Pardo, de onde saiu para fazer parte do 25º Batalhão de Infantaria em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Essa sua permanência no exército, entretanto, durou até o seu regresso de Corumbá, Mato Grosso, para onde tinha sido designado o batalhão, onde servia, com o objetivo de guarnecer a fronteira com a Bolívia. 

De 1903 a 1907, estudou Direito na Faculdade de Direito de Porto Alegre. Enquanto acadêmico, coube-lhe a incumbência de saudar, em nome dos colegas, o candidato à Presidência da República, Dr. Afonso Pena, que, em 1906, visitou o estado do Rio Grande do Sul. Na solenidade de formatura, em 1907, ele foi o orador da turma. 

De 1909 a 1912 e de 1917 a 1921 (dois mandatos), exerceu o cargo de deputado estadual pelo Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). 

De 1923 a 1926, foi deputado federal pelo mesmo partido, exercendo as funções de líder da bancada gaúcha. 

Nos anos de 1926 e 1927, foi ministro da Fazenda do presidente Washington Luís.
 
De 1927 a 1930, foi presidente do Rio Grande do Sul. 

Em 1929, Getúlio Vargas candidatou-se à presidência da República pela Aliança Liberal, partido da oposição. Tendo perdido as eleições, articulou o movimento de deposição do presidente Washington Luís, que culminou com a Revolução de 1930, quando assumiu o governo uma Junta Governativa, que entregou-lhe a chefia do Governo Provisório em 3 de novembro de 1930. Esse governo estendeu-se até a promulgação da nova Constituição da República, em 16 de julho de 1934, que o elegeu presidente da República. 

Em 10 de novembro de 1937, Getúlio dissolveu o Congresso, dando início ao Estado Novo, com a outorga de uma Carta Constitucional, que lhe conferia o controle dos poderes Legislativo e Judiciário. Sua forma de governo passou a ser centralizadora e controladora. Criou o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para controlar e censurar manifestações contrárias ao seu governo. Em dezembro de 1937, assinou decreto, determinando o fechamento dos partidos políticos, inclusive a Ação Integralista Brasileira (AIB), partido político cujos membros, os integralistas, também conhecidos como camisas-verdes, em razão do uniforme que usavam, eram anti-semitas e defendiam um estado autoritário. Em 11 de maio de 1938, os integralistas, insatisfeitos com o fechamento da AIB, invadiram o Palácio Guanabara, numa tentativa de deposição de Vargas. Esse episódio ficou conhecido como Levante Integralista. 

Em 1941, Getúlio Vargas foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, entretanto só tomou posse em 29 de dezembro de 1943. A obra literária do presidente compreendia discursos de natureza política em sua maior parte, muitos sem autoria definida. Eles foram reunidos nos livros A Nova Política do Brasil (11 volumes) e O governo trabalhista do Brasil (4 volumes). Depois de sua morte, sua cadeira foi ocupada pelo jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.
 
O Estado Novo vigorou até a deposição de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial e devido às pressões da sociedade pela volta à democracia. Foram 15 anos de ditadura, que se caracterizaram pelo populismo e pelo nacionalismo e durante os quais ele perseguiu e prendeu opositores políticos. Neste mesmo ano, foi convocada a Assembléia Nacional Constituinte. Durante as disputas pela sucessão presidencial, surgiu o movimento conhecido como “queremismo”, que tinha como palavra de ordem “queremos Getúlio” e, como proposta, o adiantamento das eleições diretas para presidente e a manutenção de Vargas no poder, concomitante à instalação da Constituinte. A campanha, que teve o apoio da classe operária, dos sindicatos e dos comunistas, gerou forte reação nos meios militares e na chamada oposição liberal, e foi um dos motivos para a deposição de Vargas. 

Entretanto, ele não abandonou a política: em 1945, criou o Partido Trabalhista Brasileiro - PTB; em 1946, foi eleito senador à Assembléia Nacional Constituinte pelo Partido Social Democrático - PSD-RS. 

Em 3 de outubro de 1950, Getúlio Vargas foi eleito presidente da República em eleições democráticas. Neste governo continuou com uma política nacionalista. 

Em 24 de agosto de 1954, deixando para o país o documento conhecido como Carta-testamento, suicidou-se com um tiro de revólver no coração, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Os motivos apontados para essa decisão dramática são a ineficácia do plano econômico de estabilização: o recurso à emissão monetária desequilibrou as alianças políticas do governo, tanto em relação aos trabalhadores, quanto aos setores da elite que sustentava, receosa dos efeitos que a política trabalhista poderia gerar e a denúncia da oposição e da imprensa de corrupção praticada por assessores de Vargas. O governo, então se desestabilizou, e Vargas não conseguiu manter o controle. Tudo isso, acrescido pelo atentado praticado contra o jornalista Carlos Lacerda, em 5 de agosto, na rua Toneleros, no Rio de Janeiro, e que resultou na morte do major-aviador Rubens Vaz, teve ampla repercussão no país, e é considerado como o incidente que precipitou a crise do governo. 

A morte do “pai dos pobres” comoveu o País. Seu corpo foi velado em duas cidades: primeiro no Rio de Janeiro, no Palácio do Catete durante um dia e uma noite. Milhares de pessoas foram despedir-se do grande estadista brasileiro; depois em São Borja, no Rio Grande do Sul, para onde seu corpo foi levado de avião, por mais um dia e uma noite, na Prefeitura Municipal. Para o enterro no Cemitério Jardim da Paz, formou-se um cortejo de aproximadamente 40 mil pessoas vindas dos mais diversos locais do Brasil e de outros países. O túmulo de Vargas é ponto turístico de sua terra natal. Todos os anos, em duas datas, há atos públicos e homenagens à memória do ex-Presidente: 19 de abril, data de nascimento, e 24 de agosto, aniversário de morte. 

Não podemos deixar de mencionar algumas realizações suas, que aconteceram principalmente na área trabalhista: criou a Justiça do Trabalho (1930), o Ministério da Justiça e o salário mínimo (1940), a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) (1943), a carteira profissional, a semana de 48 horas de trabalho e as férias remuneradas. Na área estatal, criou a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Vale do Rio Doce (1942), a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945) e a Petrobras e entidades como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -1938). 

Foi casdo com Darcy Saramanho Vargas com quem teve cinco filhos. 

Referências
http://www.biblio.com.br/conteudo/biografias/getuliovargas.htm
http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/biografias/ev_bio_getuliovargas.htm
http://www.republicaonline.org.br/RepOnlineNAV/navegacao/presidencias/presidencias.asp?op=busca&secao=pres&cod=15
http://www.suapesquisa.com/vargas/
http://www.saoborja.com.br/getulio/
http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia.php?c=1142

Eis sua Carta-Testamento, escrita antes de seu suicídio:
 
Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. 

Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. 

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. 

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História. 

(Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)

http://www.pdt.org.br/personalidades/getulio_historia_1.asp