Apenas um dia na vida...

Sinto como se a bomba dentro de mim fosse explodir! Ouço o meu inconsciente me pedindo para andar, sair, sem rumo e sem direção, apenas correr, voar, sumir! Busco dentro mim alguma lucidez, mas a voz que clama MUDANÇAS sempre é mais forte, mais alta, mais imperiosa...

Ouço o grito fraco da minha consciência dizer que não sou louca, que posso suportar, que posso seguir adiante e nunca acreditar no diagnóstico de loucura. Que essa bomba de emoções não existe, que é tudo apenas imaginação.

As lágrimas hoje não querem vir, mas a sensação de mutilação continua forte no meu peito, procuro o motivo dessa angústia e não a encontro, reconheço que tenho a vida que muitos desejariam ter... Mas o defeito está dentro de mim. Quero gritar até ficar rouca, ou até a voz acabar; quero correr até não aguentar mais, até as pernas quebrarem; quero voar... comentei dessa última vontade com algumas pessoas, ouvi como resposta de TODOS, pule de alguma janela de um andar bem alto. Ninguém percebeu que a vontade de voar não era com o corpo e sim com a mente, me libertar da gaiola que aprisiona meus pensamentos em lugares escuros e tristes. Ninguém compreendeu o desejo de libertar minhas emoções, de voar em meus sentimentos, em rir até não aguentar mais ao invés de chorar, em andar até não poder mais ao invés de ficar deitada numa cama totalmente sem energia, vontade de comer sentindo o sabor de cada prato ao invés de apenas saciar a necessidade de um corpo físico.

Se as pessoas que perguntei não foram capazes de se preocupar com a profundidade da vontade de VOAR, como poderão compreender que alguém aparentemente tão normal possua um transtorno com um nome tão esquisito de bipolar? Quantos não acharão que estou me escondendo atrás de um diagnóstico que nem ouvi ainda de um médico, para justificar os meus dengos, caprichos e preguiça?

Quem mais, além do próprio paciente pode ter a certeza de que possui uma doença? Se analisarmos as doenças psicossomáticas, o paciente sente dores absurdas no peito, dor na garganta, princípio de cegueira e os exames laborais indicam perfeito estado de todos os órgãos internos. Mas o paciente sabe da sua dor, a sente, a sofre, mas o médico não a encontra através de provas físicas (exames), o motivo da dor do paciente. Quem está errado? Alguém está mentindo?

E no caso do bipolar? Não há provas físicas que demonstrem alguma deficiência em algum órgão do corpo humano, o cérebro de alguns bipolares são exatamente iguais ao das outras pessoas. Como definir uma doença que se aloja num compartimento inexplorado - a mente humana? Como estabelecer parâmetros ou regras gerais se cada bipolar tem uma mente diferente? Como eu posso aceitar esse diagnóstico como solução para os meus problemas? Como não ter uma crise de consciência ao me perceber deprimida se NADA me falta? Como encarar uma depressão sem motivo, sem razão? Ter amor, ter dinheiro, ter um bom emprego, ter uma família maravilhosa, ter Deus, ter fé, ter tudo o que quis e quero e simplesmente estar deprimida e aceitar que é por causa de uma doença que ninguém consegue ver, pegar, medir e acreditar? Como aceitar o uso de medicamentos se o único sintoma é a dor mental, sentimental e emocional? Como entender que alguns comprimidos ministrados em meu corpo físico terá efeito no meu corpo mental, ao que muitos denominam alma/espírito.

Estou um turbilhão de perguntas sem respostas, um turbilhão de dor sem motivos, um turbilhão de vontades que nada significam, assim resumo esse dia.

Ana Sarah
Enviado por Ana Sarah em 18/10/2010
Código do texto: T2563789
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