Dyonélio Machado, o lobo solitário. 

Em 1895, nasceu em Quaraí, na fronteira com o Uruguai, Dyonélio Tubino Machado, filho de Sylvio Rodrigues Machado e de Elvira Tubino Machado.
 
Um acontecimento marcante na sua vida foi o assassinato do pai, que aconteceu quando ele era ainda um menino. 

Em 1903, como a família, que era constituída pela mãe e pelo irmão Severino, ficou pobre, aos oito anos, ele já vendia bilhetes de loteria para ajudar no sustento da casa . Nunca mais esqueceu uma cena terrível que lhe aconteceu: um dia, na rua, encontrou o assassino do pai. O homem queria comprar um bilhete. Esse encontro é narrado pelo próprio escritor: "Não queiram passar pelo momento que passei: negociar com quem me fizera órfão era renegar uma adoração que nada abalaria. Mas trocar por dinheiro os poucos bilhetes de loteria que eu carregava, era obter meio quilo de carne. Cedi. Nossa transação se fez sem palavras. Sabia também o que me esperava em casa: era minha mãe chorando". 

Embora pobre, continuou os estudos. Matriculou-se e ao irmão menor na recém-aberta Escola de Aurélio Porto. Para pagar a escola para os dois, ele dava aulas para os meninos das classes mais atrasadas. Com 12 anos, começou a trabalhar como servente no semanário O Quaraí, o que lhe permitiu conhecer os intelectuais locais. Foi também balconista na livraria de um parente, João Antônio Dias. 

Em 1911, em Quaraí mesmo, ele fundou, o jornal 0 Martelo

Em 1912, foi morar em Porto Alegre, onde permaneceu até estourar a Primeira Guerra Mundial, quando voltou para a terra natal. 

A partir de 1915, começou a colaborar com a Gazeta do Alegrete, o Correio do Povo, o Diário de Notícias e o
Diário Carioca. 

Em 1921, casou com dona Adalgisa Martins, professora de piano, com a qual teve dois filhos, Cecília e Paulo. Também, no mesmo ano, participou, em Porto Alegre, da criação do jornal A Informação

Em 1923, publicou um livro de ensaios políticos, Política Contemporânea

Em 1924, entrou para a Faculdade de Medicina, na qual foi um ótimo aluno. 

Em 1927, publicou um livro de contos chamado Um Pobre Homem

Em 1928, fez concurso público para funcionário do Hospital São Pedro, classificando-se em primeiro lugar. Trabalhou lá durante trinta anos, chegando a ser diretor da instituição. 

Em 1929, formou-se em Medicina. 

Em 1930 e 1931, especializou-se em Psiquiatria no Rio de Janeiro, de onde regressou em 1932. Uma curiosidade sobre este romancista é que, embora fosse médico, não gostava de médicos nem de remédios. Quando adoecia só admitia tomar Melhoral, mas era adepto incondicional de chás e chimarrão. 

Em 1934,  envolveu-se na greve dos gráficos da Livraria do Globo, por isso, foi preso num quartel militar, na Praia de Belas. Como era homem de esquerda, tornou-se membro dedicado do Partido Comunista Brasileiro -PCB.  Após ser solto, foi para o interior ajudar um familiar doente. 

Em 1935, por ocasião da Intentona Comunista, foi preso novamente. Enviado para o Rio de Janeiro, conheceu Graciliano Ramos no cárcere. Enquanto estava preso, soube que seu primeiro romance, Os Ratos, recebeu o Prêmio Machado de Assis, sendo publicado naquele mesmo ano, tornando-o conhecido em todo o País. Essa obra foi muito bem aceita pela crítica. O assunto deste livro é aparentemente banal, fala sobre criaturas medíocres às voltas com um pequeno problema. Ele foi inspirado num pesadelo que sua mãe lhe contou. É a história-epopéia de um pobre barnabé, Naziazeno Barbosa, que durante um dia caminha pelo centro de Porto Alegre em busca de dinheiro para pagar sua dívida com o leiteiro. Depois de conseguir com muita dificuldade e humilhações a quantia necessária, Naziazeno deixa o dinheiro sobre a mesa da cozinha, para ser recolhido pelo implacável cobrador na manhã seguinte. Deita-se para dormir e, cansadíssimo, meio adormecido, ele julgava que os ratos estavam roendo o maço de notas, mas já não tinha mais forças para sair da cama e correr à cozinha a tempo de evitar que acontecesse o pior. O pesadelo do dia torna-se pequeno comparado com a angústia e o sofrimento dessa situação absurda. 

Em 1937, regressou a Porto Alegre, por coincidência no dia em que aconteceu o golpe do Estado Novo. Para não ser preso mais uma vez, fugiu para Santa Catarina pelo litoral, com identidade falsa. Conta-se que, anos depois, ele reconheu, no Hospital São Pedro, o motorista de caminhão que o ajudara naquela viagem. Fez o que pôde para retribuir o auxílio despretensioso que recebera em tempo difícil, mas não revelou a identidade do doente. 

Em 1942, saiu O Louco do Cati

Em 1944, veio a público
Desolação. 

Em 1946, Passos Perdidos. Neste mesmo ano, fundou, com o camarada Décio Freitas, o jornal Tribuna Gaúcha, porta-voz do Partido Comunista Brasileiro. 

Em 1947, com o PCB na legalidade, Dyonélio elegeu-se deputado estadual pelo velho "partidão" e tornou-se líder da sua bancada na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. 

Em 1948, foi cassado, em janeiro, quando o PCB caiu na clandestinidade. 

Em 1966, lançou Deuses Econômicos

Em 1977, aos 82 anos, teve o primeiro infarto do miocárdio. Ele sofria também de insônia crônica. Neste ano, recebeu o Prêmio Especial de Crítica de São Paulo e foi empossado na Academia Rio-Grandense de Letras, na cadeira de Eduardo Guimarães. 

Em 1980, saíram os livros Prodígios e Endiabrados, Sol Subterrâneo e Nuanças

Em 1981, foi a vez de Fada e
Ele Vem do Fundão. 

No dia 19 de junho de 1985, Dyonélio Machado faleceu no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre. 

Dyonélio foi ainda um dos fundadores da Associação Rio-Grandense de Imprensa – ARI. Escritor com fama de difícil, pessimista, por vezes impenetrável ao leitor mais apressado, a crítica e o público não receberam suas demais obras do mesmo modo como Os Ratos

Segundo escreve o seu biógrafo Rodrigues Till, ele foi "um médico eminentemente humanitário, sem jamais pretender fazer da profissão um balcão de negócios. Gratuitamente atendia a todos os que o procuravam, desprovidos de quaisquer recursos materiais. E, como decorrência lógica, não seria nunca um amealhador de riqueza pecuniária, daí ter morrido com a consciência tranqüila por ter sabido cumprir, por inteiro, os mandamentos de Hipócrates." Artur Madruga resumiu assim a sua vida: "Foi na medicina que teve seu sustento; na política, seu tormento e na literatura, seu alimento". 

O "Lobo Solitário" da literatura gaúcha, como o chamou Érico Veríssimo, deixou-nos uma obra composta de 12 romances, um livro de contos, um volume de memórias e vários ensaios.

Referências
http://www.al.rs.gov.br/plen/SessoesPlenarias/49/1995/950830.htm
http://memoria.simers.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=173&Itemid=29
http://vestibular.setanet.com.br/resumos/modernismo.htm
http://www.geocities.com/slprometheus/html/dyonelio.htm