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Louis Braille nasceu no dia 4 de janeiro de 1809, na pequena aldeia de Coupvray, a 45 quilômetros de Paris. Seu pai, homem prestigiado na região, era seleiro e fabricante de arreios no povoado.

Aos três anos, quando brincava na oficina do pai, o menino tentou perfurar um pedaço de couro com uma sovela. Aproximou-a do rosto e acabou ferindo fatalmente o olho esquerdo. A infecção produzida pelo acidente expandiu-se, atingindo também o outro olho. Aos cinco anos Louis Braille estava completamente cego.

A maioria das pessoas da aldeia não via sentido em dar a um menino cego as mesmas aulas dadas às outras crianças, mas Louis Braille, esperto, inteligente e interessado em tudo que o cercava, certamente se beneficiaria ao participar das aulas do jovem professor Antoine Bécheret; ao compartilhar a vida escolar com os outros meninos do local.

Com o auxílio de uma bengalinha, ele frequentava a escola todos os dias. Desde o início foi um dos primeiros alunos da classe, pois havia decidido não aceitar a sua cegueira como sendo uma prisão sem livros; um mundo sem a chance de se comunicar com seus amigos, registrar suas ideias ou fazer anotações.

Para ajudá-lo no processo educativo, seu pai martelava pregos na madeira e cortava o couro, formando as letras do alfabeto. Depois, estimulava-o a reconhecer as letras formadas pelo tato.

Aos sete anos Louis Braille ingressou na instituição de Valentin Haüy, homem culto e de nobre coração, que fundara em Paris (1874) uma escola para instruir os deficientes visuais e prepará-los para a vida. Nessa escola, além das aulas de leitura, os alunos também aprendiam fabricar sapatos, trançar cestas, confeccionar cordas, fiar e tecer, fazer chinelos, consertar cadeiras, etc.

Nessa mesma época um capitão da artilharia do exército do rei Luís XVIII, chamado Charles Barbier, aperfeiçoava um código através de pontos - denominado também de "escrita noturna" ou "sonografia" - que permitia ler-se com os dedos, velando, assim, os segredos das mensagens militares e diplomáticas.

Certo dia o capitão Barbier assistiu a uma demonstração da escola frequentada por Louis Braille no Museu da Indústria: alunos cegos leram livros de Valentin Haüy, compostos por páginas grandes preenchidas com enormes letras em relevo. Ele ficou pasmo com a lentidão do processo de traçar cada contorno da letra. Esse fato o motivou a aperfeiçoar o seu código: não usando letras individuais para soletrar as palavras, mas transformando sons inteiros em grupos de pontos e traços.

A invenção do capitão Barbier foi testada com os alunos cegos da instituição de Valentin Haüy. Pontos! Louis Braille estava petrificado. Imagine-se a primeira tentativa, o toque, os murmúrios de interesse sussurrados pelos alunos, o traçado lento dos pontos, a exploração dos diferentes formatos e, então, a agitação aumentando ao perceberem o quanto aquelas formas eram mais fáceis de se distinguir, comparadas às grandes letras em relevo presentes nos livros que eles utilizavam.

O sistema do capitão Barbier não permitia soletrar: fora planejado somente para representar palavras como uma coleção de sons. Não se podiam colocar vírgulas, pontos finais ou qualquer tipo de pontuação nas sentenças. Charles Barbier não havia programado nenhuma combinação de pontos para tal. Também era impossível acentuar palavras – parte essencial da ortografia francesa – ou escrever números, operar matemática, compor música... Havia muitos sinais para uma única palavra. Cada símbolo podia equivaler a seis pontos e uma única sílaba de uma palavra, às vezes, necessitava de vinte pontos. Isso era demais para sentir com um dedo.

Sem dúvida, esse sistema era bem melhor que as letras em relevo de Valentin Haüy, mas gradativamente todos os envolvidos no processo concordavam que, de fato, eram pontos demais e os pontos não diziam o suficiente.

Os detalhes precisos do encontro entre Louis Braille e Charles Barbier não foram registrados, mas sabe-se que o capitão ficou surpreso ao descobrir que um menino de 13 anos pretendia resolver problemas que ele não conseguira.

Apesar da consideração que tinha pelas crianças cegas, o capitão Barbier não podia compartilhar a convicção de Louis Braille da necessidade de um sistema tão elaborado. O que os cegos poderiam querer além de compreender a comunicação básica? Por que desejariam um alfabeto completo, pontuação, até matemática e música como aquele menino ambicioso estava sugerindo?

Ele não compreendia a ânsia por algo que permitiria aos deficientes visuais entrar totalmente no mundo da literatura e da ciência, aptos a ler e compor o pensamento mais complexo e comunicá-lo aos outros, através da escrita.

Diante da obstinação do capitão Charles Barbier, insistindo que o sistema era tão bom quanto necessitava ser, Louis Braille desistiu de convencê-lo. Mas estava certo que os melhoramentos poderiam ser feitos. Com ou sem a ajuda do capitão, ele experimentaria e simplificaria o código. Descobriria algo que fosse adequado, manejável; que fizesse tudo o que a linguagem escrita e falada podia fazer, com toda a flexibilidade do alfabeto normal.

Guiado por tal propósito, Louis Braille iniciou sua busca. Trabalhava, incansavelmente, nos momentos extras extraídos do dia atribulado de aulas, recomeçando à noite - tão logo o silêncio prevalecesse no dormitório -, prosseguindo nas primeiras horas da manhã; nas férias do longo verão sempre calculando, experimentando, revisando, continuando sem interrupção.

Em outubro, quando começou o novo ano escolar, Louis Braille sentiu que seu alfabeto estava pronto. Ele encontrara um modo de formar todas as letras do alfabeto, os acentos, sinais de pontuação e os signos matemáticos, usando apenas seis pontos e alguns pequenos traços horizontais.

Pela primeira vez os alunos cegos puderam tomar notas, copiar as passagens que gostavam e até mesmo o livro inteiro, com faziam as pessoas de visão normal. Mas, Louis Braille continuou experimentando e aperfeiçoando seu "pequeno sistema", como ele chamava.

Em 1826, ainda estudante de apenas 17 anos, começou a ensinar álgebra, gramática e geografia para os alunos mais jovens: o estudante cego estava tornando-se, rapidamente, um excelente professor para os deficientes visuais.

Em 1828, com a idade de 19 anos, Louis Braille tornou-se oficialmente professor da instituição e, quando a escola reabriu após as férias de verão, assumiu o ensino de gramática, geografia, aritmética e música.  

Porém, uma desilusão o aguardava: dificilmente o seu sistema seria aceito. O capital empregado pelas escolas nos livros para cegos não permitia que esses fossem deixados de lado de uma hora para a outra.

Louis Braille, então com vinte anos, começou a ser procurado pelos alunos do Instituto, pedindo-lhe lições do novo sistema. Estas aulas tinham que ser realizadas às escondidas, mas serviriam - pensava ele - para difundir o método e provar a sua funcionalidade. Tentava, ao mesmo tempo, exibir o sistema nos lugares que frequentava. O máximo que conseguiu foi um ofício, no qual o governo francês agradecia a sua contribuição à Ciência.

No dia 6 de janeiro de 1852 Louis Braille faleceu, sem ver o seu trabalho reconhecido. Dois anos depois da sua morte o sistema foi reconhecido oficialmente na França.

Finalmente, após três décadas decorridas, ele se tornaria famoso no mundo todo como o notável benfeitor dos deficientes visuais; o homem cujo trabalho constituiu a rota pela qual milhões de cegos iniciariam uma nova vida, podendo ler, escrever, comunicar-se, aprender, criar e exercer seus plenos direitos na sociedade como seres humanos cultos e educados.

(A presente biografia é produto de pesquisa realizada num amplo conjunto de fontes bibliográficas.)

Maria Aparecida Giacomini Dóro
Enviado por Maria Aparecida Giacomini Dóro em 20/11/2010
Reeditado em 15/05/2022
Código do texto: T2627306
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