Cabelinho de Milho Verde

Na nossa casa somos em quatro irmãos; Claudio o mais velho, eu Cleuza, minha irmã Cleide e o caçula Clóvis. Nascemos e nos criamos na beleza e fartura da amada Fazenda São Roque.

Minha mãe Mercedes, neta da avó Ana espanhola tão loura e alva como os lírios do campo e que se apaixonou pelo avô Satíirio, tão negro quanto as noites sem luar, tão belo e sábio quanto um príncipe das terras distantes além do mar, amor que gerou avó Clotilde, bela e faceira mulata dançadeira de catira que se apaixonara pelo avô Gabriel alto, louro e esguio espanhol de olhos azuis. Dessa união nasceu minha mãe, como a mãe também bela morena sorridente, alegre de bem com a vida, trabalhadeira e cobiçada pelos la garços das redondezas tamanha formosura. Ela se apaixonou pelo meu pai um primor de homem, muito claro de cabelos castanhos e belos olhos azuis, e da união deles viemos nós: Claudio, o primogênito, de tão mimado, arteiro que ele só, pardo( porque a cor morena não existe) de tanto brincar na terra, correr pelos pastos debaixo sol quente ficou quase preto. Depois nasci eu. Minha mãe diz que eu era forte, bonita, viçooosa, parda como minha mãe e meu irmão (naquele tempo se dizia moreninha mas essa cor não existe, ou é branco, pardo ou preto) e quase preta como ele fiquei de tanta me abastar pela imensidão do meu mundo criança. Depois nasceu minha irmã, a Cleidinha, essa era tão alva e delicada como a bisavó Ana, o avô Gabriel, parecia um lírio do campo, herdando deles e de meu pai os encantadores olhos azuis, Depois nasceu o Clovinho, o caçula gracioso e cheio das atenções por ser o nosso bebê, também pardo como nós.

Crescemos brincando na terra vermelha, correndo pelas pastagens ou dependurados nos galhos dos pés de Santa Barbára que cercavam o campo de bola próximo a escolinha, ou dos laranjais do nosso pomar. A Cleidinha também depois que pegou idade de ir para a escola.

Como já disse ela era branca, muito branquinha e seus cabelos amarelinhos se pareciam com os cabelos das espiguinhas de milho verde, assim eu ouvia da boca dos mais velhos admirados pela sua beleza singular. Sua face rosada como as pétalas da rosas do jardim de nossa mãe e os cabelinhos amarelinhos como os raios do sol poente em tarde de inverno, ou, como diziam os mais velhos; se pareciam com os cabelinhos das espigas novas de milho verde lá na roça cheirosa, perto dos abacateiros.

Não sei, essa menina era um mimo, um xodó só. Tinha uma mania de tomar banho toda a hora que saía para fora. Não gostava de se sujar. Virava daqui, virava dali, dava uma voltinha no nosso quintal forrado da terra vermelha e lá vinha ela choramingando, pentelhando nossa mãe sem dar-lhe sossego. Queria lavar os pés. Minha mãe então abandonava seu a fazer fosse no fogão, ou na sua máquina de costura e naquela bacia de alumínio bem grande e barulhenta, enchia dá água farturosa e límpida que saia do chuveiro quentinha, e olha que nesse tempo não havia energia elétrica , mas sim a engenhosidade de do nosso pai sempre preocupado com nosso bem estar providencio para que o encanamento do chuveiro passasse por dentro do fogão à lenha e chegasse no chuveiro tão quente ou tão frio quanto estivesse o fogão.

Ali ela se deleitava e ariava os seus pezinhos que nunca vi caraquento. Diferente dos pés das crianças da roça, mesmo das bem cuidadinhas como nós.