Quem foi Carlos Marighella

"Texto extraído de um livreto sobre Marighella"

Carlos Marighella nasceu em Salvador-BA a 5 de dezembro de 1911. Filho de emigrante italiano e de uma mulher negra que lhe deu o orgulho de possuir sangue escravo.

Infância humilde, ainda adolescente desperta para as lutas sociais. Aos 18 anos inicia o curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e torna-se militante do PC. Todo o resto de sua vida será dedicado à luta dos trabalhadores, à causa da independência nacional e do socialismo.

Como represália a um poema que escrevera tecendo críticas ao interventor Juracy Magalhães, conhece pela primeira vez a prisão em 1932.

Sua militância política leva à interrupção dos estudos universitários, no 3o. ano e em 1935 se desloca para o Rio de Janeiro.

No 1o. de maio de 1936 é novamente preso e enfrenta, até o dia 23, as terríveis torturas da Polícia Especial de Filinto Muller. Permanece encarcerado durante um ano e, quando solto, já deixa entre os companheiros a marca de uma tenacidade impressionante. Foi libertado em 1937 com a Anistia.

É deslocado então para São Paulo onde passa a agir em torno de dois eixos: reorganização dos revolucionários paulistas, duramente atingidos pela repressão e combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas. A capital paulista será o centro de sua vida, de sua luta, até o momento da morte.

Em 1939 voltaria aos cárceres da ditadura, sendo mais uma vez torturado de forma animalesca, no Presídio Especial de São Paulo. Mais uma vez diante dos torturados, negou-se a falar ou ceder qualquer informação. Só a Anistia conquistada pelo povo brasileiro em 1945 o traria de novo às ruas da liberdade. Da liberdade que cantou em poesia nascida no cárcere. Nesses 6 anos de prisão esteve recolhido à ilha de Fernando de Noronha, onde dirigiu sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política de seus companheiros de cárcere. Na CPI que investigaria as torturas do Estado Novo, uma testemunha deporia: "com referência ao deputado Carlos Marighella, afirmou-se aquele médico (Dr. Nilo Rodrigues) que nunca viu tanta resistência a maus tratos e tanta bravura".

Em 1946 foi eleito deputado baiano à Assembléia Constituinte que se seguira à deposição de Getúlio. Será apontado como um dos mais aguerridos parlamentares de todas as bancadas, proferindo em menos de 2 anos 195 discursos. Invariavelmente sua fala era de denúncia das condições de vida do povo, da crescente penetração imperialista no país, em defesa das aspirações operárias.

Em 1948 a repressão do governo Dutra cassará seu mandato parlamentar e reiniciará a perseguição que, mais uma vez, obrigaria Marighella à clandestinidade. E nessa condição permaneceria até sua morte, em 1969.

Na década de 50, em são Paulo, participa ativamente de todas as lutas populares do período: defesa do monopólio estatal do petróleo, contra o envio de soldados brasileiros à Coréia, contra a desnacionalização do ensino e de toda a economia. Cada vez mais, dirigirá sua palavra, seu trabalho e suas propostas no sentido da área rural brasileira. Em 1958 redige o estudo: "Alguns Aspéctos da Renda da Terra no Brasil" que abre uma série de contribuições políticas que haveria de elaborar até 1969. Visitou a China Popular, a União Soviética e anos depois, Cuba, estudando as experiências revolucionárias vitoriosas naqueles países.

Após o golpe militar de 1964, no dia 09 de maio foi localizado pelos beleguins do DOPS em um cinema da Tijuca, no Rio de Janeiro. Frente aos policiais que o cercavam gritaria: "Abaixo a Ditadura Militar Facista! Viva a Democracia!" e recebe um disparo a queima-roupa, que lhe vara o peito. Mesmo ferido não interrompe a resistência e encontra forças para continuar gritando e denunciando a covardia do regime. Descrevendo o episódio no livro "Por que resisti à prisão", Marighella afirmaria que "minha força, vinha mesmo era da convicção política, da certeza de que tudo isso é ditadura e de que a liberdade não se defende senão resistindo."

Repetindo a postura de altivez das prisões anteriores, faz de sua defesa um ataque aos crimes da ditadura e ao obscurantismo que imperava desde 1o. de abril. Catalisa um amplo movimento de solidariedade que força os generais a aceitarem um habeas-corpus que exigia sua imediata libertação.

Dessa data em diante procurará intensificar seu combate ao regime militar e utiliza todos os meios de luta na tentativa de impedir a consolidação do regime ilegal e ilegítimo.

Esgotadas todas as outras vias, sufocados os sindicatos pela interveção, manietado o parlamento, suspensas as garantias constitucionais dos cidadãos, imperando o terror das torturas, Carlos Marighella, "quando já não havia outra solução"- conforme suas próprias palavras - organiza a Ação Libertadora Nacional e luta de armas na mão contra a ditadura.

Em 1969 é apontado pelos órgãos de tortura do regime militar como inimigo No. 1 e passa a ser objeto de uma caçada que envolveria diretamente todas as estruturas repressivas montadas pelo regime militar.

Na noite da ditadura militar, na noite de 1969, na longa noite de 4 de novembro, Carlos Marighella é surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, em São Paulo, e tomba varado pelas mesmas balas que derrubaram centenas de outros brasileiros que, em diferentes trincheiras, assumiram o mesmo combate pela liberdade.

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UMA PROVA EM VERSOS

Resposta em versos ao ponto sorteado "Catóptrica, leis de reflexão e sua demonstração, espelhos, construções de imagens e equações catóptricas"' da cadeira de Física do 5o. ano, no Ginásio da Bahia, em 23 de agosto de 1929.

Doutor, a sério falo, me permita,

Em versos rabiscar a prova escrita.

Espelho é a superfície que produz,

Quando polida, a reflexão da luz.

Há nos espelhos a considerar

Dois casos, quando a imagem se formar.

Caso primeiro: um ponto é que se tem;

Ao segundo um objeto é que convém.

Seja a figura abaixo que se vê,

O espelho seja a linha beta cê.

O ponto P um ponto dado seja,

Como raio incidente R se veja.

O raio refletido vem depois

E o raio luminoso ao ponto 2.

Foi traçada em seguida uma normal,

O ângulo I de incidência a R igual.

Olhando em direção de R segundo,

A imagem vê-se nítida no fundo.

No prolongado, luminoso raio,

Que o refletido encontra de soslaio.

Dois triângulos então o espelho faz,

Retângulos os dois, ambos iguais.

Iguais porque um cateto têm comum,

Dois ângulos iguais formando um.

Iguais também, porque seus complementos

Iguais serão, conforme uns argumentos.

Quanto a graus, A + I possue noventa

B + J outros tantos apresenta.

Por vértices opostos R e J

São iguais assim como R e I.

Mostrado e demonstrado o que é mistér,

I é igual a J como se quer.

Os triângulos iguais viram-se acima,

L2, P2, iguais, isto se exprima.

IMAGEM DE UM PONTO

Atrás do espelho plano então se forma

A imagem, que é simétrica por norma.

IMAGEM DE UM OBJETO

Simétrica, direita e virtual,

E da mesma grandeza por final.

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Melhor explicação ou mais segura,

Encontra-se debaixo na figura.

Carlos Marighella