COM PARENTES - Pai

• Com pai:

No início, como todo o filho de pais separados: aguardando a visita ansiosamente. Meu pai fora-me herói até meus 30 e poucos anos. Demorei muito para perceber tudo o que me ocorrera nessa relação e aquilo que eu trouxera da mesma, vida a fora. Muitas lembranças agradáveis e de muita saudade. As mais inesquecíveis: nossa ida ao Planetário da Gávea, ao Pão-de-Açúcar, ao Corcovado, nossas peladas e caminhadas na praia de Copacabana, nossas idas na praia de Icaraí e as ocasiões em que me levou na Manchete em seu setor de arte-final na Rua do Russel e por último, quando já repórter fotográfico, em gravações de novelas em Vista Alegre.

Das desagradavelmente inesquecíveis: as surras com espectadores, nas ruas, nos bares, na frente de meus colegas. As surras com objetos: tamancos, fivelas, fios e cadeiras. As surras com golpes: chutes e socos no estômago, cascudos, mordidas nos braços e tapas no rosto. Fora as surras, os gritos, as exigências descabidas, os castigos como ler um trecho da Bíblia e lhe explicar depois de uma surra; as duas vezes que me expulsou de casa, uma em Copacabana, a outra em Nova Iguaçu e os xingamentos como se xingaria um adulto. Muita agressividade.

Passei anos, numa inconsciente negação escondendo todos os transtornos causados por tal relação, que não deixou de ser uma grande angústia e frustração sofrida em minha infância. Um pai artista, ótimo pintor de telas a óleo, de muitos amigos, bem querido aonde chegava, porém agressivo e tirano com seu filho, cruel e insano na educação do mesmo e completamente perturbado em seu lado emocional. Fora isso, desleixado consigo mesmo, desorganizado, neurótico e manipulável pelos ambientes que convivia, como uma lagartixa na parede!

Passei anos e mais anos falando de suas qualidades aos quatro ventos como se nada tivesse acontecido em nossa turbulenta relação. De certa forma, essa foi minha fórmula involuntária de não me entregar; minha estratégia de guerra na sobrevivência.

Guardo dele os exemplos de trabalho, de bom relacionamento com as pessoas, seu lado agradável e divertido, algumas fotos e quase 20 anos de distância em seu falecimento datado em 04.08.1989.

João Marcos Batista da Silva, nascido no dia 20 de julho de 1949 em Sagrado Coração de Jesus, distrito de Osasco (se não me engano), cidade da grande São Paulo. Filho de João Batista da Silva, que faleceu em 1974 quando eu tinha 1 ano, membro ativo da igreja Batista e escriturário da estrada de ferro Santos - Sorocabana. Casado com Joana Gomes, senhora que faleceu nos anos 90 completamente louca e quase que totalmente sozinha na Vila Brasilândia, zona norte da capital paulista. Irmãos de meu pai: Clóvis (um ano mais velho), Zuleika e a caçula Lígia.

Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 28/05/2011
Reeditado em 28/05/2011
Código do texto: T2999134
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