MEUS DIÁRIOS... MEU MURAL... MINHAS ESCRITAS...

De fevereiro de 1992 a outubro de 2007 escrevi um diário.

Em outubro de 2008 foi publicado meu livro Flores do Outono.

Desde abril de 2009 comecei a "publicar" em uma das paredes da sala um mural de fotos-súmula (assim mesmo, com hífen), ou fotos - depoimento dos fatos e dos seres fundantes e fundamentais desta já tão longa existência, mural também com fotos-esperança, mural cuja feitura continua de outro modo o diário que parei de escrever a partir de novembro de 2007.

Têm sido estes - diário e mural - os processos através dos quais mantive e venho tentando manter a memória de um “eu" que começou em 1990, eu que pensa ter sido desde então e que prossegue, eu preso por delgado fio em colar de contas, presente ainda nos instantes da escrita desta prosa, colar que, oxalá possa ainda continuar a ser tecido ao longo do tempo necessário para se cumprir o itinerário completo de uma vida - minha vida.

Escrita em 06 de fevereiro de 2011.

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Diários o foram, mural e escrita o têm sido, tentativas que me têm parecido infrutíferas, de fazer-me inventário, de inscrever-me caminhos e veredas para contar-me a mim mesma, de bocas para decifrar-me os mistérios; de signos do sonho de clarear-me o real dos meus próprios pecados e crimes, de signos do sonho de perdoar-me; de signos para autorreconhecimento, a fim de que eu possa vir, ainda, a nascer-me de novo, a nascer-me de novo com forças para cumprir os deveres de honra que me restam cumprir (para além do cumprimento desses deveres de honra, não consigo ver nada mais que me espere para viver, queira Deus enganada esteja). Infrutíferas... mais do que isso... não encontro, nesse momento, que nome lhes possa dar, a esses falsos oráculos de mim, que eles nada me têm sido senão o empilhamento de enigmas sobre enigmas, cada vez mais e mais obscuros, labirintos para quaisquer, para nenhumas saídas à vista.

Quando cessar-me, de vez, o tempo do mural, como cessaram os tempos dos diários, se ainda me restar vida ou simulacro dela, restar-me-á só a escrita, esta sempre tentativa de uma documentação que não me serviu nem me servirá para nada – servirá a alguém, para alguma coisa? Se algumas dessas escritas forem literatura, talvez sirvam qualquer coisa para alguém.

No início da tarde de 06 de julho de 2011.