Agradecimento à Derridá

Certa feita escutei alguém dizer que um filósofo francês chamado Jacques Derridá, baseado na literatura de Heidegger havia discorrido sobre os momentos de fuga, que, grosso modo, são as alternâncias entre fugir de e reencontrar a si mesmo. Por essa razão, agradeço a Derridá por me fazer compreender e aceitar os meus momentos de fuga.

Para fugir de mim mesma me viciei em cigarro, bebida e sexo. Criei um alterego para fugir das responsabilidades de uma vida / realidade normal que para mim parecia demasiadamente perigosa, justamente por ser tão real.

Fechei-me tanto no meu mundo cor-de-rosa, meu plano mestre, um lugar onde não sou imperfeita, gorda ou tão autocrítica a ponto de me auto mutilar. Meu Deus, admiti!

Me auto penitencio, me auto julgo, me auto deprecio porque a ideia da imperfeição me atormenta, me deprime e ao mesmo tempo me persegue com tamanha voracidade que esqueço quem eu sou de verdade e vivo uma mentira: uma mulher pseudo independente, pseudo forte, pseudo determinada, pseudo louca, pseudo irresponsável... São tantos pseudos que me perco neles sem nunca me encontrar.

Sou incapaz de externalizar minhas próprias fraquezas, apesar de conhecê-las, e as camuflo em minhas máscaras, minhas fortalezas. Mas cansei, cansei de ser alguém que não sou, cansei de fingir que não estou nem aí pro mundo, cansei de me maltratar, mas de, principalmente, maltratar aos que me amam e me consideram: meus pais, minha família, meus amigos.

Admito e, agora sim, aceito: sou imperfeita! Cheia de defeitos, de monstros que me perseguem e me transformam. Por causa deles esqueci de fato o que queria (casar, ter filhos, construir uma família como meus pais me deram, como minhas avós fizeram), cansei, então, de camuflar esses desejos em experiências fantasiosamente fúteis.

Cansei de gastar meu dinheiro e minha energia em meus pseudos vícios, minhas pseudos máscaras, em coisas que me dão falsas alegrias momentâneas e que me transformaram numa mulher fria, evasiva, distante e vazia. Removi a superfície frágil e instável que cobria meu ser e deixei a mostra um oceano de desejos, sonhos e amores mais profundos e definidos (que antes acreditava serem minhas maiores fraquezas) e essenciais.

Reencontrei minha essência perdida na minha camuflagem, na minha bulimia, na minha depressão que tanto disfarcei por trás de um sempre excelente humor. Ta aí, meu pedido de socorro: meu humor sempre bom, minhas piadas, meu veneno ácido e letal... Meu pseudo lado malvado, meu monstro interno que me persegue, meu monstro de fuga que esconde uma pessoa boa e linda que ninguém além dela mesma tem o DEVER de matá-lo.

SHEL AHMAD
Enviado por SHEL AHMAD em 08/08/2011
Reeditado em 23/10/2013
Código do texto: T3146870
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