Lembranças da minha infância

Hoje acordei com uma saudade dos meus tempos de menina e resolvi escrever um pouco sobre essa fase maravilhosa em minha vida.

Quando criança, morei com minha avó e todos os dias eu era despertada pelo cheiro do café na garrafa e do pão que ela buscava na padaria ao lado.

E como era bom acordar com o mimo da vovó! E no meu caso, esse mimo era duplo, pois minha bisavó também morava conosco. E que saudades eu sinto dela! Dormíamos no mesmo quarto, pois ela, do mesmo modo que eu, morria de medo de escuro e apenas nós conseguíamos dormir com a luz acessa.

Todas as noites, deitada na cama ao lado, ela me contava diversas histórias. Eram reis, rainhas, castelos e por ai vai... e eu adormecia nesse mundo encantado.

Nas noites de sexta e domingo, eu ia à igreja. Minha avó me arrumava feito uma princesa: sapatos brancos, meia de renda, vestido rodado e cachos nos cabelos. Na metade do culto eu já estava dormindo... era carregada até em casa. Admito que ás vezes eu fingia que dormia só para sentir o conforto do colo da minha avó.

Algumas noites, quando eu não ia à igreja, ficávamos eu e minha bisavó em casa. Íamos para a cozinha e o cardápio era sempre o mesmo: mingau de fubá com leite em pó. O melhor mingau que já tomei! Todas as vezes ela me explicava atenciosamente como prepará-lo, mas confesso que até hoje não sei.

Meus primos sempre tiveram certo ciúme, pois eu sempre fui a mais mimada da vovó. Ela sempre me dava uma boneca, um vestido novo... passava horas penteando meu cabelo. Mas não era só mimo...

Minha molequice me rendia diversos castigos. Eram fugas para as casas de minhas amigas e minha avó ia atrás com um chinelo na mão. Minha bisavó brigava com ela pelas chineladas que ela me dava, mas com o tempo a dor passava e lá estava eu fugindo outra vez.

Na escola, eu fui a menina acanhada que sentava no canto da sala. Com o cabelo preso e cabisbaixa. As professoras gostavam de mim, me elogiavam e sempre que alguma visita ia à casa da minha avó, ela repetia todos os elogios passados pelas professoras.

Até que um dia, um menino da minha sala disse que gostava de mim. Mas eu sempre muito tímida, não lhe dava chance. Certo dia ele me deu um colar. Foi o primeiro presente que ganhei de um garoto e a paixão inocente floresceu. Minha avó achava aquilo um absurdo e me trocou de escola.

O tempo foi passando e eu fui crescendo... por fim, dormir na igreja me rendia um belo beliscão. O colo da vó não me cabe mais, minha bisa foi morar com papai do céu e levou a receita do mais gostoso mingau.

Hoje, quando olho no espelho, percebo o quanto mudei. Os cachos sumiram, os vestidos foram substituídos pelo meu velho jeans e no lugar dos sapatos brancos hoje se encontram um sujo All Star. Não durmo mais com a luz acessa. As bonecas na estante deram lugar à livros e mais livros. Até hoje freqüento a casa da minha vó, sempre que vou lá ela arruma meu cabelo de “uma maneira correta para uma moça” segundo ela.

Bons e velhos tempos, como dizem. Só rezo para jamais deixar a criança dentro de mim morrer.

Emily Soares
Enviado por Emily Soares em 17/09/2011
Código do texto: T3225350
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