Tempos de Escola

A madrinha com certeza tinha uma certa afinidade por mim. Me devolveu para a Doiê e ficou com o coração na mão. Dizia sempre que quando fosse o momento de ir pra escola me levaria para cuidar dos meus estudos. Sempre enfatizando que eu deveria ser boazinha, obediente. Demorou, mas assim foi. Eis-me novamente na casa da madrinha. Mais contida, havia aprendido um pouco com as reviravoltas acontecidas na minha ainda pouca vida. Já estava com sete anos e meio, quando ela me levou e me matriculou no primeiro ano da escola. Na época não tinha todo esse esquema que há hoje: bI, bII, pré I, pré II, etc, etc... Tive problemas com escola, mas gostava de estudar. De manhã escola, a tarde passava toda estudando. No outro dia a professora Cida tomava lição de todos os alunos. A primeira professora a gente nunca esquece. E ela era ótima. Eu estudava, estudava e no dia seguinte, nada. A professora Cida tomava a lição e eu já não sabia mais nada. Isso foi quase o semestre todo. Até que a madrinha preocupada resolveu me levar ao médico. Santo médico! Passou uma receitinha de "M..." e tudo se resolveu. Parecia milagre. Comecei a passar de liçao todos os dias. A professora vendo o desempenho e o meu atraso diante dos outros colegas de classe resolveu passar duas lições por dia. E aí deslanchei de vez, alcancei o nível da turma e até terminei a cartilha antes de muitos outros colegas.

E o ano com louvor. A nota mais alta da sala. Houve premiação para o aluno que passou de ano em primeiro lugar. Acontece que houve um empate técnico. Uma outra aluna tirou nota igual à minha. Houve também uma cerimônia de encerramento das aulas e nela a premiação do dos melhores alunos de cada sala. Mas eu não fui premiada. Disseram que somente uma aluna de cada turma poderia ser premiada. E eu não fui a escolhida.

Em casa me falaram várias coisas:

- É porque ela é riquinha.

- É porque voce é pretinha, mas não liga não, voce conseguiu a mesma nota que ela, vai ver até foi maior.

Também, quem manda essa menina feinha, pretinha, de cabelos crespos tirar uma nota tão alta! Que atrevimento!

Pois a tal menininha nem entendia muito bem isso. Só estava feliz com o seu rendimento. Ademais, por conta dele havia ganho a primeira boneca da sua vida. Ela nunca ligara muito para bonecas. Aquela porém tinha um saborzinho especial. Fora uma conquista, um mérito e se chamava Lindinha. Do alto dos seus oito anos e meio preservou muito bem essa boneca, até... até... bem, disso falamos depois.

Nilamaria
Enviado por Nilamaria em 19/01/2012
Reeditado em 04/04/2012
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