AS LIÇÕES DE CHICO ANYSIO, O MESTRE DO HUMOR

Dizer que ele foi o maior ator comediante que o Brasil já teve, não é qualquer exagero. Seus mais de 200 personagens ficarão eternizados na história do humor e na memória de quem foi contemporâneo daquele cearense de Maranguape que cumpriu seus quase 81 anos realizando o que mais gostava de fazer: humor, filhos, casar, pintar e compor musicas. Se tivesse tido tempo, teria feito mais. Teria preenchido o mundo com mais riso. Isso ele sabia fazer muito bem. Até quando casou-se com a ministra da Economia do Governo Collor, Zélia Cardoso de Mello – aquela que, em março de 1990, determinou que saldos em contas bancárias acima de 50 mil cruzados novos fossem bloqueados por 18 meses. O que queria de fato o humorista? Fazer brotar um sorriso na carantonha da enfezada ministra? Acrescentar uma pitada de bom humor na desgraça de milhões de brasileiros que não acharam piada alguma na intempestiva medida econômica, nem na repentina paixão do humorista? Vai-se lá entender a alma humana. Não importa se foi piada ou não, do casamento do Chico com Zélia – todo mundo riu e nasceram dois filhos. Chico provou que o diabo não era tão feio como se pintava – ao menos sabia fazer filhos.

Chico fez da vida o que quis. Até fumou feito um louco por 30 anos, coisa de que mais se arrependeu. Mas não foi só ele. Naquela época (até o início dos anos 70), médicos apareciam em comercias na televisão e no rádio fumando cigarros e dizendo que eram uma maravilha. Que aliviavam o estresse e davam alívio aos pulmões. A pneumonia veio a galope. Foi mais uma das lições que o artista deixou: não é bom fumar e isso pode destruir a saúde com ou sem alegria e também que essa prática não é uma piada. É uma tragédia.

Mas, e se ele tivesse vivido mais? E se ele vivesse mais 20, 30 ou 50 anos? Certamente continuaria produzindo mais (talvez não mais filhos) mas quem se importa? Estaria ali dando ideias, sugestões, conselhos e fazendo rir e pensar com sua mente aquilina, ágil e sempre pronta para boas respostas. Mas foram 81 anos de vida. Vida bem vivida. Que digam os 8 filhos, 6 esposas, milhares de atores que com ele conviveram e milhões de espectadores e ouvintes espalhados pelo mundo, falantes da língua brasileira. Chico, como tantos outros no panteão dos deuses, será imortal. Nosso Charles Chaplin tupiniquim será inesquecível. Dizem que ele não era tão bem humorado no dia a dia, mas era conhecido por sua generosidade – o desejo de ajudar aos amigos. Deu oportunidade a quem merecia, não fazia favores, ajudava a quem realmente tinha valor. Esta é uma outra lição do mestre.

Chico também mostrou que nunca é tarde para ser feliz. Seus casamentos foram um sucesso até o dia em que poderiam ser um fracasso. Sua mais recente esposa falava bem dele e vice-versa. Para ele, Malga Di Paula, era tudo.. amiga, mãe, filha, professora, aluna, amante, namorada... enfim, nessa fase da vida. ele ainda foi capaz de conquistar o amor de uma mulher que herdará o legado de um homem de bem, como ele foi.

Finalmente, Chico declaradamente ateu, recebeu milhares de mensagens de pessoas cristãs amaldiçoando-o e acusando-o de ingrato a Deus. Chico, inteligentemente, no seu Blog da Globo, respondeu a todos dizendo que “os perdoava em nome de Deus ou de qualquer outra coisa possível..” Uma lição de tolerância e paciência aos intolerantes. Quando uma jornalista o perguntou se ele tinha medo de morrer, ele, uma vez mais, surpreendeu e deixou uma das suas últimas pérolas de sabedoria e bom humor: “ Não sinto medo, sinto pena..”

Nós também Chico, sentimos pena de você ter vivido tão pouco mas ter deixado tanto. Sentimos pena por perder você, que talvez quisesse fazer mais piadas, ajudar a outras pessoas e até fazer mais filhos.

(*) Mathias Gonzalez é psicólogo e escritor.

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MGonzalez
Enviado por MGonzalez em 24/03/2012
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