MIL E UMA ANAS EM UMA ANA SÓ

ANA MENINA, brinca com barro, herança da mãe, logo se anima,

Corre criança, faz panelinha, boi, cavalo e santo de lapinha,

Na lida da mãe, aprende a crescer, logo decide sua história escrever.

Nasce em Filomena, santa sofredora, igual sina foi merecedora,

Se não foi mártir, foi nordestina, que nasce pra sofrer e sofre pra viver.

ANA MOÇA, logo se casou, e o oficio da mãe copiou,

Por marido toma um pedreiro, e com duas filhas enviuvou,

Não se abate com o destino, sai pelo mundo encarando o tino.

Migrante, busca melhoria, faz do Piauí sua moradia,

E lá conhece Seu José, amor com que seus dias terminaria.

ANA MULHER, desbravadora, coração aberto, mediadora,

Vê sua profissão se esvair, louçeira já não dá, logo tem que decidir

Pra outras terras vai partir, o sustento garantir.

De lá em busca do rio, quem sabe com qual brio,

Chega a Petrolina, terra dos impossíveis, mudança repentina.

ANA ARTISTA, quem diria, a Leopoldina viraria,

de louçeira a ceramista, até parece amostração,

Ana do cego não é mais, é das carrancas, é louvação.

Do galpão a Venezinha, brasileira meu recife,

O mundo todo agora sabe, conhece a sua grife.

ANA DAS CARRANCAS, quem não ouviu falar, com certeza não viveu,

Não pôde testemunhar, a nobreza da mulher

Que era negra com alma de barro, como ela gostava de afirmar.

Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco, Cavaleiro do Mérito Cultural,

Título de Cidadã Petrolinense, recebeu da Câmara Municipal.

ANA ETERNA, vencedora, hoje nome de galeria, lugar de cultura e arte,

Tá com Deus, toda contente, pois na terra fez sua parte,

Lição de vida, exemplo a seguir, na certeza de que assim outros possam não desistir.

Será difícil esquecer, quem muito fez, pouco pediu ou incomodou,

Basta um caco da orelha de uma carranca, pra lembrar, que por aqui Ana passou.

Euclides Marques
Enviado por Euclides Marques em 14/09/2012
Código do texto: T3881393
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