Um laboratório de costumes

Minha casa de infância – um laboratório de costumes

“A casa era uma casa brasileira, sim

[...]. A casa já não está mais lá

Está dentro de mim.

[...]. Queimando o dia inteiro a raiz que há em mim”.

(Geraldo Azevedo).

Minha casa era um laboratório de costumes.

Lá, se amava, enquanto a vida corria (e escorria).

Lá..., o tudo junto e misturado era a vida. Porém, não perdido.

Era um lugar de doces verdades e mentiras, também.

Perdido na noite escura, o macho encarnado na voz do meu avô,

Enfrentava feras terríveis e onças ferozes.

Para escapar das terríveis feras da sua imaginação, ludibriava com palavras a verdade moral com histórias de fuga de terríveis – frutos de relações incestuosas entre “cumpadres e cumadres” e pecaminosas entre is casais amancebados.

Lugar benfazejo e malediscente, também.

Quando na boca da noite,

Aqueles meninos míticos - José, Antônio, Moacir e Rossi – reais na época,

Entravam pé – ante - pé para beber das gotas de palavras mais do que do café da minha avó,

Palavras do bem se ouviam.

O positivo das pessoas e de suas ações,

O realizador,

As aventuras de sorte se faziam contar.

Os descendentes do véio di Mell – Moisés, Zé di Mell, Chagas Targinho vinha pra roda:

Moisés di Mell...

Bem sucedido, quase “praciano”, com os filhos estudando em colégios internos.

Ou,o parcimonioso Zé di Mell – quase o mais bem sucedido para os padrões da região,

Um verdadeiro calango, tamanha era a adaptação.

Chagas di Mell - a tenacidade: muitos filhos, dois casamentos e, podia sustentar bem a todos.

Agraciados por Deus.

Eu, uma Furtadinha legítima - descendência direta de João Furtado e Joana de Mell,

Sentada na sala, ouvia, pensava e sentia.

Sem qualquer declaração sentia, ser Mell, um pouco também,

Acho que os Mell, também se sentiam dessa forma... Mistura.

Quem ali, não se sentia um pouco assim?

Tamanhos eram os cruzamentos entre as famílias.

Dos Furtados, palavras de bem, também, se ouvia:

Antônio e João Furtados,

Nas palavras de boca – de – noite na casa da minha infância,

Um, era marco de tradição, pouco realizadora ; outro, de realização memso.

Sebastião e Lourenço Furtados sucesso e esperteza nos negócios.

Targino Furtado, como o Zé de Mell um calango parcimonioso,

Tal era a adaptação.

Sentada na sala eu ouvia, pensava e sentia.

Orgulho de ser Furtado,

Vontade de ser Mell.

Admiração ! Rota para descobrir o caminho de também estudar,

Ler, escrever, contar.

... talvez bordar, costurar,

Se isso não me impedisse de mudar a minha condição de mulher,

Que paria e obedecia ao marido, até com risco para a própria vida,

Pois que parir era uma cina.

Dispersão!!....

Vim (me) embora para o Rio de Janeiro.

De longe, muitos anos, se passando.

As coisas mudaram.

Anos depois, sou devolvida a esse lugar de ouvir, pensar e sentir pela “Word Wide Web”.

Outra sala de conversa, onde se ouve, pensa e sente e,

Principalmente, ler e ver.

Sou devolvida a esse lugar de ouvir, pensar e sentir na Web,

Principalmente, pelas falas de Carlos David.

Um Morais e também do Mell e, também Furtado,

Identificado como Furtado.

Primo querido e não conhecido.

Por ele, vi que todos os Mellos viraram Furtados, somente.

Vi que nessa condição de Furtados,

Todos romperam os grilhões da natureza e dos costumes.

Vi que somos não somente, calangos do sertão, bem adaptados.

Somos metamorfoses...

Podemos ser tigres na floresta das cidades grandes,

Corujas para adquirir sabedorias,

Pinguins para viver no gelo...

Porém, a não ser pelas palavras do Joaquim do Manoel, que dizem que os cabaceiras tomaram conta de Reruitaba, não tenho qualquer outro indício dos modos como todos os Mellos viraram Furtados e os Furtados não viraram Mello.

Que caminhos os costumes tomaram para as diversas rotas familiares se tornarem a grande e larga estrada - um único caminho, chamado (a) Furtado.

Francisca de Assis Rocha Alves
Enviado por Francisca de Assis Rocha Alves em 02/03/2013
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