PAULO CALÇADE

( Perfil)

O LANCE SOB O OLHAR DA REGRA

Noventa minutos de disputa de bola, suor, veias saltitando os olhos, nervos a flor da pele, expressões intangíveis pulsando a paixão de um povo e no meio disso tudo uma voz firme e calma, atingindo a altura rasa do equilibro entre as emoções e as regras, domada pela vida acadêmica de um paulista da capital, conhecido no meio jornalístico como, Paulo Calçade, ou simplesmente por Calçade.

Nascido no mesmo dia que é instalado em Brasília o Conselho Nacional de Reforma Agrária, mas é provável que poucos se lembrem desse acontecimento e raríssimos são os que se situaram no dia e no ano certo, então talvez se lembrem do ano da renuncia de Tancredo ao cargo de primeiro ministro, os mais antigos e salve os amantes de história provavelmente já tenha se situado e possivelmente lembrado que nesse mesmo ano os americanos tentaram invadir a Baía dos Porcos dando início ao bloqueio comercial de Cuba pelos norte-americanos.

Mas é fato que a história não é a linguagem do brasileiro, antes o futebol, língua que uni os povos e as eras, então é certo que uma única pista e não só o brasileiro, mas porque não dizer, os estrangeiros saberão a data que nasceu Calçade, o mesmo ano que o ilustre Mané Garricha encantou o mundo com atuações brilhantes e dribles desconcertantes, ignorando qualquer desvantagem por ter as pernas tortas, liderou o time brasileiro, surpreendeu o mundo e junto com os demais jogadores da seleção brasileira de futebol conquistou o segundo título mundial (Copa) em território chinelo.

Calçade nasceu há exatos quatro meses e vinte nove dias em que o Brasil ganhou de 3x1 da Tchecoslováquia. A partida foi realizada em 7 de julho às 14h30min, no Estádio Nacional do Chile, o arbitro foi o soviético Nikolay Latyshev. Por volta das 14h45min o Brasil levou um gol do Tcheco Josef Masopust.

O que teria narrado Calçade no momento que a bola balançou as redes do time brasileiro? Será que questionaria a legitimidade do gol, criando em volta do assunto uma polêmica? Não! O gol foi além de belo legitimo. Sem sombras de duvidas ele usaria uma de suas frases polidas e bem articuladas sobre uma lógica impecável assim como sua maneira de se vestir e arrumar os cabelos, sobre um olhar leve e concentrado, dentro das curvas de um sorriso fácil:

“Eles sabem o que precisam fazer para mudar o placar, muita pressão, não vai ser fácil. O time adversário joga uma ótima partida.

Evidentemente a regra é clara, foi gol legitimo. Temos o lance e a regra e o lance se enquadra na regra é simples. É um fato concreto, tá escrito!”

Suas palavras revelam o tom da sua conversa, ou melhor, a defesa de uma narração de futebol, onde a cultura e as regras norteiam o comentário.

Para Paulo Ricardo Calçade o jornalista deve sempre alimentar a curiosidade, se aprofundar nas regras, não cometer segundo ele, o desserviço de comentar o obvio, mas, dá vida e acrescentar conteúdo mesmo onde ninguém enxergue, porque para ele a fidelidade no esporte é absoluta e o torcedor, tem o direito de aprender e entender as regras do jogo.

Perto dos cinco meses de vida, Calçade foi testemunha viva mesmo que ainda bebe, da virada do Brasil, com gols de Amarildo aos 17 minutos do primeiro, aos 24 minutos do segundo tempo Zito vira o jogo e aos 35minutos, ou seja, a 5 minutos do juiz apitar o fim do jogo Váva crava o placar final Brasil 3x1 sobre a Tchecoslováquia, de virada!

Comentarista, jornalista, professor, pai, marido, o menino Roberto Ricardo Calçade, nasceu numa quinta-feira do dia 15, dia que é sempre feriado, e a importância do feriado, a Proclamação da Republica, então tão rodeado de datas e fatos culturais, Calçade defende a narração do esporte como fonte de conhecimento.

ABRIL DE 2013