PAI
Um olhar fúnebre, enquanto a terra suja cobria meu pai. Ele fora um grande homem. Era pedra que pelo impacto da dura trajetória despiu fios de seu interior brilhante. Forte e intocável, máximo em suas ações. Percorreu muitas ruas a pé e não se cansou. Eu podia ouvir seu grito de desespero por não poder se mostrar por completo.
Somos assim, passamos a vida inteira esperando e esperando. Bem no fundo sabemos! Há alguma coisa que precisamos dizer e não dizemos. A luz quer percorrer nosso corpo, mas nos fechamos como se fossemos uma criança aborrecida. Quando morremos falamos tudo de uma vez, e o aglomerado de palavras se perde no ar como o vapor d'àgua. Deixa apenas um leve perfume que toca profundamente. Sufocamos nossa própria alma que enfim liberta-se, mas para a vida já muito tarde, colhemos pouco dela.