Minha História (parte 1 - Saga De Um Solitário)

Todo aquele que perdeu seu Coração um dia, merece receber uma nova

vida. O Amor, dentre tantas outras milhares, também serve para trazer de

volta a energia vital que em algum momento se afogou em lágrimas.

É pensando neste milagre que dançarei essas palavras nesta História.

A muito tempo atrás eu tive um encontro, talvez precoce, com o que

muitos chamam de amor. Pelo que muito se ouvia falar, eu de fato

acreditava senti-lo; e quem negaria tal. A gente fica muito mais feliz

quando tem alguém para nos amar e para concomitantemente ser amado por

nós.

O que aquele rapaz não sabia é que uma árvore verde, que tenta

gerar frutos maiores que suas raízes, não se mantém num furacão

violento. Mas é assim que as coisas acontecem, foi comigo, é com muitos

e, muito provavelmente, será com vários. Este furacão é muito mais

violento do que essas meras palavras exprimem e devastam além do que a

gente pode prever.

Eu achei, por inúmeras vezes, que a ferida deixada pelos ventos do

"adeus" jamais cicatrizaria. Eu chorava e nesse momento eu desejava

chorar mais do que o meu corpo podia suportar, desejando inundar meu

quarto e, num suicídio desesperador da memória, livrar meu já falecido Coração

desta tristeza profunda. Desejos inúteis, mente corajosa. Mas esta

aparentemente incurável chaga aos poucos iria sendo aliviada, bastante

vagarosamente. Parentes ajudam, quando não tentam ajudar; amigos

confortam, quando não tentam confortar. É uma nova estrada, dividida

entre guardar a lembrança dos sorrisos jamais ridos iguais e manter a

lesão não desaparecida por completa da saudade ou banir da memória os

momentos que deram sentido a sua vida na Terra e, sorte de quem

conseguir, curar uma dor sem nem deixar cicatriz. Certamente esta

segunda opção não seria Amor.

Anos e anos se passaram. O mocinho agora jaz crescido, um jovem

consciente, realista, ou pelo menos acha que o é, segue sua nova

biografia repleta de prazeres efêmeros, curtições instantâneas, risos e

gargalhadas sem graça. Esse novo homem é um viajante de um cruzeiro

romântico pelo oceano mais imenso e belo, porém, é um passageiro forçado

pelos ponteiros do relógio, escondido no porão a deixar passar

despercebido as maravilhas desta viagem única.

Eu me divirto sim, até curto boa parte das festinhas que me

convidam. Entretanto, falta algo que eu sei, mas não assumo. Estou bem

assim e não preciso me arriscar a ter que superar tudo novamente.

Covarde!

Foi assim por mais anos do que esse "anos e anos" que eu havia

falado. Eu, raramente mesmo, lembrava do que senti um dia, porém, não

sabia se eu sentia saudade ou alívio. Ok, pra ser sincero enfim, eu

sentia saudade sim; acho que quem nega tanto, no fundo tem cravado na

garganta o suspiro da saudade daquele sentimento que te faz respirar

ares de paixão.

Eu tinha medo e o confundia com amadurecimento. Agora está para além

do nosso querer. O Amor te tocou um dia, não adianta mais procurá-lo nas

fotografias ou cartas antigas. Aquele amor não voltará jamais. Eu "amei"

outras vezes, sem dizer EU TE AMO; não sei ao certo se era amor ou

fortes paixões. Só sei que, de algum jeito, mais cedo ou mais tarde, eu

ficava sabendo que não era Amor. Teria que ser um sentimento muito mais

forte do que aquele de outrora para me sensibilizar.

Talvez eu possa estar sendo pessimista, mas é assim que é quando não

se ama. As sensações "balão de gás hélio" não são lançadas ao céu.

Sempre as trago para casa, curto um pouco da lembrança da noite, até

brinco com o balão pela madrugada, mas quando amanhece a sensação está

no chão, simplesmente evaporada. Eu sempre fui um cara sorridente, muito

aparentemente feliz; eu vivia como uma pessoa normal. "uma pessoa

normal", que infelicidade é.

Meus passos pelas ruas, tão silenciosos, com ouvidos atentos a bela

voz que acordaria um coração cansado de dormir. Encontrei por vezes esta

voz que chegou a cutucar meu dorminhoco, mas nada dele abrir os olhos.

Para minha infelicidade, descobri que ele estava morto, não dormindo

como eu pensava. A solidão foi tamanha que gerou em seu entorno uma

poderosa camada de gelo. Um ice Berg dentro do meu peito. O calor do

forte Sol não era capaz de derretê-lo; também os abraços de uma garota

apaixonada não o fazia derreter; nem meus próprios punhos, numa sede

ignorante por voltar a vida, conseguia quebrantá-lo. Este Coração estava

morto e eu, consequentemente, também estava, a voar sem destino como uma

folha seca ao vento.

A sábia Ciência chamaria essa minha "vida" de rotina; eu,

inteligentemente, a chamo de ""zumvida"". Me superar nessa trajetória

era o que levava meu corpo exausto a ter um mínimo de alegria. Passar no

vestibular e receber os "parabéns!" de amigos, colegas, parentes traziam

um pedacinho da lembrança de como é estar vivo.

Não era isso que eu queria. Passar no concurso público, ingressar na

faculdade, ser "o cara" estava longe do meu real desejo. Como bem deve

imaginar, eu queria mesmo era Amar! Venhamos e convenhamos, dizem que o

Amor é cego; pois bem, eu também sou cego. Então, a tarefa de dois cegos

se encontrarem, um deles sendo também mudo e surdo, seria uma missão

impossível! Nem James Bond agarraria essa causa, seria demais para um

mortal. DEUS, este sim sabia, e sempre sabe, como resolver esse enigma

tão impossibilitado de ser concretizado.

Eu, impossibilitado biologicamente de enxergar, a cada passo ansioso

pelas ruas, me sentia ser observado pelo mais puro e lindo Olhar. Era

além de uma sensação, era também um gigante desejo de ser notado por

alguém. Trocando em miúdos, "alguém" não, Ela; ser observado por Ela.

Quem era ela? De onde era? Como ela era? Eu não sabia, jamais eu poderia

alcançar tal imaginação.

Os planos de DEUS são imensos, fogem da minha capacidade humana,

física e mental. O desespero batia em meu peito, o gelo esfriava minha

carne, e eu tinha que arrumar um jeito de encontrá-la ou de ela logo me

encontrar. Mas, repito, não dependia de mim, não dependia da minha

insistência em pedir, não dependia das minhas forçadas situações.

Esse meu "jeitinho sem vergonha" de parecer um "garanhão" não

resultava; as mulheres não me queriam, não me notavam, não permitiam que

eu as vissem. Era realmente como se eu estivesse blindado para os

olhares das mulheres simples; eu não as via, nem elas tinham a liberdade

de vislumbrar esta terra fértil. E era além disso, as simples que

conseguiam me enxergar não possuíam a coragem de falar. Eu estava mesmo

guardado e protegido dos efêmeros "relacionamentos estalares" que me

deixavam mais vazios do que antes. Eu já acreditava que meu destino

seria o frio de uma sombra.

Assim seguia a minha vida rasa; entre um piscar e outro, entre as

idas rotineiras de casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade,

da faculdade para a solidão do meu quarto. Eu passava por muita gente

diferente, de um modo cômico, gente que eu nunca "vi" em toda minha

existência! Eu era de todo mundo, eu achava ser de qualquer uma. Eu

estava disponível para amar, mas o Amor estava me fazendo de seu bobo.

Brincávamos diariamente de "cobra cega", um querendo se chocar contra o

outro. Eu não entendia que já estava sendo visto pela Luz dos Olhos

seus.

Às vezes a gente precisa de uma mãozinha do acaso; eu me desviei

muito de mim mesmo, deixei de ser EU. Minha personalidade se trancou

junto do meu defunto naquela grossa camada de gelo; eu não me reconhecia

mais. Os pedaços bons de mim eram desgastados a cada rodar dos pneus

daqueles ônibus que eu pegava. No meio de tantas brincadeiras para me

fazer rir, lá estava a escuridão me lembrando de que eu não era

realmente feliz. Felizmente, nenhuma sombra resiste ao toque da luz do

Sol.

Aquele parecia ser um dia comum, uma data apenas; sem importância

alguma no calendário brasileiro, não era dia santo, nem feriado, nem

memória de algum herói histórico. Só parecia, pois eu estava adentrando

na maior experiência que um ser podia passar. Assim foi, acordei cedo,

como de costume, não tomei café em casa; segui para o trabalho lá no

colégio Orlando Hungria, em Nilópolis (Rio de Janeiro). Eita cidade

histórica para a minha vida!

Não tenho muitas lembranças de como foi esse meu dia no ofício, mas

sei que as aulas não foram desgastantes. Cumpri meu horário normalmente

e em seguida dirigi-me ao ponto de ônibus para ir à rodoviária daquela

cidade. Lá chegando, andando a pensar no que eu faria ao adentrar em

casa naquela sexta-feira tão bonita e tão comum, toquei na lateral do

coletivo com a ponta de meus dedos rumo, não somente a porta, sem jamais

imaginar, ao reencontro do meu corpo com a Vida. Senti uma mão a segurar

meu braço e me conduzir, em silêncio, até a porta daquele carro e, antes

de eu subir no mesmo, finalmente ouvi a voz dela. Voz de quem? Não sei,

eu não sabia quem era, mas eu perguntei o nome. Diana... Diana, eu já

ouvira este nome, porém desta vez ele soou de forma mágica aos meus

ouvidos.

Trocamos poucas palavras, poucas informações a respeito de nós, e

logo me despedi para entrar no ônibus. Eu entrei, mas eu queria descer.

Minha mente, meu peito, meus sentidos estavam a me empurrar para fora do

ônibus, mas eu não reagi.

Eu não desci; o covarde não voltou ao oásis aonde havia aquela

mulher. Não demorou muito para o carro dar partida e seguir em seu

itinerário, me afastando do momento em que eu recebi um choque de

energia vital. Eu fui, eu tive medo, eu perdi a grande chance que jamais

eu teria igual. O acaso, o destino e a Autoria Divina já haviam modelado

minha história, mas na hora ninguém é capaz de saber.

Ainda no trajeto, daquela bendita rodoviária até a minha casa, ela

não saía da minha mente; tão viva e tão presente em mim. Depois desta

sexta, cuja eu faço questão de lembrar a data, dia 29 de Abril de 2001,

não satisfeito ainda faço referência ao horário, por volta das 13:30, eu

continuava a pensar naquela garota. Foi assim no sábado e foi assim no

domingo. Imaginei várias situações nas quais eu podia tentar encontrá-la

apenas com as poucas informações que eu sabia: Diana, faculdade de

Relações Internacionais, primeiro período, na Universidade Federal Rural

do Rio de Janeiro, coincidentemente, ou não, a mesma que eu curso a

faculdade de Ciências Sociais. Incomodado, impaciente, por estar

pensando tanto numa desconhecida, no domingo eu decidi parar com essa

loucura de idealizar uma garota que o meu Coração morto, não sei como,

veio a fantasiar.

Consumado. Acabou a ilusão e do meu pensamento ela sairá. Ilusão

minha. Para a minha grande surpresa, após esse desabafo de desistência,

ao logar no meu Orkut... Adivinhem vocês, quem havia me adicionado como

amigo? Ela, ninguém mais do que ela! Ao ler aquele nome "Diana" fiquei

estático, paralizado, sorri como um bobo, tremi como um medroso,

todavia, ainda não estava crente de que era aquela mulher da rodoviária;

eu precisava ter certeza de que eu não estava ficando louco, ou estava

iniciando a minha maior loucura.

A confirmação veio na descrição que ela fizera ao me adicionar: "Sou

eu, a garota da rodoviária". A garota da rodoviária, sim, era ela. Eu

poderia ousar dizer que eu "não vi mais nada na minha frente" a não ser

aquele instante comovente, surreal. Iniciava aqui, uma outra estrada, um

novo caminho com novas dúvidas, outros medos, novos riscos.

Um passarinho que esteve trancado numa gaiola a muito tempo, ao ver

a porta aberta, ele tem dúvidas, inseguranças, se deve ou não sair; se

este é ou não o seu destino. É medo da liberdade e da altura que este

pode chegar.

Maximiniano J. M. da Silva - quinta, 28 de Julho de 2011

Max Moraes
Enviado por Max Moraes em 05/12/2013
Código do texto: T4599953
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